Ação e contamplação, acolhida e escuta: duas atitudes complementares e fundamentais na vida cristã

Reflexão litúrgica: Memória de Santa Marta,Maria e Lázaro,
sexta-feira, 29/07/2022

 Marta é a irmã de Lázaro e Maria. A casa dela em Betânia era o lugar preferido de Jesus para descansar de seu trabalho apostólico, e Marta sempre o honrava como hóspede querido. Sua atitude dinâmica está em particular contraste com o jeito quieto e contemplativo de Maria. Sobretudo um dia em que se queixa da irmã, que se detinha a ouvir Jesus, este a repreende bondosamente, mostrando-lhe a primazia dos valores espirituais. Depois, na doença de Lázaro, quando Jesus chamado pelas duas irmãs, encontra Lázaro já morto, Marta corre apresada ao seu encontro e faz uma forte profissão de fé. Este diálogo entre Jesus e Marta é um dos mais antigos temas batismais preparatórios da Páscoa, e a Igreja usou-o por meio dos séculos na liturgia fúnebre, para reavivar nos fiéis a esperança cristã. O pranto de Marta provoca soluços de Jesus (Jo 11,1-44).

Finalmente, a Ceia de Betânia, em que Marta serve à mesa e Maria unge os pés de Jesus, é uma prefiguração da última Ceia e de cada missa (Mc 14,3-9; Mt 26,6-13 e Jo 12,1-8). Marta é modelo da mulher trabalhadora, sendo padroeira dos hospedeiros; por sua vez, Maria é o modelo das pessoas contemplativas.

No Evangelho de Lucas (10, 38-42), vemos que Jesus está na casa de Marta e Maria: duas mulheres, duas atitudes, uma acolhe e outra escuta, são duas atitudes complementares de ação (Marta) e contemplação (Maria); acolhida e escuta são duas atitudes fundamentais na vida cristã.

Jesus nos ensinou a buscar o Reino de Deus em primeiro lugar, este pode se manifestar na contemplação: ouvir e colocar em prática; mas também na ação: santificar a família, o trabalho e o mundo. O ‘altar’ do leigo são as realidades temporais, ali ele deve fazer o Reino acontecer.

Vemos que Jesus e Marta querem reconhecimento: Onde? Pela Palavra, na santa missa, nas pastorais e nas demais ações da Igreja, pois ali as pessoas estarão frente a frente, não viverão no anonimato, na solidão; as pessoas sentirão a proximidade, o afeto, a ternura. Mais do que providenciar coisas práticas, ali deverá ocorrer o relacionamento solidário e cada pessoa será um dom para o outro. “O ativismo, mesmo a serviço dos outros, corre o perigo de ser um serviço a si mesmo: autoafirmação à custa de quem é ‘objeto’ de nossa caridade. A superação do ativismo consiste em ver o mistério de Deus nas pessoas, assim como Maria o enxergou em Jesus, o porta-voz de Deus, o portador das palavras de vida eterna” (Pe. Johan Konings). Jesus não censurou Marta porque cuidava da cozinha, mas porque quer tirar Maria do ‘escutar’ para fazê-la se igualar a suas preocupações, servindo a si própria. Aqui podemos colocar a seguinte questão: Devemos alimentar o Senhor somente com nosso ativismo ou ser por ele alimentados? Quando participamos da Eucaristia, somos todos hóspedes e o Senhor nos oferece a melhor parte: Palavra e Pão: “Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

Mas temos que ter em conta, também, que, na sua pregação, Jesus ensina a apreciar o trabalho. Ele descreve a Sua própria missão como um trabalhar: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho” (Jo 5, 17). Jesus ensina aos homens a não se deixarem escravizar pelo trabalho. Eles devem preocupar-se, antes de tudo, com a sua alma; ganhar o mundo inteiro não é o escopo de sua vida (Mc 8, 36). Em Seu ministério, Jesus trabalha incansavelmente, realizando obras potentes para libertar o homem da doença, do sofrimento e da morte. Quando o ser humano fica preocupado e agitado por muitas coisas, corre o risco de negligenciar o Reino de Deus e sua justiça. O trabalho representa uma dimensão fundamental da existência humana, como participação na obra não só da criação, mas também da redenção. O trabalho pode ser considerado como um meio de santificação e uma animação das realidades terrenas no Espírito de Cristo. Mediante o trabalho, o homem governa, com Deus, o mundo, suscita aquelas energias sociais e comunitárias que alimentam o bem comum, a favor, sobretudo, dos mais necessitados, portanto o trabalho não é só para uma grandeza de si mesmo, mas para o bem comum e a salvação de todos (Mt 25, 35-36).

Santa Marta, rogai por nós!

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.