Ele vive!

Domingo de Páscoa. Domingo da Ressurreição. O Senhor está vivo e presente no meio de nós. Alegremos e n’Ele exultemos! Depois de uma longa caminhada de quarenta dias, chegamos enfim ao tão esperado grande dia. O Verbo encarnado em nossa realidade humana, depois de ser rejeitado pelos poderosos, passou pela experiência do sofrimento e da dor da cruz, mas Deus interveio e deu-lhe o lugar mais alto como nos descreve São Paulo na Carta aos Filipenses: “Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome. (Fl 2,9).

“A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”. (Sl 118,22) Para o Cristianismo primitivo, a Pedra Angular é simbolicamente representada pela pessoa de Jesus de Nazaré, o filho de Deus. A rejeição e morte do Filho trazem a sentença: o povo de Deus, irmanado em torno de Jesus (pedra), passa a outros seguidores seus, que devem estar sempre prontos a servir, como foi descrito pela comunidade Joanina, no início do Tríduo Pascal: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros.” (Jo 13,14)

Todos os anos por ocasião do Domingo de Páscoa, a liturgia católica recorre ao texto do evangelista São João (Jo 20,1-9). Por incrível que pareça, o evangelista não narra a Ressurreição de Jesus propriamente. Ao contrario, fala que Maria Madalena vai ao túmulo de Jesus na penumbra da noite, quando ainda estava escuro e encontra o sepulcro vazio. Segundo alguns exegetas o contexto de escuridão, trata-se de um lugar teológico, uma vez que a humanidade ainda não havia se deparado com a Nova Criação que nasce da pessoa do Cristo. Ainda se encontra as escuras. Além do que, falar de Ressurreição é algo indescritível, por se tratar de um mistério insondável, que cabe apenas ao Deus Criador. Por mais que as palavras se aproximem desta experiência profunda, não a abarcará com toda a sua intensidade.

A Ressurreição é o princípio fundante da experiência de fé dos cristãos. Sem ela, inexiste o cristianismo, como o próprio São Paulo assim o atesta: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm”. (1 Cor 15,14). Ressurreição entendida em toda a sua profundidade. Ao ressurgir, a pessoa não regressa à vida como a mesma pessoa, mas significa fazer a experiência de uma vida nova em Cristo. Neste sentido, não existe argumentação científica que possa explicar este mistério insondável. Somente através da fé, podemos adentrar este mistério, abraçando a nova vida que renasce com a Ressurreição de Jesus. “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo?” (Lc 24,5)

Ao ressuscitar Jesus, Deus nos mostra que a escuridão da morte não tem a última palavra. A última palavra é a vida. A morte não é o fim, por mais obscura que seja a nossa compreensão dela. A vida prevalece, uma vez que ela é a vitória de Deus sobre aqueles que a planejam. A vida triunfou e nos traz a esperança de que também nós a experimentaremos na mesma caminhada com Jesus. Seria muito triste o nosso existir se deparássemos com a morte sendo o fim para a nossa vida terrestre. Mais do que uma passagem, a morte é o momento do nosso encontro íntimo com a amorosidade de um Deus que é especialista em amar, amar e amar. Santa Madre Teresa de Calcutá fala sobre a morte desta maneira: “No momento da morte, não seremos julgados pela quantidade de trabalho que temos feito, mas pelo tanto de amor que colocamos em nossos trabalhos”.

É Páscoa! É vida nova! É Deus se fazendo vivo e presente em nossa história humana. É Jesus, o Cristo que vem nos trazer a Nova Criação. Deus se fazendo tudo em todos. Jesus está vivo, mas já não se manifesta como o Jesus histórico, como o Mestre durante a sua vida terrena na Palestina. Daqui por diante, ele está presente no mistério da vida de Deus, e torna-se presente e atuante através do anúncio e testemunho feito por aqueles e aquelas que nele acreditam. Ressurreição é o tempo das relações da Nova Aliança, da Nova Criação: Deus é Pai/Mãe, e as pessoas são filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs de Jesus. Pelo amor e por amor, a morte foi vencida pela vida. Mais do que um coelhinho espalhando ovos de chocolate (simbologia do paganismo e do mercado), é Jesus que está vivo, e vive nas nossas vidas hoje e sempre. Feliz e abençoada Vida Nova na Páscoa d’Ele!

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.