A Páscoa subversiva do Nazareno

Segunda feira da Oitava da Páscoa. Iniciando mais uma semana, agora revestidos com a força que nos vem da pessoa do Cristo Ressuscitado. A Páscoa subversiva de Jesus de Nazaré. É da periferia que vem a nossa libertação. O Deus que caminha com os pobres e, com eles faz acontecer a transformação. Não é do centro, nem de cima para baixo, muito menos dos poderosos que virão as transformações necessárias que incluam os marginalizados, oprimidos e descartados. É de onde menos se espera que virá o movimento revolucionário. Da periferia para o centro, fazendo acontecer na história o Projeto do Reino querido e sonhado por Deus para os pequenos. É da periferia que brota o esperançar de Deus.

Uma semana muito importante para a nossa caminhada pascal. Esta é a Semana dos Povos Indígenas. O tema que rege a luta dos Povos Originários desta semana é: “Direito ao Território, Direito à vida”. Sim porque a vida dos povos indígenas depende da sua ligação intrínseca com os seus territórios sagrados. Aliás, não somente a vida deles, mas a de todos nós, viventes do Planeta Terra. A vida do planeta está sob ameaça, como expressou Hélcio Souza nesta sua fala: “As Terras Indígenas têm um papel estratégico na proteção da natureza e preservação dos recursos naturais, e por isso os povos indígenas são parceiros essenciais para o equilíbrio do clima e da conservação no mundo inteiro”. Terra é vida.

É Páscoa! É vida nova! Estamos ainda no clima de apreensão. As forças da morte rondam e ameaçam a vida dos pobres e inocentes. O clima de medo ainda perpassa o coração das pessoas ligadas a Jesus, como as mulheres que partiram do sepulcro para comunicar a Boa Nova da Ressurreição do Mestre. A alegria do testemunho de ver com os seus próprios olhos suplanta o medo. Quem tem fé, não tem medo. Quem tem medo dá mostras de não ter fé, ou de se sentir abalado nela. Como nos dizia nosso bispo Pedro: “O contrário da fé não é a dúvida. O contrário da fé é o medo”. A alegria delas é ainda maior quando Jesus toma a iniciativa de se fazer revelar a elas: “De repente, Jesus foi ao encontro delas, e disse: “Alegrai-vos!” (Mt 28, 9)

O Ressuscitado que faz questão de apresentar-se por primeiro a elas, mulheres fieis seguidoras, desde os primeiros instantes da vida pública de Jesus de Nazaré. Mesmo nos momentos mais difíceis, num contexto de morte e perseguição, elas estão apostas, dispostas, à serviço do Reino. Se é da periferia que vem a libertação, é para lá que Jesus encaminha os seus seguidores, como forma de dar continuidade à missão: “Não tenhais medo. Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galileia. (Mt 28,10). A mesma Galileia dos pagãos, dos marginalizados, do povo periférico excluído do sistema vigente da época.

Ainda que o sistema apelasse para o último recurso, fazendo uso da mentira e da corrupção, para tentar calar a voz revolucionária da Ressurreição do corpo periférico de Jesus, não surtiu o efeito desejado. As forças da morte não têm mais a palavra final, diante da força da vida que vem de Deus. A ferramenta da mentira, da enganação e do engodo, tem pernas curtas. A verdade de Deus fala mais alto. A vida triunfou, fazendo de todos nós testemunhas pascais do Cristo Ressuscitado. Somos, portanto, portadores da Boa Nova da Páscoa d’Ele. Ele é um de nós e se faz conosco nas encruzilhadas de nossa existência humana. Estamos todas/todos grávidos da presença amorosa de Deus que se manifestou plenamente na pessoa de seu Filho amado: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada”. (Mt 3,17)

A Páscoa subversiva de Jesus é um ato pedagógico de Deus para nós. A verdade liberta e salva. A mentira aliena e mata. Como estamos ainda no clima da Campanha da Fraternidade, “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26), somos instigados a aprender com o próprio Jesus, o valor das pequenas coisas e a força revolucionária que vem da periferia. Imbuídos deste espírito pascal, precisamos acreditar mais em nós mesmos, e de que somos capazes de construir o novo, a partir da luta que fazemos juntos. Como diz o geógrafo Milton Santos (1926-2001): “A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une”. O que nos une é infinitamente superior aquilo que pode nos separar: a força revolucionaria da Páscoa do Cristo Ressuscitado. Ele é um ser vivente em nós e por nós. Sigamos em frente. A luta continua, sem mentira e falsos messias.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.