Porque quanto mais adquirimos as coisas mais infelizes estamos ficando?

No tempo quaresmal para os cristão-católicos, é um período para fazer uma avaliação do caminho em que estão percorrendo e se há necessidade de fazer uma mudança de caminho, uma conversão. Por meio de práticas de abstinências e jejuns. Isso nos leva a pensar sobre alguns excessos na vida, a busca desenfreada pelo prazer pode levar a uma perca de sentido.

Estamos vivendo em um mundo onde somos estimulados o tempo todo, a partir de um clicke abre-se avalanches de informações instantâneas e com uma alto nível de estímulos que geram prazer, nossos celulares  contém aplicativos que promovem sensação de prazer, a cada deslize  gera um estimulo que leva a outro estimulo . Os aplicativos como Facebook, Instagram, Tick Tok e o Tinder contém mensagens curtas mas com níveis altíssimos de prazer.  Percebe-se que se não houver auto controle nas redes sociais pode gastar grandes tempos e nem perceber.  Em estudos observou-se que aparelhos de smartfone e aparelhos eletrônicos ativam áreas do sistema de recompensa do cérebro.  Segundo o artigo “Manipular dispositivos touch-screen pode alterar circuitos cerebrais da atenção cognição” a interação com um smartphone touch-screen ativa áreas cerebrais relacionadas a uma recompensa similar ao vício em drogas ou satisfação ao alimentar-se.

O Sistema de recompensa cerebral que abrange regiões formadas por circuitos neuronais, onde são processadas as informações relacionadas às sensações de prazer e satisfação, encontra-se neurotransmissores dopaminérgicos responsáveis  pelo prazer e bem estar.  O sistema de recompensa pode ser ativado por meio de estímulos ambientais agradáveis, interação social, alimentos, música, experiências religiosas e espirituais. Quanto maior a liberação de dopamina, mais viciante é a coisa.

Esses dispositivos Eletrônicos produzem uma conexão de pertencimento e validação que na vida real o indivíduo possa não ter, o que gera euforia momentânea, criando o desejo de mais doses de prazer. No entanto há sempre uma lacuna, que não é preenchida no momento que é saciada e logo se deseja mais.

A pesquisadora Anna Lembke, especialista líder mundial em vícios passou os últimos 25 anos tratando pacientes viciados em tudo, desde heroína, jogos de azar e sexo a videogames, Botox e banhos de gelo. A psiquiatra chefe da clínica de dependência de diagnóstico duplo da Universidade de Stanford explica que “Experimentamos um aumento de dopamina na expectativa de fazer algo, assim como quando fazemos a coisa em si, o que nos faz querer continuar fazendo. Assim que termina, experimentamos uma queda ou queda de dopamina. Isso porque o cérebro opera por meio de um processo autorregulador chamado homeostase, o que significa que para cada alta, há uma baixa”.

A cada segundo livre é uma oportunidade para busca de diversão e sentimento de prazer. Contudo dados mostram que as pessoas estão cada vez mais infelizes, quanto mais prazer mais sentem. Isso porque com a inúmeras fontes de prazer e estimulantes a medida que sentimos o prazer nosso cérebro por meio da homeostase busca o equilíbrio trazendo para baixo.  Portanto assim como no vício há sempre um aumento na dose para suprir a vontade e a sensação de prazer porque as doses de dopamina se tornaram insuficientes, acabamos então nos tornando dependentes de cada vez mais destes estímulos para continuar funcionando “normalmente.”

 A pandemia trouxe algo que estava oculto, a dificuldade de estar só de apreciar a presença, e até mesmo um desconhecimento da própria personalidade, o que acabou assustando muitas pessoas e gerando desconforto e sofrimento.

Essa parada fez com que muitos conseguissem mudar alguns hábitos e outros se perderem devido não pararem para refletir sobre os excessos.

Evitar a dor e sofrimento é algo natural e de sobrevivência, porém quando buscamos apenas experiência de prazer, nos distanciando e evitando situações de perda e sofrimento vamos ficando mais vulneráveis e menos resiliente.

Para se viver uma vida integrada é necessário esse processo de autoconhecimento de ir no amago da existência que contém sobras, alegrias, tristezas, inquietudes e solidão.  Quando ficamos alheios a essas dimensões nos distanciamos de nós mesmos e podemos nos anestesiar com redes sociais e viver uma vida paralela no mundo virtual, exigindo cada vez mais atenção e gratificação recompensas instantâneas eliciadas pelos Smartfones e aparelhos eletrônicos.

Para se apreciar a felicidade é necessário voltar ao que é essencial, contemplar o ordinário da vida, ao contrário  a busca desenfreada da felicidade e prazer impossibilita a contemplação do momento presente onde contém experiências e vivências que reais de felicidade, pois o problema não é buscar a felicidade, mais os excessos dessa busca, se faz necessário ter o controle e o equilíbrio e no momento em que paramos para deixar o excessos, ficamos mais leves e mais felizes,  do contrário seremos sempre insatisfeitos e escravos do prazer imediato.

Referencias:

Anna Lembke :https://www.theguardian.com/global/2021/aug/22/how-digital-media-turned-us-all-into-dopamine-addicts-and-what-we-can-do-to-break-the-cycle;

Larissa Nascimento; e content published here is the exclusive responsibility of the authors. https://www.brainlatam.com/blog/o-cerebro-e-seu-sistema-de-recompensa-821


Fernanda Almeida Santos,   psicóloga  CRP08/25722,  formada pelo Centro Universitário Campo real, atua na área clínica e social da psicologia. Apaixonada pelo conhecimento e todas as áreas que envolvem as  relações humanas.