Sexta feira da oitava da Páscoa. Sextou na Oitava da Páscoa. Estamos quase completando este ciclo, que se encerra no Domingo da Misericórdia, nos fazendo lembrar da misericórdia do próprio Deus em pessoa. Se tem algo que Jesus fez questão de revelar em si, foi a face de um Deus extremamente misericordioso para com os seus. Deus é Misericórdia sempre! Um Deus que muito ama e está sempre pronto a perdoar sem medida, como nos fez lembrar São Paulo: “Onde foi grande o pecado, foi bem maior é a graça” (Rom 5,20). Um Deus que não se alegra com a morte do pecador, mas que se converta e viva plenamente.
Sexta feira, dia 22 de abril. Dia Internacional da Mãe Terra. Uma data que vem sendo comemorada desde a década de 1970, quando um fórum ambiental, realizado nos Estados Unidos definiu como um dia de luta para salvar o Planeta Terra. A terra que vem sistematicamente sofrendo a cada ano com a poluição, principalmente com a emissão de gases nocivos para os habitantes do planeta e as sequentes ameaças as espécies de outros seres, além dos humanos. Dia de lembrarmos-nos do compromisso se estabelecer um prazo limite para a redução do aquecimento global e, sobretudo, de zerar com desmatamento. Este é o grito que brota da terra e ecoa em todos os corações sensatos. Grito que também ecoa através da canção do mineiro Beto Guedes: “Terra, és o mais bonito dos planetas. Tão te maltratando por dinheiro. Tu que és a nave nossa irmã”.
Precisamos voltar às nossas origens e beber da fonte cristalina que nos gerou. Situar o nosso existir a partir do berço em que fomos gerados. De volta ao começo como forma de conhecermo-nos quem nós de fato somos, e o que viemos aqui fazer. Retornar ao passado para nos situarmos como seres que temos uma missão a cumprir, por mais que alguns dos nossos não se vejam assim. Não fomos criados do nada e nem fomos projetados para o nada. Cada um de nós tem uma razão de ser neste mundo. Somos detentores de dons: “Temos dons diferentes, conforme a graça concedida a cada um de nós. Quem tem o dom da profecia, deve exercê-lo de acordo com a fé; se tem o dom do serviço, que o exerça servindo; se do ensino, que ensine; se é de aconselhar, aconselhe; se é de distribuir donativos, faça-o com simplicidade; se é de presidir à comunidade, faça-o com zelo; se é de exercer misericórdia, faça-o com alegria”. (Rom 12, 6-8) Qual é o seu dom mesmo? Como você o está exercendo?
A liturgia desta sexta feira também nos ajuda situar quanto a nossa missão de seguidores e seguidoras do Ressuscitado. No final de seu evangelho, João nos apresenta a cena de Jesus aparecendo aos seus seguidores na Galileia. O Mar de Tiberíades ficava situado no lado oeste do mar da Galileia, localizada a cerca de 100 quilômetros de Jerusalém. Essa cidade foi construída por Herodes Antipas, e seu nome era em homenagem a Tibério César. Daí percebemos que os discípulos seguiram fielmente aquilo que o Mestre lhes havia recomendado: voltar à periferia, onde tudo começou. De fato o mar da Galileia foi parte marcante na rota percorrida por Jesus durante seu ministério público terreno. Voltar às origens.
Apesar do recomeço difícil, os seguidores e seguidoras de Jesus voltaram às origens onde tudo havia começado e colocaram a serviço na missão de testemunhar com a própria vida que o ressuscitado estava vivo. E Jesus se coloca junto com eles, se fazendo presente nas ações deles. Ou seja, na rotina do trabalho de pescadores que eram, Jesus aparece, realizando aquilo que alguns exegetas denominam de a “pesca milagrosa”. Depois de uma noite de pesca infrutífera, seguindo as ordens, eles lançam as redes e, para surpresa deles, as redes quase se rompiam com tamanha quantidade de peixes.
Assim como aos dois discípulos de Emaús, Jesus se dá a revelar na partilha do pão. “Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o por eles. E fez a mesma coisa com o peixe”. (Jo 21, 13) Pão e peixe que são os símbolos da Eucaristia. Ou seja, Jesus se dá eucaristicamente e eles, que acabam tendo a certeza de que estavam na presença do Ressuscitado. A noite escura das trevas já não existe mais. É dia claro e a ação de Deus continua na pessoa do Filho que ali está com eles: “Deus ressuscitou a este Jesus. E nós todos somos testemunhas disso. (At 2,32) Lembrando que a comunidade cristã que age sem estar unida à pessoa e missão de Jesus Ressuscitado continua nas trevas e não produz fruto, perdida que está sem perceber a presença do ressuscitado e sem conhecer o modo mais adequado de realizar a missão. No momento em que seguimos a palavra de Jesus, o fruto surge abundante. É por isso que a missão termina sempre na Eucaristia, pois ali realizamos a comunhão com o próprio Jesus, que na visão de São João Crisóstomo (349-407): “Deu-se todo não reservando nada para si”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.