Sétimo domingo do tempo comum. Domingo da alegria, da convivência familiar. Momento daqueles trabalhadores que ainda possuem o seu trabalho, descansar. Dia que nos voltamos mais diretamente para as nossas comunidades, para celebrar e fazer memória do Ressuscitado e retomar a esperança para o enfrentamento de mais uma semana que desponta no nosso horizonte existencial. Deus que se faz presente em nossas vidas, renovando o nosso dia a dia na certeza da vitória. Viver intensamente é o nosso maior desafio, em busca de nossas realizações.
Um final de semana diferente para nós aqui da Prelazia. Durante estes três últimos dias, realizamos mais uma etapa de formação, oportunizada pelo Centro de Direitos Humanos da Prelazia. Vários estudantes, a nível de pós-graduação, ou mesmo de formação continuada de nível médio. De todas as partes, várias pessoas se inscreveram, para esta formação, inclusive indígenas das mais variadas etnias. Alguns destes, de forma presencial; outros no formato on-line. Tive o privilégio de ministrar uma parte deste curso, na companhia do também professor Eliseo. A ideia é formar pessoas que possam ser agentes proativos na defesa dos Direitos Humanos.
Uma semana marcada pela presença afirmativa do Papa Francisco. Mais uma vez, ele dando uma das suas. Papa Francisco sendo Papa Francisco. Na quinta feira (17), aproveitando-se da abertura do simpósio “Por uma teologia fundamental do sacerdócio”, ele deu o seu recado aos padres de hoje. Aquilo que ele chama de conselhos. Num destes conselhos, ele assim se expressa: “Ser pastores do Povo e não ‘clérigos de estado’, nem ‘profissionais do sagrado’, mas sim pastores que conhecem a compaixão e a oportunidade; homens corajosos, capazes de parar diante dos feridos e estender a mão; homens contemplativos que, em sua proximidade ao seu povo, podem proclamar a força operante da Ressurreição sobre as feridas do mundo”. Papa Francisco, esse é o cara!
Amar sem medidas é a proposição feita por Jesus aos seus seguidores apresentada pela liturgia do dia de hoje (Lc 6,27-38). Jesus que nos propõe que sejamos capazes de
“Amar os inimigos e fazer o bem aos que nos odeiam” (Lc 6, 27). Uma das páginas mais controversas de todo o Novo Testamento. Um desafio hercúleo, difícil de ser colocado em prática na nossa vida cotidiana. Mas trata-se de uma proposta pertinente, pois, só o fato de não devolver o ódio com ódio já é um grande passo. Isto não significa ser passivo, mas pacífico. Não aceitar o ódio gratuito, mas contestá-lo através de uma ação de indignação e não aceitação. Amar como Jesus amou, na profundidade inerente ao coração.
Paulo Freire tinha uma forma muito peculiar de lidar com situações como estas. Ele costumava dizer que “a melhor forma de amar o opressor é fazer com que ele nunca mais oprima”. Traduzindo isto para aqueles que nos odeiam é fazer com que abandonem o seu ódio e deixem ser tomados pela força incondicional do amor. O amor tem feito coisas que até mesmo Deus duvida, já dizia um amigo meu. Lembrando de antemão que o ódio destrói primeiro aquele que traz este tipo de sentimento em seu coração. Bom mesmo é fazer do jeito dos poetas como o chileno Pablo Neruda (1904-1973) que num de seus versos já dizia: “Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra”.
Estamos de lados diferentes na história. O cristão seguidor de Jesus está do doutro lado da história. Diferentemente daqueles que estão do lado daqueles que provocam a morte, a fome, a miséria e todas as formas de exploração dos pequenos. Deste lado estão aqueles cujos relacionamentos são marcados por interesses e reciprocidade, que geram lucro, poder, prestígio e riquezas. A proposta de Jesus está do outro lado, fundamentada no Evangelho, que revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa, fraterna e igualitária, as relações devem ser gratuitas e de pura amorosidade, à semelhança do amor misericordioso do Pai que muito nos ama.
Amar os inimigos e fazer o bem aos que nos odeiam é a proposta revolucionaria de Jesus que nos quer todos irmãos e irmãs. Entretanto, para alcançar este objetivo, é necessário que nos revistamos de um amor pleno de misericórdia. Quem odeia o outro já está sendo mal amado por si mesmo. Devolver o seu ódio na mesma moeda, é se igualar a ele no mesmo campo de guerra por ele estabelecido. É ser pequeno como ele, que não foi capaz de crescer o suficiente para perceber que o seu ódio o destrói por dentro. Quem verdadeiramente ama a si mesmo é capaz de atos heróicos surpreendentes e não se deixa envenenar pelo ódio de quem quer que seja. No ápice da cruz, vemos Jesus numa atitude suprema de quem muito ama: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” (Lucas 23,34). Que também sejamos capazes de dizer assim em relação aos inimigos e aos que nos odeiam.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.