Terça feira da sexta semana do período pascal. Uma semana nos separa do mês das festas juninas. O mês mariano vai chegando ao seu final e a “Comadre de Nazaré” segue nos fazendo companhia, mesmo adentrando outro mês em que a tradição popular faz nos encontrar com Santo Antonio (13), São João (24) e São Pedro (29). Três santos da nossa devoção popular, trazendo-nos a alegria das festas juninas. Haja forró! Quiçá possamos expulsar de vez os ventos adversos desta louca pandemia, muito embora ela segue fazendo das suas.
Um final de maio que ainda marca a vida do povo indígena. Várias lideranças deles seguem apreensivas. Chega-nos a triste notícia de que aqui no nosso vizinho Pará, um grupo de nove garimpeiros foram detidos pelas lideranças Kayapó, na Terra Indígena Baú, sudoeste do estado do Pará. Segundo informações, tais garimpeiros tentaram, a força, reativar o garimpo ilegal Pista Velha, que fica dentro do território indígena. Quem realmente deveria fazer tal ação era o órgão responsável pela proteção dos povos indígenas, mas diante da sua ineficiência, os indígenas são obrigados a se protegerem, arriscando a própria vida.
Também a nível nacional, a expectativa é muito grande pela retomada do julgamento do “Marco Temporal”. Tudo indica que o Supremo Tribunal Federal (STF), retomará agora em junho o seu julgamento. Lembrando que o Marco Temporal é a tese que defende a ideia de que os povos indígenas só poderiam reivindicar os territórios em que estavam presentes a partir do dia 5 de outubro de 1988, data em que foi promulgada a Constituição Federal Brasileira. Como se a história dos povos indígenas não tivesse todo um passado de pertença aos seus territórios, bem como às suas ancestralidades desde antes da chegada dos colonizadores. Sem falar que, se tal marco for realmente aprovado, cai por terra o Direito Constitucional (Art, 231, 232) dos povos indígenas sobre os seus territórios tradicionais, relativizando ainda as demarcações e homologações já feitas ate aqui.
É a morte eminente dos povos originários que se avizinha. Morte dos povos indígenas e também a morte de todos nós, pois sem eles, ficaremos sem os verdadeiros protetores e cuidadores da Terra e da Mãe Natureza. Morte que continua sendo um mistério, tanto para eles, quanto para nós. Muitos são os questionamentos que fazemos sobre a vida e, principalmente sobre a morte. Mais perguntas que respostas que nos satisfaçam. A única certeza que ainda temos é a de que um dia seremos alcançados por ela. Todavia, para os que acreditamos, a morte não é o fim. Ela apenas nos faz lembrar de nossa fragilidade humana e que estamos a mercê do nosso Criador. Mais do que nunca, com a chegada da dela, chega também a convicção de que somos criaturas e não criadores. No dizer de São Paulo, “A morte foi engolida pela vitória” (1Cor 15,54).
Mais uma vez a liturgia nos coloca diante do dilema da partida de Jesus e o seu discurso de despedida. Triste partida na visão de seus seguidores. Diante do clima de tristeza que tomou conta dos seus, Jesus fala naturalmente sobre a sua morte: “Agora, parto para aquele que me enviou…” (Jo 16,5). Jesus que anuncia o seu reencontro com o Pai. Neste reencontrar o Criador, advém a presença do Espírito Defensor. Na Trindade reunida, os seuidores de Jesus recebem a força daquele que irá guiar os seus passos na missão de dar continuidade às obras realizadas por Jesus. O ser e estar no mundo, orientados pela força do Espírito Santo. O agir no mundo sendo conduzido pela luz divina do Espírito: “É bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo mandarei”. (Jo 16,7)
Nenhum, de nós em sã consciência quer se encontrar com a morte, mesmo sabendo que, com ela, vamos fazer o nosso encontro definitivo com o Pai. Protelaremos o máximo que pudermos o nosso encontro com a irmã morte, como gostava de chamá-la São Francisco de Assis. Todos queremos viver e foi para isso que Deus nos criou, para viver intensamente. A vida é o dom maior de Deus para nós. Por este motivo devemos viver cada instante como momentos únicos. A morte de Jesus se transforma em vida. Descendo Jesus da cruz, Deus inverte o julgamento das lideranças religiosas judaicas e romanas: o Crucificado se transforma em Ressuscitado (Cristo), a vida plena nos seus. E aqueles que o condenaram, agora são condenados. “Se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, acreditamos também que aqueles que morreram em Jesus serão levados por Deus em sua companhia”. (1Tess 4,14) Vivamos, pois a vida é bela!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.