Evangelho Lc 7,36-50

O episódio da pecadora perdoada, que só se encontra no Evangelho de Lucas (7, 36-50), sempre inquietou os estudiosos: os gestos da prostituta (v. 38) provocaram o perdão de Jesus, ou são sinais de gratidão pelo perdão recebido? A maioria dos estudiosos crê que a pecadora agiu assim porque percebeu em Jesus a misericórdia do Deus que perdoa. De fato, o amor de Deus precede o amor humano. Deus ama, e por isso, perdoa. Nós porque nos sentimos perdoados, respondemos com gestos de amor e gratidão.

De fato, o programa libertador de Jesus, consiste, entre outras coisas em proclamar “o ano de graça do Senhor” (Cf. 4,19) para os pobres e marginalizados. Além disso, a misericórdia é a síntese do ‘sermão da planície” (6, 20-49). Em Lc 7, 34 Jesus é acusado de ser comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores. Em base a esses dados, podemos crer que a prostituta sentiu que algo de novo estava acontecendo em sua vida por causa da prática de Jesus.

Dois hóspedes estranhos

O fariseu que convida Jesus para uma refeição é uma pessoa influente na cidade. Por ser fariseu (palavra que significa “separado”), adquiriu status de piedoso e cumpridor da lei. Em circunstancias normais, jamais teria admitido a presença de uma prostituta dentro do seu lar, pois ela é pessoa ritualmente impura. É portanto hóspede indesejada.

O hóspede desejado é Jesus. Mas o fariseu se escandaliza pelo fato de o Messias deixar tocar, perfumar e beijar por quem fazia dessa “arte” seu ganha pão.  Para o fariseu Jesus estaria aceitando o jogo perigoso da prostituta, entendendo o gesto dela como sedução descarada.  Dois hóspedes haviam entrado em sua casa, cada qual com sua fama. Um era o profeta; o outro, a prostituta; ele, convidado; ela, nem sequer tolerada, mas “convidada”, pela prática de Jesus, a experimentar o amor do Pai.

Naquele tempo era costume, durante os banquetes, propor enigmas para distração dos convidados e das pessoas que, embora não fossem convidadas, apareciam para “apreciar” o grande acontecimento.

O fariseu se descuidara dos principais gestos de acolhida: oferecer água para banhar os pés, o beijo de boas-vindas, o óleo perfumado sobre a cabeça do hóspede. A prostituta fez tudo isso porque “acolheu” em sua vida aquele que manifesta a misericórdia de Deus e não discrimina as pessoas. O que ela está fazendo são gestos de gratidão pelo fato de Jesus ter –se solidarizado com os marginalizados e pecadores convivendo com eles.