Terça feira da décima segunda semana do tempo comum. O mês junino caminhando para fechar a metade do ano. Falta ainda passarmos pelo mais querido de todos, São João e também o pescador de peixes e de pessoas, São Pedro. As quadrilhas juninas, diferente das outras, seguem nos trazendo a alegria dançante. Junho é festa o tempo todo. A nossa tradição festiva junina revive em cada um de nós, despertando os sentimentos bons de fazermos parte da cristandade em Deus. Viver a fé é festejar a vida de quem foi capaz de se doar pelo Reino, injetando em nós o mesmo espírito.
Enquanto vamos caminhando e fazendo a história acontecer, vamos também contemplando os acontecimentos que nos trazem sinais de esperança. Um destes sinais foi a fala do Papa Francisco aos formadores dos sacerdotes de Milão, em recente audiência. Francisco sendo enfático, como sempre: “Uma nova formação para os sacerdotes para que se tornem ‘especialistas em humanidade’, capazes de escutar o sofrimento das pessoas”. O Papa está preocupado, pois o contexto geral da formação dos novos presbíteros é desoladora. Uma geração de padres que não conseguem dar um passo para além das fronteiras das sacristias das igrejas que comandam. São exímios “funcionários do sagrado” e do sacramentalismo clerical, reforçando uma concepção de igreja patriarcal, piramidal.
Também neste dia 20 de junho, o Papa Francisco recebeu no Vaticano a delegação dos 17 bispos que fazem parte do Regional Norte 1 da CNBB, que compõe os Estados do Amazonas e Roraima e o Noroeste, formado pelo Acre, sul do Amazonas e Rondônia. De cocar presenteado sobre a cabeça, o papa disse aos presentes: “arrisca, meu irmão, junto aos pobres e indígenas da Amazônia”. Aproveitou para alertar os bispos para que não deixarem de denunciar profeticamente, com todas as letras, as mazelas sofridas pelos povos indígenas e também a destruição da Floresta Amazônica. Fez também uma confissão de que gostaria de estar onde aqueles bispos estão. Esse é Francisco! Esse é dos nossos!
Olhando um pouco mais além, nossos olhos se encantam com o resultado das urnas na Colômbia. O economista e ex-guerrilheiro de esquerda, Gustavo Petro, 62 anos, foi o vencedor das eleições, se tornando presidente de um mandato popular, saindo na frente do conservadorismo no país. Pela primeira vez, uma mulher afro-descendente é eleita vice-presidenta. Francia Márquez, 40 anos, mulher negra, advogada e ativista ambiental, compõe o governo, dando voz e vez ao povo negro, ao meio ambiente e a comunidade LGBTQI+, para desespero do fascismo ultrajante.
Um sinal de esperança para todos nós, que vamos passar pelo mesmo processo eleitoral em outubro próximo. Será a nossa vez de passar a limpo o Brasil, vencer o projeto da barbárie e da ante-vida, e implantar o projeto de sociedade que queremos para todos e todas, sobretudo das populações mais vulneráveis. Se “a cadela do fascismo está sempre no cio”, como nos dizia o poeta e dramaturgo alemão Bertholt Brecht (1898-1956), está chegando a nossa hora e vez de por fim ao cio desta degenerada situação pela qual estamos passando. Votar é um dos pilares do exercício de nossa cidadania. Voto não tem preço. Voto tem consequências e, às vezes danosas para todos nós.
O caminho a ser percorrido é longo e estreito. Envolvem todos e cada um de nós nesta caminhada. Como nos mostra o texto do Evangelho da liturgia do dia de hoje. Nele, Jesus retoma mais uma vez o grande “Sermão da Montanha”, narrado pelo evangelista Mateus. Num dado momento, Jesus diz assim aos seus: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso é o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele!” (Mt 7,13) Esta é uma fala que ultrapassa o tempo da Palestina de Jesus e chega a cada um de nós no hoje de nossa história. Quão fácil e cômodo é adentrar por este caminho que leva ao descompromisso, à vida feita de favores, à lógica do mercado do toma lá-dá-cá, ao “jeitinho brasileiro”!
Uma fala que nos leva ao compromisso com o outro, com a vida, com a construção de outra realidade possível que nos caiba a todos. Não esperemos que as mudanças aconteçam fora de nós. Sejamos nós mesmos a mudança que queremos ver no mundo. Não transfiramos a responsabilidade para os outros, mas sejamos protagonistas da mudança que queremos, começando dentro de nós mesmos, com as nossas atitudes, o nosso jeito de pensar, o nosso jeito de sentir e agir. Só podemos ser felizes se o outro que está ao nosso lado também está. A felicidade não é um estado individualizado de ser. A vida se concretiza no ato de caminhar. Somos caminhantes desta vida. Estamos todos percorrendo o caminho da vida. Caminho feito de escolhas. O nosso destino é um lugar comum, morada que cabe a todos. Caminho feito de teimosia, resistência e coerência. Já escolheu o seu caminho?