“Igreja e Internet” e “Ética na Internet”

A reflexão sobre os aspectos éticos na comunicação, em nosso contexto cultural, social, político, econômico e religioso, é uma necessidade constante. O momento em que estamos imersos, desafia-nos a buscar “soluções” para as crises de comportamento que se apresentam frente ao paradoxo formado pelas “soluções” técnicas dos Meios de Comunicação Social (MCS) no progresso da história humana.

Em tempos de pandemia e aparecimento de tantas fake news, nossa reflexão se encontra fundamento neste desafio paradoxal e no gosto pessoal pelo estudo da ética. O aspecto ético em relação aos MCS pode ser percebido em vários momentos da História da Igreja Católica, desde o instante em que ela se abriu para esta realidade criativa dos tempos modernos. Dentre os muitos meios de comunicação, analisaremos a Internet, unicamente sob o ponto de vista ético, a partir da leitura de dois documentos eclesiásticos que são complementares e inseparáveis: Igreja e Internet e Ética na Internet.

Nossa colocação levantará algumas preocupações e recomendações sob a perspectiva católica, a respeito da Internet, como ponto de partida para a participação da Igreja no diálogo com outros setores da sociedade: a Internet está sempre voltada para a prática do bem comum, a solidariedade internacional? Ela visa o amor, a justiça, a paz? Ou promove exclusão, divisões, conflitos, guerras? E ainda, problemáticas como a privacidade, a segurança e a credibilidade dos dados, direitos autorais e a lei de tutela da propriedade intelectual, a pornografia, os sites que instigam ao ódio, à disseminação de boatos e agora, mais do que nunca, as fake news.

Este pequeno texto consiste em defender a conscientização, à luz dos valores e princípios cristãos, para um uso adequado da Internet, que leve a pessoa humana à busca da verdade e do bem. Podemos afirmar o interesse da Igreja pela Internet, como algo constitutivo de uma particular expressão do seu antigo interesse pelos MCS. Um segundo aspecto é que, em relação à mensagem comunicada, ao processo de comunicação e às questões de estrutura e de sistema no campo da Internet, o princípio ético fundamental é a pessoa e a comunidade humana. Por fim, uma terceira abordagem: se a Igreja recomenda que o uso das novas tecnologias de informação e da Internet precisa ser ponderado e orientado por um compromisso decidido em prol da prática da solidariedade ao serviço do bem-comum, precisamos verificar até onde esta orientação da Igreja tem espaço, acolhida, eficácia e legitimidade no mundo atual.

Certo é que, sobretudo nestes tempos, não temos dúvida de que a missão da Igreja no mundo pela sua ação evangelizadora passa necessariamente pelos meios de comunicação, sobretudo a Internet. Neste reino de pluralidade e ambiguidade, é que estaremos buscando uma formação suficiente para reconhecer os elementos compatíveis e os incompatíveis com a fé cristã, porque é desastroso para a nossa vivência ética, “consumir” de forma impensada, tudo que encontramos neste meio.

A missão da Igreja passa necessariamente pelos MCS. Desde os seus albores, o cristianismo está às voltas com a comunicação. O Mestre Jesus apresentou-se como comunicador do Pai e seus discípulos espalharam-se pelo mundo para proclamar o Evangelho do Reino de Deus. A Igreja jamais se furtou à missão de comunicar a fé a todos os povos e por todos os meios. Os afrescos, esculturas, pinturas e até mesmo a arquitetura das antigas igrejas sempre estiveram a serviço da comunicação da fé. Portanto, podemos afirmar que a comunicação é parte constitutiva da Igreja. E todos os seus membros, devem estar predispostos a serem comunicadores do Evangelho, em decorrência do Batismo.

Contudo, com o aparecimento dos modernos meios eletrônicos de comunicação, surgiram também alguns questionamentos fundamentais da Instituição eclesial, frente aos inúmeros desafios trazidos por esta nova cultura. A partir daí, devemos nos fundamentar na palavra do Magistério Católico sobre a Internet, buscando ler nas orientações da Igreja, algumas recomendações para uso da Internet, de acordo com os princípios éticos e morais, que tem como fundamento a pessoa e a comunidade humana. Num estudo mais aprofundado, vemos a Internet como meio de evangelização, trazendo também os seus desafios. O chamado ciberespaço é o areópago atual, onde os cristãos são chamados a marcar presença, procurando conhecer a sua linguagem, suas articulações e estruturas, a fim de não se deixar contaminar pelos frutos antiéticos que estão presentes no mundo da web. Percebe-se, portanto, que não se pode negar a capacidade da Internet de comunicar informação religiosa e cristã, celebrações, formações e tantos outros momentos litúrgicos da fé cristã.

Por outro lado, podemos analisar também os desafios impostos por esta nova realidade; isto está presente nos últimos documentos do Pontifício Conselho para as comunicações Sociais, sobretudo esses citados acima que se preocupam com a ética, num contexto em que o comportamento humano se distancia da verdade e do bem. A palavra da Igreja sobre a ética na Internet se constitui numa apresentação deste novo meio de comunicação, com as suas características, oportunidades, desafios, isto é, os pontos positivos e também as sombras, e a partir de algumas áreas de preocupação sob vários pontos de vista, uma palavra de orientação e recomendação para os cristãos católicos, como também todas as pessoas de boa vontade que desejam viver de acordo com os valores humanos e cristãos.

Sendo assim, pode-se acentuar por fim que a Internet pode oferecer uma contribuição extremamente valiosa para a vida humana. E esta é a exortação da Igreja Católica: a Internet deve promover a prosperidade e a paz, o crescimento intelectual e estético, além da compreensão recíproca entre os povos e as nações em âmbito mundial. Ela pode também ajudar os homens e mulheres na sua busca permanente de compreenderem a si mesmos. Em todas as épocas, as pessoas formulam as mesmas interrogações fundamentais: Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Por que existe o mal? O que é que existirá depois da vida?

O discurso do documento Ética na Internet termina dizendo: Não cabe à Igreja impor respostas, mas pode proclamar ao mundo as respostas que ela mesmo recebeu; e tanto hoje, como sempre, a resposta satisfatória às mais profundas interrogações da vida é Jesus Cristo, que manifesta perfeitamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sublimidade da sua vocação. E ao refletir sobre a Internet, recordamos que Cristo é o “protótipo da comunicação”, a norma e o modelo da abordagem da comunicação, assumida pela Igreja, assim como do conteúdo que a Igreja tem o dever de comunicar e fazer com o que o seu discurso tenha uma eficácia concreta e sua mensagem chegue a todos os cristãos católicos.

Para refletir mais, leia:

PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Igreja e Internet. São Paulo: Paulinas, 2002.

PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Ética na Internet. São Paulo: Paulinas, 2002.