Discernir para seguir

Décimo terceiro domingo do tempo comum. Último domingo do mês de junho que está chegando ao fim. O mês de julho já aponta no horizonte de nosso campo visual. Julho é um mês muito importante para a nossa caminhada de Igreja da Prelazia de São Félix do Araguaia. Celebraremos nos dias 16 e 17 de julho, a nossa Romaria dos Mártires da Caminhada. A última aconteceu entre os dias 16 e 17 de julho de 2016, em Ribeirão Cascalheira (MT), ainda com a presença física de nosso pastor, poeta, profeta Pedro. Depois de 6 anos, voltaremos a realizar este evento, como marco histórico importante de fé e resistência comprometida para reavivar a memória dos mártires da caminhada e da luta pela terra de camponeses e indígenas.

A luta continua! Ainda mais agora que temos inúmeros desafios pela frente a serem superados. Passar o Brasil a limpo é a nossa urgente missão. Oportunidade em que teremos para afastar as forças diabólicas da morte, que insistem em querer matar a vida e os nossos sonhos de um país melhor para todos, sobretudo dos mais pobres e vulneráveis. A fome bate a nossa porta. Quem tem fome tem pressa de comer! Já são mais de 33 milhões de pessoas passando fome literalmente em nosso país. Somado a estas, estão as mais de 120 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. A esperança vai vencer o medo. Vamos voltar a ser felizes de novo. Esperançar é a palavra da vez. Esperançar como símbolo de resistência.

Esperançar de não esperar para ver, mas do verbo fazer acontecer. Esperançar fazendo juntos, a nossa história de vida. Teimosamente acreditando que o sonho não morreu e que a utopia se faz na resistência revolucionária no passo a passo da história. Somos filhos e filhas do esperançar de Deus. A utopia do Reino se faz realidade plena presente na pessoa do Filho de Deus, Verbo encarnado esperançando nas entranhas de nossa história. Desistir é a palavra que não existe no nosso dicionário da vida. Esperançar é o verbo que está na espinha dorsal de nossas lutas. Como já nos dizia Paulo Freire: “Esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”. Não do modo deles. Eles não!

Esperançar que a liturgia deste domingo nos coloca diante da encruzilhada em que Jesus se encontra: Ele está a caminho de Jerusalém. Lá acontecerá o confronto da vida contra a morte. Mas para lá chegar, precisa fazer a experiência do caminho. Por mais paradoxal que possa parecer, Jesus faz o caminho para a sua morte. Ele sabe que lá em Jerusalém acontecerá o confronto: vida/morte. Ele também sabe que o caminho se realiza na história. Ao fazer este caminho, Ele inicia o processo de libertação dos pobres e oprimidos que são libertos para usufruírem a vida dentro de novas relações entre as pessoas, cumprindo o seu discurso na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-22).

Porém, o caminho é cheio de obstáculos. Não são todos os que compreendem esta lógica de Jesus. Ser rejeitado no povoado dos samaritanos é um deles. “Os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém”. (Lc 9,53) Tudo por causa da rivalidade entre judeus e samaritanos. Como dizem aqui no Mato Grosso, eles não passavam ao mesmo tempo na mesma pinguela. Ao saber que Jesus iria se encontrar com os judeus, os samaritanos trataram de correr com Ele de seu povoado. E Jesus segue no seu caminho, focando no seu objetivo primeiro, mostrando aos seus que a pedagogia do caminho é fazer-se caminhante com Ele. Aqueles que se dispuserem a segui-lo precisam passar por este mesmo caminho seu. Caminhar rumo às utopias do Reino que acontece na história.

Caminho que se faz através do discernimento. Discernir para seguir. Saber fazer as opções e escolher as ferramentas certas para usá-las neste caminhar. Uma destas ferramentas é não permitir que sejamos dominados pelo ódio, pelo rancor e pelo ressentimento. Um caminho diferente a ser percorrido. Estarmos preparados para não usar das mesmas armas do inimigo opressor é o nosso maior desafio. É por este motivo que o caminho de Jesus força-nos a permanente revisão de vida. Discernir este mesmo itinerário de Jesus é compreender a forma que vamos dar os nossos passos no seguimento que queremos com Ele fazer. Na estrada da vida sempre encontraremos alegrias, tristezas e também decepções. Os caminhos são feitos de escolhas. Escolher pelo caminho com o Mestre é estarmos pronto para passar pelos desafios permanentes, na certeza de que Ele se faz presente conosco no nosso caminhar. Esperançar com Ele é ter a certeza de que juntos venceremos. Como dizia poetisa goiana Cora Coralina (1889-1985): “Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.” Discernir para seguir.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.