Sexta feira da décima oitava semana do tempo comum. E não é que sextou em agosto. Primeira sexta feira do mês. Dia em que os devotos do Sagrado Coração de Jesus tem um apreço maior, pois segundo a Igreja, as primeiras sextas feiras de cada mês são dedicadas a este devocionário. Esta devoção ganhou forma através do Apostolado da Oração que desde 1844, com a participação do padre Jesuíta Francisco Xavier Gautrelet, na França, criou uma rede denominada de Apostolado da Oração. Todavia, em 2014, o Papa Francisco tratou de aprovar o documento de recriação do Apostolado da Oração, possibilitando assim algumas mudanças de nome deste Serviço Pontifício, para “Rede Mundial de Oração do Papa”, tornando o Apostolado da Oração um dos modos de participação nesta Rede.
Rezar faz parte da vida e do ideário cristão. Somos seres orantes. A oração se expressa num dialogo que estabelecemos com o nosso Deus. O Ser Superior. Chamem-no como quiserem. Neste sentido, necessitamos criar espaços nas nossas vidas, onde podemos exercer este diálogo de forma livre e tranquila. Na realidade, Deus já sabe tudo de nós, mas mesmo assim, quer que tenhamos estes espaços, onde podemos, mais do que falar, escutar aquilo que Deus tem a nos falar. A oração precisa ser encarnada na realidade. Como diziam os nossos biblistas na década de 70, “um olho na Bíblia e outro na realidade”. Assim rezando, não corremos o risco de desenvolver em nós uma fé alienada, desencarnada da prática e do contexto sócio-histórico.
Jesus também tinha os seus momentos de oração. Momentos estes em que Ele se colocava a sós com o Pai. Antes de cada momento decisivo de sua, Ele encontrava espaço na sua prática diária, para se colocar na presença de Deus. Nós também deveríamos nos comportar desta forma. Ter estes momentos em nossas vidas para, como dizem os mais jovens, ter um “papo reto” com o Senhor. Demonstrar a nossa humildade ao reconhecer que nada somos sem Ele em nossas vidas. Oração que se faz na e para a ação, juntando a nossa intimidade com a intimidade de Deus. Criador e criatura se fazendo numa simbiose transcendental. O humano de nós sendo preenchido pelo Divino de Deus em nós. Oração que resulta na transformação de nosso ser interior. Como dizia o escritor francês Antoine de Saint Exupéry (1900-1944): “A grandeza da oração reside principalmente no fato de não ter resposta, do que resulta que essa troca não inclui qualquer espécie de comércio”.
Oração que nos leva ao seguimento do Mestre de Nazaré. É seguir ou seguir! Quem faz a sua adesão a Jesus, precisa segui-lo mais de perto, como nos propõe o texto do Evangelho de Mateus que a liturgia de hoje nos traz: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. (Mt 16. 24-25) Seguimento que pressupõe, decisões, escolhas, renúncias e consequências. Ser e estar com Ele não se faz com privilégios, regalias, benesses. É um entrar na chuva para molhar literalmente. É tomar a cruz de cada dia e segui-lo na arte de servir sempre. Ao contrário da busca pelo poder, como algumas lideranças fazem, o seguidor de Jesus é chamado a ser o servidor de todos.
O seguidor de Jesus deverá ser aquele que está sempre pronto a servir, como o Mestre mesmo o disse: “Entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês; e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se servo de vocês. Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. (Mt 20, 26-28) Com isso Jesus nos mostra que a única coisa importante para o discipulado é seguir o exemplo de seu Mestre: servir e não ser servido. Servir ou servir, eis a questão!
Ao tomar a cruz de cada dia e seguir a Jesus, somos desafiados a construir a nova sociedade. Nesta nova sociedade não há espaço para os acomodados e carreiristas que estão atrás apenas do poder e das regalias decorrentes dele. Na nova sociedade que Jesus pensa e projeta, a autoridade não é exercício de poder, mas a qualificação para o serviço que se exprime na entrega permanente de si mesmo para o bem comum de todos. Aos que o seguem de verdade, precisam estar cientes de que terão o fracasso e a morte no horizonte próximo de suas perspectivas. Se no tempo de Jesus, a cruz era reservada a criminosos e subversivos, hoje ela é o símbolo da marginalização e da exploração dos pequenos. Assim, quem quer seguir a Jesus, esteja disposto a se tornar marginalizado por um sistema injusto e a sofrer o mesmo destino de d’Ele: morrer como um revolucionário subversivo.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.