Terceiro domingo da quaresma. Estamos quase na metade do caminho rumo à Páscoa do Cristo Ressuscitado. Numa pequena síntese dos três domingos, vimos no primeiro deles, Jesus passando pelas tentações no deserto, resumindo os conflitos que ele iria experimentar em toda a sua vida; no segundo, num momento de transfiguração, Ele faz a fusão da Antiga Aliança (Moisés e Elias – a Lei e os profetas) com a Nova Aliança, sendo a si mesmo a presença encarnada do Verbo na realidade humana; e, neste terceiro, Ele nos faz um apelo, convocando-nos à conversão, como forma de alcançar a plenitude de nosso existir neste mundo. Converter para viver. Converter é viver.
Um domingo de fim de estação aqui pelas bandas do Araguaia. O verão que havia iniciado no dia 21 de dezembro próximo passado, está dando lugar ao outono, que inicia precisamente às 12h59 deste domingo, no horário de Brasília. Segundo as previsões meteorológicas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, o “La Nina” seguirá até meados de maio. Vivemos um verão completamente atípico, dadas as mudanças climáticas. Muito calor e chuvas acima da média em algumas regiões, e escassez delas em outras. Ou mudamos o nosso modo de ser e viver em relação ao meio ambiente, ou pagaremos um alto custo pelo nosso espírito destruidor. Faz sentido uma das frases ditas pelo sindicalista e ambientalista Chico Mendes: “No começo pensei que estivesse lutando para salvar as seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta Amazônia. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade.”
Aproveitando do ensejo da Campanha da Fraternidade deste ano (Fraternidade e Educação), precisamos cuidar mais e melhor da educação de nosso país. A educação dos nossos brasileiros foi abandonada nestes dois últimos anos de governo. Um descaso total para com as nossas escolas, as universidades e, sobretudo, para com os abnegados profissionais da educação que estão “fazendo das tripas coração” para darem conta da imprescindível tarefa de serem educadores na verdadeira acepção desta palavra. Como se não bastasse o descaso com a educação, o jornal O Estado de S. Paulo, publicou nesta sexta-feira (18) uma reportagem dando conta que um grupo de pastores evangélicos, controlam a agenda do Ministério da Educação (MEC) e até a destinação de verbas públicas. Segundo este mesmo jornal, tais “religiosos”, (Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura da Assembleia de Deus no Brasil), ligados ao ministro Milton Ribeiro, teriam trânsito livre no MEC. “Sem cargos ou expertise no setor de ensino, grupo atua como lobbista para empresários”. Cômico se não fosse trágico.
Mas, voltando ao propósito deste texto, a exemplo do domingo passado (13), a liturgia deste terceiro domingo nos reservou mais uma vez o texto do Evangelho de Lucas (Lc 13,1-9). Neste trecho de hoje, Jesus aproveita de toda a sua pedagogia para nos instigar à necessidade de converter-nos. Converter para viver. E ainda nos alerta que, se não desenvolvermos o nosso processo de conversão, haveremos de morrer a todos. A conversão faz parte da vida do cristão. Conversão esta entendida como um processo que vai acontecendo ao longo de nossas vidas. Cada dia vamos acrescentando detalhes neste processo. Conversão esta que se dá a partir da nossa adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus de Nazaré. Converter é ir ao encontro da proposta de Jesus e fazer com Ele uma caminhada estradeira, tendo por princípio, os valores do Evangelho. Conversão pensada no sentido de construírmos uma nova história, regada pelos caracteres da misericórdia, do perdão, da solidariedade, da compaixão e da ternura de um amor sem medida. Amar para ser amado, como nos fez entender Santo Agostinho: “A medida do amor é o amor sem medida” .
“Se não vos converterdes, ireis morrer todos…” (Lc 13,5) Este é o alerta feito por Jesus aos seus seguidores e também a cada um de nós. Ou nos abrimos a esta perspectiva, ou será a nossa ruína total. Converter para viver, este é o nosso lema e é também a proposição deste terceiro domingo da quaresma. Lembrando que Deus não nos criou para a ruína. A escolha é nossa, até porque, somos seres constituídos de livre arbítrio. Cabe, portanto, a cada um de nós fazermos as nossas escolhas. É importante que se diga também, como já nos alertara o profeta Ezequiel: “Eu não sinto prazer com a morte de ninguém – oráculo do Senhor. Convertam-se e terão a vida”. (Ez 18,32) Deus está sempre disposto a nos dar a última chance de produzirmos frutos. Somos figueiras estéreis, ou produzimos frutos abundantes? É pelos frutos que mostraremos quem realmente nós somos. Que tipo de fruto estamos produzindo? É bom pensar nisso antes que seja tarde demais.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.