Iniciamos hoje mais uma quarta feira que ainda temos uma brisa fria pela manhã. Confesso que nos muitos anos que aqui já estou, nunca vi clima semelhante a este de agora. O vento sopra gelado sobre nós. Só o tempo de o sol nascer para o dia quente voltar a sua normalidade. Como dizem os mais velhos por aqui, “o dia está amanhecendo ‘fri’.” Nada perto das temperaturas baixas em boa parte das cidades do sul do país. Bem que os gaúchos que por aqui moram, gostariam que fosse ao menos parecido com o que já viveram em sua terra natal.
Os dias vão passando e as barbaridades vão também acontecendo. Quando se pensa que já vimos de tudo no atual governo, sempre há uma nova efeméride. Mais uma vez, o ministro da educação pisou feio na bola. Depois de dizer que a universidade deveria ser para poucos, agora saiu com pérola de que “no ‘inclusivismo’, crianças com deficiência atrapalhavam o aprendizado de outros alunos sem a mesma condição. Os motivos que faziam isso acontecer, na sua visão, é que o professor, a professora não tem equipe, não tem conhecimento para dar a ela atenção especial”. Mais uma vez, perdeu a grande chance de ficar calado. Como se diz na minha terra natal, “desgraça pouca é bobagem.”
O “sinistro da educação”, como está sendo chamado nas redes digitais, além de dar mostras de nada conhecer sobre educação, também pouco sabe da proposta de Jesus de Nazaré para os pobres e pequenos. Como pastor presbiteriano, teólogo que é, deveria ao menos ter maior intimidade com as causas de Jesus, que veio anunciar o Reino de Deus aos pequenos: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos (Lc 4, 18). Sem falar que a Constituição Federal de 1988 é explicita: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade…” (Art.5)
Mas, falemos de coisas boas. Nem tudo é tragedia nesta nossa pátria amada salve, salve. Neste ano de 2021, um grande homem de Deus, está completando 50 anos de vida sacerdotal. Estou falando do padre Benedito Ferraro. Ele que é filho de Valinhos, SP, mas que reside em Campinas, como padre assessor das CEBs e professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC-Campina, dentre tantas outras atividades suas, sempre ligadas ao meio popular e a formação. Para nossa felicidade, faz parte da diretoria do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP) e também nos ajuda aqui na Escola de Teologia da Prelazia de São Félix do Araguaia. Parabéns, padre Ferraro, pela sua fidelidade e pelos seus longos anos dedicados à Igreja dos pobres!
O sacerdócio do padre Ferraro nasceu junto com a Prelazia de São Félix. Este talvez tenha sido um dos motivos pela sua “amizade sincera” com o nosso bispo Pedro. Neste ano também, a nossa prelazia está comemorando bodas de ouro. “Uma Igreja da Amazônia em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social”, primeira carta pastoral, escrita sob a batuta do bispo Pedro, completa 50 anos neste ano. Uma carta profética, dando nome aos “bois”, com Pedro dizendo a todos e todas o porquê, tinha aceitado a ser ordenado bispo desta Igreja, para desespero dos militares no poder e os pecuaristas que espalhavam o terror sobre esta região esquecida do Brasil. Com esta carta pastoral, “O Vale dos Esquecidos”, como era chamado este recanto do Brasil, ganhou visibilidade, não somente nacional, mas mundial. Não era ainda o tempo das facilidades das redes sociais, na divulgação das notícias, mas Pedro se encarregou de fazer com que, esta carta ganhasse o mundo, ao ponto dos militares se organizarem para expulsar do país aquele “bispo vermelho”. Teriam conseguido tal intento, não fosse a intervenção decisiva do saudoso Papa Paulo VI.
Também neste mês de agosto de 2021, realizamos entre nós a Semana Pedro Casaldáliga, aproveitando o ensejo do primeiro ano da páscoa de Pedro. Por esta ocasião, foi lançada a Carta Pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia, à luz da sua primeira carta pastoral. Uma carta redigida à várias mãos, inclusive com a participação daquelas pessoas que passaram por aqui e ainda mantém um compromisso histórico com a caminhada desta Igreja. Os tempos são outros. Nem a realidade sócio-político-econômica não é mais a mesma e nem a Igreja também. De uma coisa estamos certos, o latifúndio, denunciado há 50 anos, está transvestido no agronegócio que, com o seu agroveneno, segue matando tudo a sua volta, a despeito de produzir para a exportação. Que venham outros 50 anos e, que esta Igreja, seja fiel ao legado do profeta dos pobres do Araguaia! Pedro vive!