O milagre da partilha

Mt 14,13-21

Há um velho ditado popular que diz o seguinte: “O pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada”. Podemos dizer que essa singela e profunda afirmação dos nossos antepassados sintetiza com muita simplicidade e sabedoria a mensagem do Evangelho deste domingo. A graça de Deus é providente e não desampara nenhum daqueles que encarnam o espírito de partilha e solidariedade de Jesus.

Neste domingo, a Liturgia da Palavra nos oferece o belíssimo relato da primeira multiplicação dos pães. O Evangelho começa com uma afirmação bastante significativa: Jesus sente compaixão pela multidão. (v. 14) Gosto da composição latina dessa palavra, cumpassio ou com patio, isto é, “padecer com”. Ter compaixão é sentir com o coração do outro. Essa observação de Mateus nos revela o sentimento de Deus pelo Seu povo. Ele não é indiferente nem está alheio aos seus problemas, mas conhece a história, os anseios e as pelejas da Sua gente. Por isso, Jesus não deixa o discípulos dispensarem a multidão. Pelo contrário. O Mestre cria uma oportunidade para destacar a responsabilidade e o compromisso do verdadeiro discípulo. (v. 16) A compaixão de Jesus deve encontrar um reflexo em cada um dos Seus seguidores. O verdadeiro discípulo do Senhor deve se solidarizar com cada pessoa em sua pequenez, carência e dor. Jesus se sensibiliza com aquela gente. A compaixão que O move é a mesma compaixão que pulsa no coração de Deus. Pai e Filho se sensibilizam profundamente com toda a obra da criação.

A multiplicação dos pães tem um significado muito forte na revelação do Messianismo de Jesus e do Projeto de Deus. Ela é sinal da fartura, da abundância e da plenitude do Reino. No Reino de Deus, não há espaço para carência, para injustiça e para a miséria. Contudo, Jesus não alimentou a multidão do nada, mas a partir dos cinco pães e dois peixes apresentados pelos discípulos. (v. 17) Aqui, encontramos uma grande lição do Mestre. Quando partilhamos o dom de nossas vidas, Deus o multiplica com Sua graça e o Reino acontece.  O milagre da partilha fez com que aqueles cinco pães e dois peixes fossem o suficiente para alimentar uma grande multidão faminta. (v. 21) Trata-se de um sinal profético. O messianismo de Jesus inaugura um novo tempo na história. Para participarmos da plenitude do Reino de Deus, precisamos ser generosos de coração. Não é possível participar do Reino de Deus com um coração indiferente. Cada gesto de amor, solidariedade e partilha é uma grande ação de graças por meio da qual Deus age e transforma o mundo.