O jejum e seus sentidos

Sexta feira da quaresma. Estamos fazendo a caminhada cristã pedagógica dos quarenta dias que antecedem a Páscoa. Um caminho de conversão, oração e penitência, como forma de abraçar a cruz do crucificado, para alcançar a plenitude da Ressurreição, personificada na pessoa de Jesus, o Cristo. Concomitantemente, abraçando a cruzes dos empobrecidos, descendo-os das suas cruzes, devolvendo-lhes o esperancar de uma nova vida de realizações.

Nestes dias, tenho me sentido como um matuto em meio a megalópole. Um estranho no ninho. Lá fora, parafraseando Tom Jobim, as águas de março vem fechando o verão e, aqui dentro, vivo o esperançamento de promessas de vida em meu coração. Cuidando da saúde para que eu possa cuidar dos meus. Não sei viver sem cuidar! Conjugo este verbo em todos os tempos na minha estrada da vida. Deus e a vida me ensinaram ser assim, e é assim que sei ser eu mesmo.

Muitos exames e consultas médicas feitas e algumas ainda por fazer. Tudo com a ajuda dos amigos e amigas: rezando, enviando vibrações positivas, energias, palavras amigas de encorajamento e também contribuição financeira. Sem estas pessoas, eu não teria conseguido chegar até aqui. Recebi o veredito dos médicos de que e a cabeça e o coração estão muito bem. Significa que seguirei rabiscando por aqui.

“Você precisa ler muito e escrever para exercitar a sua mente”, recomendou-me o meu neurologista. Tarefa fácil para este “escrevinhador”, apaixonado pela leitura e também pela escrita. Já que terei a tarde livre dos exames, realizarei assim o ofício de escriba.

A leitura e a escrita fazem parte do processo da educação/escolarização. Infeliz daquele que não tem o hábito de ler ao menos um livro por ano. Santo Agostinho já até nos alertava, para fugirmos do homem de um livro só. Felizmente, a Campanha da Fraternidade deste ano, trouxe-nos a temática da educação: “Fraternidade e Educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Campanha esta que tem o seu início na abertura da Quaresma, dia 2 de março, na Quarta-Feira de Cinzas, perpassando todo o ano, com o objetivo de promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.

Educar para uma vida mais humanizada, promovendo uma educação de qualidade para o nosso povo, sobretudo os mais carentes, para que possamos nos libertar das garras da ignorância e daqueles que a promovem, subjugando os pobres através da alienação. Ajudar os pobres a ler o mundo e a construir outra sociedade possível, sem exploração de uns sobre os outros, onde predominem relações de igualdade, fraternidade, justiça e paz

A liturgia de hoje também chama a nossa atenção para este contexto, quando fala do jejum e seus significados. Jejum, nem sempre bem entendido por boa parte dos cristãos. Não se trata apenas em deixar de comer algo como a uma dieta. Uma das boas definições sobre o jejum nos vem do profeta Isaías que assim dizia: “Não! Não é esse o jejum que eu quero.
Eu quero que soltem aqueles que foram presos injustamente,
que tirem de cima deles o peso que os faz sofrer,
que ponham em liberdade os que estão sendo oprimidos,
que acabem com todo tipo de escravidão.
O jejum que me agrada é que vocês repartam a sua comida com os famintos,
que recebam em casa os pobres que estão desabrigados,
que deem roupas aos que não têm
e que nunca deixem de socorrer os seus parentes. (Is 58, 6-7) Jejuar é um ato de amor!
Jejuar educando para vida num gesto solidário.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.