O pai dos pobres

Sexta feira da trigésima primeira semana do Tempo Comum. Caminhamos para o primeiro final de semana do mês de novembro. As luzes da esperança resplandecem em formato de amor no horizonte pelas causas. Vamos fazendo a nossa caminhada em busca de nossas realizações pessoais e também coletivas, afinal como nos ensinara o poeta inglês John Donne (1572-1631): “Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente”. Sacudir a poeira, levantar das possíveis quedas e recobrar as forças, acreditando em nós, nos que caminham conosco, e vamos à mesma direção. As utopias do Reino nos aguardam, energizando e motivando o nosso ser.

Um dia especial na caminhada histórica da Igreja. Celebramos hoje a memória viva de São Carlos Borromeu (1538-1584), também conhecido como “o pai dos pobres”. Um discípulo fiel da Testemunha Fiel, ocupando altos cargos eclesiásticos, tornando-se Arcebispo de Milão e Cardeal. Todavia, dedicou boa parte de sua vida a serviço dos mais pobres e também na formação dos futuros sacerdotes. Este italiano de família nobre trocou de lado e passou a viver na sobriedade como autêntico seguidor de Jesus de Nazaré. Uma das frases atribuídas a ele pode nos servir como projeto de vida: “Somos todos fracos, confesso, mas o Senhor Deus nos entregou meios com que, se quisermos, poderemos ser fortalecidos com facilidade”.
São Carlos Borromeu, embora tendo morrido ainda muito jovem, foi alguém que soube fazer de sua vida uma dedicação especial às causas do Evangelho. Trabalhou para que fosse convocado o 19º Concílio Ecumênico da Igreja Católica, o Concílio de Trento (1545-1563), considerado o mais longo de todos os concílios. Este importante documento da História da Igreja reafirmou os dogmas de fé questionados pelo protestantismo, tais como os sete sacramentos, a autoridade do papa dentre outros mais.
São Carlos Borromeu “O pai dos pobres”. Cá entre nós, também já tivemos um pai dos pobres na história do Brasil. Atribui-se ao gaúcho de São Borja, Getúlio Vargas (1882-1954) a alcunha de “Pai dos Pobres”. Evidentemente que por outros motivos, diferentes do santo em questão. Durante o período da história denominado Estado Novo (1937-1945), se associa a Getúlio a criação do salário mínimo, da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, da Companhia Vale do Rio Doce e da Companhia Siderúrgica Nacional. Diferenças a parte, fato é que os pobres seguem vivendo a sua vida a margem da sociedade, requerendo que tal situação tenha um fim, uma vez que todos fomos chamados por Deus para viver na plenitude da vida. A vida pela metade não faz parte do sonho de Deus para nós.
A vida está sendo ameaçada diuturnamente em nosso planeta. A vida dos pobres pede socorro. A vida dos seres que habitam a nossa Casa Comum, também. Somos filhos ingratos e nos ocupamos em destruir tudo a nossa volta. O amor está no ar, mas o ódio se instalou nos corações, fazendo morada nas mentes insanas de alguns dos nossos. O sonho da convivência fraterna está cada dia mais difícil de ser concretizado, contrariando diametralmente o sonho de Deus. O desafio se faz quase impossível de se construir espaços de fraternidade e amorosidade, assim como Deus é. Neste sentido, vale uma das frases de nosso Papa Francisco: “Se o mal é contagioso, o bem também é. Deixemo-nos contagiar pelo bem!” Contagiar pela essência do amor de Deus.

Vivemos em sociedade e somos seres de esperança na vida nova. Todavia, a conclusão do evangelho de Lucas que a liturgia deste dia nos apresenta é quase que um balde de água fria em nossas pretençoes. No escrito lucano Jesus afirma: “os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. (Lc 16,8) Os espertalhões de lá e os espertalhões de cá. Contrariando esta lógica do deus-mercado, dos vigaristas que fazem da vida a arte de ludribriar e explorar os pequenos, Jesus quer que saibamos que o Reino de Deus já chegou. Ele está no meio de nós e é um dos nossos. Diante desta constatação, é preciso tomar uma atitude urgente, antes que seja tarde demais; converter-nos (metanoia) e vivermos conforme a vontade e a mensagem de Jesus. O dia de hoje bate a nossa porta. O amanhã é agora! Não esperemos mais.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.