Quarta feira da Décima Quarta Semana do Tempo Comum. O dia de ontem se foi, como marca do passado. O dia de hoje vem surgindo como proposta daquilo que ainda não é. O amanhã vai ser ainda outro dia. É assim que a vida vai sendo construída, tijolo por tijolo. A dinamicidade da história sendo construída com as utopias de quem nelas sonham, pisando o chão da realidade concreta do presente. Como dizia nosso bispo Pedro: “saber esperar, sabendo que o tempo não existe mais”.
Uma quarta feira que amanheceu mais triste para aqueles como eu, que acreditam na Educação Popular como passaporte para a desalienação. Um dos mentores dela, virou um ser encantado como estrela, no jardim pedagógico. O professor Carlos Rodrigues Brandão, virou um ancestral no dia de ontem (11/07), realizando a sua páscoa. A estas horas, de braços dados com Paulo Freire de um lado, e Rubem Alves de outro, contemplam o jardim dos saberes ancestrais, rindo às gargalhadas dos néscios alienados.
Coincidentemente, amanheci neste dia respirando os ares de Campinas, terra onde viveu Carlos Brandão, por longos anos, exercendo a sua cátedra de professor educador popular. Tive a felicidade de ser aluno seu, bebendo de seus saberes, que ultrapassavam as paredes da sala de aula. Repetia com frequência a frase na qual me inspirei para levar adiante meu projeto de vida:- “A felicidade está na maneira simples de levarmos a vida.”
Levar a vida como desafio de seguimento do Homem de Nazaré. Ser chamado e enviado é o principal desafio feito por Jesus ao seu discipulado. Jesus, que chama os seus discípulos e discípulas e os enviam em missão, como apóstolos das mesmas causas d’Ele. É desta forma que vemos hoje o texto bíblico proposto pelo Lecionário Litúrgico para o dia de hoje: o chamamento dos doze.
Todo o poder foi dado àqueles e àquelas a quem, livremente chamou: “expulsar os espíritos maus e de curar todo tipo de doença e enfermidade”. (Mt 10,1) Todavia, o final do texto de hoje resume bem quais seriam os destinatários primeiros deste envio: “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” (MT 10,6) Primeiro, Jesus prepara, ensina, orienta, instrui os seus e depois os envia, delegando-lhes plenos poderes para que dessem prosseguimento às mesmas ações suas.
Ser com e como Jesus à serviço das das causas “das ovelhas perdidas da Casa de Israel”. Aqueles descartados, que ninguém os quer ver e nada lhes quer dar. O seguidor de Jesus recebe d’Ele o mesmo poder: desalienar as pessoas (expulsar demônios) e libertá-las de todos os males (curar doenças). O núcleo primeiro, foram os doze apóstolos. Posteriormente, cada um e cada uma que faz a sua livre adesão à Jesus, passa a fazer parte de seu discipulado, empoderados para o desenvolvimento da missão de evangelizar e ser evangelizado.
A missão do seguidor não é anunciar a si mesmo, nem doutrinar as pessoas. A missão do discipulado é reunir as pessoas para seguirem a Jesus, o novo Pastor. Evangelizar mediante o anúncio do Reino com os sinais de sua presença no meio de nós. Tal missão vai acontecendo na medida em que a gratuidade do serviço se reveste de amorosidade, ternura e compaixão, alcançando a justiça e paz do Reino no aqui e agora da história. “Convertei-vos e crede no Evangelho, pois, o Reino de Deus está chegando!” (Mc 1,15)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.