Encontros e desencontros

Sexta feira da sexta semana da Páscoa. Páscoa, uma festa judaica e cristã. Palavra de origem judaica “pasach”, cujo significado “passagem” designa a festa celebrada em recordação da saída do Povo Hebreu do cativeiro no Egito (êxodo), que posteriormente serviu para designar também a festa cristã celebrada em honra da Ressurreição de Jesus Cristo, sobretudo por causa da coincidência das datas. Maio vai dando os seus acordes finais, nos preparando para o grande encontro do esperançar de Deus na figura do “Defensor”. Aquele que vai perfilar a nossa existência fundamentada no testemunho do Ressuscitado.

Encontros e desencontros. Nossa vida é assim. Nem sempre que o nosso existir é caracterizado pelos encontros apenas. Deparamo-nos também com os desencontros aqui e acolá. Entre nós, por vezes, acontece estes desencontros, como no caso do assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, 38, na cidade de Umbaúba, no litoral sul de Sergipe. Os agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), responsáveis constitucionalmente pelo patrulhamento das rodovias federais, se encarregaram desta barbárie, tirando a vida de um senhor com Transtornos Mentais indefeso. Agentes da corporação, se passando por milicianos com ações de pura truculência policialesca. Genivaldo poderia ter sido eu. Poderia ter sido você, seu irmão, ou seu filho. Poderia ter sido também as dezenas dos filhos do “mito”

Precisamos nos encontrar enquanto sociedade para não mais permitir que ações como estas não ocorram jamais. Precisamos nos encontrar enquanto seres humanos humanizados, para não mais tolerar atitudes como estas. O ser humano que habita em cada um de nós, precisa se manifestar e vir à luz do dia, para nos encontrarmos como irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai que é nosso. Para tanto, precisamos primeiro encontrarmo-nos conosco mesmos. Um encontro pessoal. Um encontro que se faz nas entrelinhas do nosso existir, como forma de encontrarmos com as demais pessoas e, posteriormente, encontrarmo-nos com o Deus da vida. De encontro em encontro vamos fazendo o nosso reencontro. Meu ser finito se fazendo no infinito de Deus.

Encontros e desencontros que também tiveram os seguidores de Jesus, como nos relata o Evangelho de João na liturgia desta sexta feira. João é um dos poucos evangelistas que narra a vida pública do Jesus histórico pelo período de três anos. Os demais concebem a missão de Jesus de Nazaré, pelo período de apenas um ano. Ao final destes três anos de ação (sinais) e ensinamentos, dos capítulos 13 ao 17, João nos traz Jesus com o seu “Discurso de Despedida”. Qual seja preparando os seus para a sua partida para o reencontro com o Pai. Jesus que fala de seu desencontro momentâneo com os seus discípulos, mas que brevemente se fará reencontro com eles na Páscoa do Ressuscitado.

“Vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria”. (Jo 16,20). Desencontros que provocam rupturas pelas perdas daquilo que é importante para nós. Perder algo deixa-nos tristemente incompletos. Reencontrar provoca ânimo e alegria. O reencontro nos faz relembrar da experiência do pastor que assim nos diz: “Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la?” (Lc 15,4) . Se o encontro é o momento de alegria, o desencontro, às vezes, nos desestabiliza. É preciso estar preparados para a experiência do desencontro e assim nos alegrarmos com a feliz ideia do encontro festivo. O fazer da esperança se dá no esperançamento de nossa ação.

Ao longo das nossas vidas passamos por momentos como estes. A tristeza tenta nos vencer e nos fazer acreditar que não vale a pena lutar. Ela, por vezes, quer nos convencer de que somos filhos de uma predestinação e, por mais que se lute, não chegaremos a lugar algum, pois tudo já está predeterminado. Infeliz ideia de que assim pensa. Deus nos fez seres dinâmicos. Não somos seres estáticos. A dinamicidade de Deus se faz presente em nós e nas nossas ações cotidianas na busca por um mundo melhor, onde possamos instaurar o Reino de Deus. De encontros e desencontros vamos fazendo acontecer a nossa história de vida. Encontrando vida na vida plena. Desencontrando das forças da morte que insistem em nos querer fazer partidários seus. Nosso encontro é com a vida. Nosso encontro é com Ele: “Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente e o vosso coração se alegrará “. (Jo 16,22) “Vence a tristeza enxuga o pranto ó meu povo. Vem cantar um canto novo Deus da vida aqui está!” E como está!

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.