Vocação como Missão

(Chico Machado)

Quarta feira da vigésima segunda semana do tempo comum. O mês de agosto vai se despedindo de nós. Está findando um período. O mês dedicado às vocações cede espaço para o mês da Bíblia que o avistamos na esquina de nossos pensamentos. Vocação que está em nós e a vamos vivenciando cada um a seu modo. Vocação que é um termo originário do latim “vocare” que significa “chamar”. Do ponto de vista religioso, Deus nos chama e envia em missão. Chamado que exige uma resposta consciente de entrega proativa pelas causas do Reino. Vocação como missão de servir. Já na Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) definia assim o termo vocação: “Onde as necessidades do mundo e os seus talentos se cruzam, aí está a sua vocação”.

Como o mês de agosto foi o da páscoa dele, resolvi estar presente no túmulo do profeta do Araguaia, para me despedir deste mês que se vai. Vocação de um bispo despojado e entregue na sua radicalidade evangélica deixa-nos um legado memorável de como sermos fieis junto a “Testemunha Fiel”. Rezando contemplando a simplicidade daquele túmulo, veio-me a mente um trecho da oração que ele compôs sobre as vocações: “Convoca-nos, Jesus! Ainda há juventude em nossa Pátria Grande. Ainda não acabou em nosso meio a raça dos profetas e dos mártires. Ainda temos sede do Amor maior. Ainda somos capazes de viver teu Evangelho. Queremos seguir-te!” Linda e comprometedora.

No último dia de agosto ainda há tempo para lembrarmo-nos do/da Nutricionista. 31 de agosto é o dia deste importante profissional. Foi nesta data que era criada no Rio de Janeiro, no ano de 1949 a Associação Brasileira de Nutricionistas. O objetivo maior desta associação foi o de desenvolver estudos qualificados acerca da alimentação do nosso povo. Papel de suma importância dos/das Nutricionistas, sobretudo num país que se especializou em produzir alimentos cada vez mais envenenados, e doentios, cuja missão/vocação destes profissionais é o de melhorar a qualidade de vida e a saúde de uma população, através da boa alimentação.

Vocação como missão para o serviço às mesmas causas de Jesus. Ele que veio para servir e não para ser servido (Mt 20,28). Mais uma vez no texto que nos é proposto pela liturgia do dia de hoje, Ele está servindo aos seus. Como de praxe, no meio dos mais pobres, realizando as ações de libertação. A estes, atendia a todos com carinho e dedicação, pois foi para eles que Ele veio. Jesus que utiliza de toda uma pedagogia para estar no meio dos desclassificados, os sem vez e sem voz. O texto é o do evangelista Lucas (Lc 4,38-44), mas que também pode ser o de Marcos. (Mc 1,29-34). Neste segundo evangelista fica mais clara a atitude de Jesus, através dos verbos: “aproximar”, “segurar”, “ajudar”, “levantar”.

Jesus que sai de si mesmo e de um possível comodismo e indiferença, diante da realidade de dor, sofrimento e da doença daquele povo da periferia de Nazaré. Aproxima (enxerga), se coloca na situação do outro (misericórdia) e ajuda a pessoa caída (solidariedade). “Jesus curou muitas pessoas de vários tipos de doença e expulsou muitos demônios. Os demônios sabiam quem era Jesus, e por isso Jesus não deixava que eles falassem”. (Mc 1, 34) O projeto messiânico de Jesus acontecendo na prática cotidiana dos pobres e marginalizados. Ação em forma de transformação. Vocação que se dá no serviço e na entrega pelo bem do outro.

Assim também devemos ser: pessoas chamadas para trabalhar pelo Reino. Não importa quem somos nós e onde estamos. Fazemos parte da grande família de Deus e somos todos irmãos e irmãs. Somos aqueles e aquelas que fomos chamados e chamadas, para a missão de dar continuidade às mesmas ações de Jesus. Estamos juntos com Ele no mesmo barco. Vocação alguma é um chamado para viver isoladamente numa concepção de fé intimista e individualista. É na comunidade que a nossa vocação ganha corpo e alma, quando juntos fazemos acontecer as utopias do Reino entre nós. Somos membros deste corpo maior que é a Igreja: “De fato, o corpo é um só, mas tem muitos membros; e no entanto, apesar de serem muitos, todos os membros do corpo formam um só corpo. Assim acontece também com Cristo”. (1 Cor 12,12)


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.