Memória de São Leão Magno, papa e doutor da Igreja
quinta-feira, 10/11/22
32ª Semana do Tempo Comum
Na Liturgia desta quinta-feira, 32ª Semana do Tempo Comum, na 1a Leitura (Fm 1,7-20), o apóstolo Paulo nos esclarece sobre a ação social da Igreja e as consequências do seguimento de Jesus. As verdadeiras transformações na ordem socioeconômica não são as que se realizam na violência, mas as que procedem de profundas convicções em vista da fé.
Paulo intercede em favor de um escravo fugitivo (Onésimo), junto a seu dono (Filêmon); ele não pensava numa sociedade sem escravos, mas, em muitos gestos, aboliu a diferença entre senhor e escravo, judeu e grego, homem e mulher. Enfim, Paulo tem a consciência de que Jesus histórico é o mesmo da Palavra, do sacrário, e é o mesmo que vive nos irmãos.
No Evangelho (Lc 17, 20-25), Jesus nos diz que o Reino não é para ser procurado por meio de sinais fantásticos; ele se manifesta em todos os espaços e oportunidades em que a ação de Jesus é continuada e difundida. Diante das preocupações quanto ao fim dos tempos, Jesus enfatiza que o mais importante é a firmeza permanente em relação aos compromissos do discipulado, baseados na oferta da vida a serviço dos irmãos.
Nos Evangelhos, Jesus confirma sua realeza, isto é, seu projeto de governo que tem como prioridade a vida e a dignidade para todos. Frente à situação histórica atual, cabe a cada um de nós construir o reino, é nossa responsabilidade. Hoje, vivemos sob uma ameaça constante de catástrofes e do perigo da destruição do planeta. São bilhões de pessoas que vivem em condições sub-humanas, não tendo o mínimo necessário para sobreviver. Vemos tantos desafios: a desnutrição, armas químicas, repressão policial, violência, assassinatos, tortura, governos corruptos, lágrimas, dor, morte, silêncio e conivência da grande maioria. Diante dessa realidade, Jesus nos adverte: “O meu reino não é deste mundo piramidal, desigual, de exclusão e marginalização. O meu reino é de fraternidade, solidariedade, de amor e paz” (Cf. Jo 18, 36).
Esta realidade caótica demostra o reino de satanás, é a imagem do inferno na terra. Opressão do demônio: “Conseguia que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, imprimissem na mão direita ou na fronte uma imagem da besta” (Ap 13,16-17). Isso tudo é oposição ao Reino de Deus: “Esta é a tenda de Deus com os homens. Ele vai morar com eles. Eles serão o seu povo e ele, o Deus-com-eles será o seu Deus. Ele vai enxugar toda lágrima dos olhos deles, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor. Sim! As coisas antigas desapareceram!” (Ap 21,3-4).
Num contexto não muito diferente, aparece Jesus. Ele viveu em uma época em que parecia que o mundo estava prestes a chegar ao fim. Mas Jesus viu uma saída e, na
verdade, mais que uma saída. Ele viu o caminho para a libertação e a realização total da humanidade. Viu, na humanidade recuperada, o seu tesouro (Lc 12,34 e Mt 13,44).
O Reino de Deus
O maior milagre que Deus nos faz é nos dar capacidade para mudar a nossa própria história, isto é, a conversão (Lc 15, 17-18), chegada do Reino visível (Mc l, l4-l5). “O Reino está no meio de vós” (Lc 17,21), percebível. Mas não se esgota na história e se concretizará na vida eterna: “Venha a nós o vosso Reino” (Lc 11,2).
Do ponto de vista de Jesus, satanás governa o mundo. Era uma geração perversa e pecadora (Mc 8,38). Isso era evidente não apenas nos sofrimentos dos pobres e dos oprimidos, mas também na hipocrisia, na dureza de coração e na cegueira dos dirigentes religiosos, na falta de misericórdia e na opressão das classes dominantes. Satanás é espírito que governa indireta e invisivelmente: César, Herodes, Caifás, Chefes dos Sacerdotes, Escribas etc. “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36).
O Reino de Jesus não se mantém com exércitos, armas e violência. Seu trono transparece no ‘presépio’ (humildade) e na cruz (sacrifício). Os tributos cobrados são a fé e o amor.
O Reino dos pobres
“É tão impossível para um homem rico entrar no reino, quanto para um camelo (corda de pescador) passar pelo buraco de uma agulha” (Mc 10,25). Os discípulos se espantavam: “Então quem pode ser salvo? Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível” (Mc 10,26-27). Será que o rico se salva?
1º) É preciso um milagre para fazer com que um homem rico entre no Reino de Deus;
2º) O milagre não seria fazer com que ele entrasse com todas as suas riquezas. O milagre seria conseguir que ele renunciasse a toda sua fortuna, de modo a poder entrar no reino dos pobres.
O Evangelho deixa claro que o bom rico não consegue dar o primeiro passo: o jovem rico nem nome tinha (Mc 10,17-22). O que dizer dos outros ricos? Em Lucas 19, o rico é excluído por não partilhar com Lázaro. Na visão de Jesus, nem um milagre salva um rico (ressuscitar um morto para avisar aos irmãos).
Seguir Jesus é deixar tudo. Jesus previne sobre a necessidade de, primeiro, sentar-se e avaliar quanto isto lhe custaria (Lc 14,28-33). Quando Jesus viu a multidão com fome, disse-lhes: “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt, 14,16). Partilharam e ainda sobrou (Mt 14,20). Mas, quando explicou a missão, muitos deixaram de segui-lo (Jo 6,66).
Zaqueu foi um rico convertido: devolveu quatro vezes (Lc 19,8). No juízo final, Jesus terá pena do rico que foi ignorante, mas não terá pena do religioso, do agente de pastoral que não ajudou o rico a devolver, partilhar.
O Reino e o prestígio
A crítica contra os escribas não era contra os ensinamentos, mas quanto à prática. O reino é dos pequenos: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes essas
coisas aos sábios e inteligentes, e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25). Jesus se misturava com os que ocupavam os últimos lugares, sentia o ‘cheiro’ das ovelhas.
O Reino e a solidariedade
Jesus superou a solidariedade grupal, partiu para a solidariedade humana, universal. “Meu pai, minha mãe, meus irmãos são aqueles que fazem a vontade do pai” (Mc 3,31-35). Jesus ficou admirado com a fé da cananeia (Mt 15, 21-28) e do soldado romano (Mt 8,5-13).
O Reino e o poder
O reino é serviço espontâneo e fraterno. Jesus crítica Herodes (raposa) e o poder romano (aves – águia) (Mt 8,19-20 ou Lc 13,31-32). Crítica os líderes do povo: ‘sepulcros caiados’ (Mt 23,13-32). Jesus morre pelo Reino. “Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1b).
Juntamente com o Reino de Deus, o julgamento do Filho do Homem se realiza na história: ele vem para manifestar a verdade da vida de todos. Essa manifestação do Filho do Homem é sempre momento grave e decisivo; dele depende a salvação ou a destruição de cada um. Serão salvos aqueles que, como Jesus, fazem da própria vida um dom para os outros.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.