Sábado da décima sexta semana do tempo comum. Mais um final de semana chegou. O penúltimo do mês. Passou rápido o mês de julho. Ainda estou longe de casa, desta vez na casa da Mãe Aparecida, desfrutando do carinho, na convivência dos amigos e seus familiares, dos bons tempos de seminário. Recordando do tempo em que éramos felizes e sabíamos que éramos. De tanto contentamento, impossível não permitir que o nosso pensamento se faça em cambalhotas na memória.
Basta muito pouco para sermos felizes. Entretanto, somente com o passar do tempo e o avançar da idade é que chegamos ao estágio de percebemos esta realidade. Sabedoria é muito mais do que acúmulo de conhecimentos que vamos adquirindo ao longo da vida. Cora Coralina nos diria que o conhecimento nós os adquirimos através dos livros, mas a sabedoria nos vem pela convivência com os simples e humildes.
Bem fazem os povos originários, que perpetuam seus saberes tradicionais, preservando a memória de sua ancestralidade. Um povo agrafo, ou seja, não se expressam através dos sinais gráficos (escritos), mas mantém os seus conhecimentos e saberes tradicionais passando de geração em geração, sem perder a sua essência e o sentimento de pertencimento à um povo, com toda à sua especificidade.
Sabedoria que sobrava no Filho de Deus. Jesus, como bom entendedor do Projeto de Deus, captou esta sabedoria e a colocou em prática desde o início da sua vida pública. Movido por esta sapiência, inseriu-se em meio a realidade dos pequenos e, a partir dali, foi edificando o horizonte possível da perspectiva do Reino. Reino de paz e justiça como ação humana acontecendo na história, através de pessoas comuns, plenas da presença de Deus nelas.
Reino este que na liturgia deste sábado, Jesus o desmistifica demonstrando-o através de uma de suas parábolas didáticas. Reino que é devidamente semeado com a semente, cuja essência maior traz em si o estigma da vida em forma de trigo, traduzido em gratuidade, igualdade, fraternidade, justiça e muito amor. Mas que também pode ser mesclado com os caracteres do ante-Reino, no formato: do ódio, egoísmo, ganância, prepotência, arrogância, intolerância que se esfacela em desamor.
Trigo e joio, duas faces de uma mesma moeda. Duas realidades distintas que crescem dentro de nós numa mesma proporção. Vão se consolidando em nosso interior, ganhando força aquela em que mais investimos nossos projetos de vida. Na parábola, Jesus aconselha a não arrancar de imediato o joio, sob o risco de também eliminar o trigo. Bem e mal, uma realidade complexa com a qual convivemos. Não cabe a nós fazer a separação entre bons e maus, uma vez que somente Deus pode fazer o julgamento.