Anunciação do Senhor: sentido da nossa vocação cristã

No dia 25 de março, a Igreja tem a alegria de festejar solenemente a Anunciação do Senhor. A festa é muito antiga e é comemorada pela Igreja desde o século VII, e tem uma íntima ligação com o mistério do Natal do Senhor, visto que se comemora exatamente nove meses antes. Cristo Jesus foi concebido no seio da Virgem Maria, assumindo a nossa carne humana para nos redimir.

A solenidade da Anunciação é uma ocasião para vivermos a nossa gratidão ao Senhor por ter vindo ao nosso encontro. No meio da humanidade ferida pelo pecado, muitas vezes oprimida pelo mal e necessitada de uma luz e de uma guia, Cristo vem como a nossa fonte de esperança. Como não amar e não acolher este mistério e essa presença consoladora?

Nesse dia, em que somos convidados a acolher com amor o Verbo da vida em nós, o nosso olhar se volta para aquela que é o grande modelo da acolhida deste mistério tão grande: a Virgem Maria. No Evangelho da Anunciação, quando o Anjo vem ao seu encontro, Maria tem duas atitudes que podem nos ajudar no nosso processo de fé: a primeira é a sua perplexidade que se abre para o discernimento; a outra é a sua resposta generosa à vontade de Deus.

Em primeiro lugar, Maria manifesta a sua perplexidade, talvez a sua incerteza e o seu temor diante da mensagem tão grande que seria a Mãe do Salvador: “como acontecerá isso?” A reação tão humana e tão normal da mulher, tem a ver também com a nossa reação, quando o Senhor nos interpela e nos convida a colaborar com os seus planos, cada um a seu modo e no hoje das nossas vidas. É claro que o medo e as incertezas, o processo da escolha nos faz sentir pequenos, mas nos leva a discernir para abraçar com lucidez e liberdade o que o Senhor vai nos pedindo continuamente.

A outra atitude de Maria é a acolhida generosa, o sim diante do mensageiro de Deus: “Eis aqui a Serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Toda mulher no tempo de Maria sonhava em ser a mãe do Messias: ao mesmo tempo que era grande a expectativa, esse fato podia assustar. Maria venceu todos os temores, abriu-se para acolher aquele Outro que contou com o seu sim e sacrificou sua liberdade e os seus planos para conceber no seu seio o Salvador. É assim também que Cristo assumindo nossa carne, veio para cumprir a vontade do Pai: “Eis que venho e com prazer, eu faço a vossa vontade, Senhor!”. Mensagem forte e bonita: Maria não se tornou a escrava de um Deus caprichoso, o Filho não seria um simples comandado pelo Pai. Em Maria e em Jesus, o amor do Pai encontra a liberdade e o amor humano para nos fazer conhecer o verdadeiro amor e a obediência que nos fazem encontrar o caminho que nos orienta e salva do pecado e do mal.

Assim, a festa da Anunciação nos traz uma grande e profunda mensagem. Como podemos discenir o caminho, sob o exemplo da Virgem Maria? Quais as respostas precisamos dar ao Senhor, como escolha de vida e no dia-a-dia das nossas existências? Como acolher o mistério tão grande de um Deus que veio habitar o ventre de Nossa Senhora e que deseja habitar o nosso próprio interior? Que Ele nos ajude com a sua graça, para que nos transformando com a sua presença, ajude-nos a viver a nossa vocação cristã.


Padre Felipe Fabiane, sacerdote da Diocese de Guarapuava – PR. Doutor  em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, atualmente é secretário da Nunciatura Apostólica no Zimbabwe, sul da África.