Reflexão litúrgica: quarta-feira, 14/12/2021, 3ª Semana do Advento
Memória de São João da Cruz, presbítero e doutor da Igreja
Na Liturgia desta quarta-feira, 3ª Semana do Advento, na 1a Leitura (Is 45,6b-8.18.21b-25), vemos que a história é guiada por Deus que age sempre com misericórdia, sua vontade será realizada com a colaboração do ser humano. A salvação procede sempre da providência divina, do alto deve vir, como chuva benéfica, a justiça de Deus, verdadeiro princípio operante que, entretanto, necessita de uma terra preparada para produzir a justiça e a salvação. Em nenhum outro momento da história humana foi tão fecundo este encontro como na encarnação. O fruto que dela nos nasceu, Jesus, traz até no nome o seu destino de “salvação de Deus” (Mt 1,21).
No Evangelho (Lc 7,19-23), vemos que a mensagem dos dois discípulos de João a Jesus, mais que a confrontação de dois grandes mestres, assume o sentido do encontro decisivo do Antigo com o Novo Testamento. Se é pelo fruto que se conhece a árvore, a pergunta de João tem de ser respondida por Jesus não como mero “sim” ou “não”, mas com os resultados de sua atividade: a libertação de todos os pobres e oprimidos.
Neste texto do Evangelho vemos, também que a pergunta de João Batista é a mesma que muitos ainda hoje fazem diante de tantas incertezas, desafios e sofrimentos: Será que Jesus é verdadeiramente o Messias? A resposta não é dada em palavras, pois a vivência do cristianismo não é simples ideia ou teoria, mas sim por meio dos resultados, da prática, isto é, pelos frutos das atividades pastorais: a libertação dos pobres e oprimidos. Cegos enxergam, paralíticos andam, surdos ouvem, mortos ressuscitam etc. “É pelos frutos que se conhece a árvore”. Jesus, Mestre, ensina a ler a Bíblia a partir da ótica e compromisso com os pobres. Como ficam os que não se alinham com essa ótica? Escandalizam-se, não são solidários com a sua causa. Para muitas pessoas, a Igreja deve pregar um Messias intimista, triunfalista, sem a preocupação em recuperar a dignidade da pessoa humana, por isso o alerta de Jesus: “Feliz aquele que não se escandaliza pela sua prática”. Evitar o escândalo é ser agente de libertação, junto com Jesus e por causas Dele.
O Concílio Vaticano II, no documento sobre a Igreja no mundo atual, Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), já exortava os cristãos a que procurassem cumprir fielmente os seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho:
“Afastam-se da verdade os que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que vamos em demanda da futura, pensam que podem por isso descuidar os seus deveres terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os obriga mais a cumpri-los, segundo a vocação própria de cada um. Mas não menos erram os que, pelo contrário, opinam poder entregar-se às ocupações terrenas, como se estas fossem inteiramente alheias à vida religiosa, a qual pensam consistir apenas no cumprimento dos atos de culto e de certos deveres morais. Este divórcio entre a fé que professam e o comportamento quotidiano de muitos deve ser contado entre os mais graves erros do nosso tempo. O cristão que descuida os seus deveres temporais, falta aos seus deveres para com o próximo e até para com o próprio Deus, põe em risco a sua salvação eterna” (GS, 43).
Jesus e João têm estilos e projetos muitos distintos um do outro, mas ambos atuam em nome de Deus. A rejeição de ambos mostra o receio geral de acolher os enviados de Deus e ter de se comprometer com as exigências que eles comunicam.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.