O dia primeiro de maio é o dia do trabalhador, da trabalhadora. Esta data foi oficializada pelo presidente Arthur da Silva Bernardes (1922-1926) por meio do Decreto 4.859 de 26 de setembro de 1924. Todavia, nas décadas de 1930 e 1940, o presidente Getúlio Vargas utilizou o 1º de maio, para introduzir significativas mudanças e benefícios trabalhistas. Elaborou leis sobre o Salário Mínimo, e estabeleceu o reajuste anual, com intuito de suprir as necessidades básicas do trabalhador, tais como, alimentação, moradia, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e principalmente a previdência social. Mas o grande feito de Getúlio foi a criação da Justiça do Trabalho, voltada especificamente para resolver questões judiciais com relação aos trabalhos e aos direitos dos trabalhadores.
O Papa Pio XII, que teve o seu pontificado entre os anos de 1939-1958, instituiu em 1955 a festa de São José Operário. Quis oferecer ao trabalhador cristão um modelo e um protetor, estabelecendo São José, como protetor dos trabalhadores. Nosso bispo Pedro, poeta que é, já tratou de, num dos seus poemas mostrar-nos onde Jesus adquiriu a sua consciência de classe: “No ventre de Maria Deus se fez homem. Na carpintaria de José, se fez classe” (Pedro Casaldáliga)
Há pouco o que comemorar neste dia tão sagrado dos trabalhadores e trabalhadoras. As mulheres, então, nem se fala. Estudos nos mostram que, mesmo com uma pequena queda na desigualdade salarial de homens e mulheres entre os anos de 2012 e 2018, as mulheres ainda ganham, em média, 20,5% menos que os homens em todo o Brasil, considerando os mesmos trabalhos desenvolvidos por ambos. Em 2017, esta diferença salarial era de 21,7%, o que significa uma redução de 1,2 ponto percentual.
A via crucis da carreira dos trabalhadores brasileiros vem sendo deteriorada desde 2016. De lá para cá, os direitos trabalhistas adquiridos com a criação da CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas, também instituídas por Vargas, vem sendo sistematicamente negados. Na realidade, os trabalhadores tem sido literalmente assaltados a cada medida provisória criada pelos dois últimos governos. Como se diz aqui no sertão do Mato Grosso, “nós colocamos um cabrito para cuidar da nossa horta”. Ou seja, o Ministro da Economia, Paulo Guedes é o legitimo representante dos interesses dos banqueiros e dos donos do capital. E tome reforma!
O trabalho dignifica a pessoa humana. Pelo trabalho, a pessoa tira o seu sustento e o sustento dos seus. Não existe trabalho indigno. O que existe são relações trabalhistas indignas. A maior tristeza de uma pessoa, é quando ela está desempregada e, ao chegar em casa, vê os filhos passando necessidades, com fome, por exemplo. Talvez por isso que em umas de suas cartas, Paulo foi categórico: “O operário é digno do seu salário.” (1ª Tm 5,18)
Os dados recentes sobre trabalho não são nada bons. Já não eram antes desta pandemia. Tínhamos cerca de 13 milhões de desempregados. Estes dados, com certeza, são muito mais elevados no pós pandemia. Isso sem falar naqueles que exercem o seu trabalho na economia informal, sem carteira assinada e sem nenhum direito trabalhista que o salvaguarde. Mas o próprio capitalismo trabalha com a hipótese de que deve haver o desemprego. Aquilo que Marx chama de “Exercito de Reserva.” Assim, é melhor para os donos do capital para fazer o rodízio dos desempregados, pagando um salário cada vez mais irrisório. Finalizo com uma frase bastante conhecida de Simone de Beauvoir: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.” Muitos dos nossos trabalhadores ainda pensam com a cabeça do opressor.