Descendência de Davi e Abraão

Sábado da terceira semana do Advento. Entramos na semana do Natal. Já avistamos a estrela no Oriente nos encaminhando para o local do nascimento do Menino-Deus. Na simplicidade de uma criança, pobre e indefesa, Deus vem fazer morada em nós. Impossível não trazer presente os nossos sonhos de criança, em dias como estes. Natal não é somente um dia. Natal é todo dia, quando Deus se faz presente nas pessoas, sobretudo naquelas que mais necessitam dos nossos cuidados. O Natal começa no sonho do coração de Deus e se expande quando alcança o coração de cada um de nós.

Meu quintal amanheceu no clima de Natal. Depois da chuva intensa que caiu por toda a noite, o frescor úmido da manhã trouxe presente uma legião de enormes macacos bugios, escalando os galhos mais altos das árvores. Apesar do barulho aterrador, eles estavam em clima de festa, fazendo acontecer os seus rituais de acasalamento. Possivelmente, novos bebês estão a caminho do planeta, depois de cenas luxuriantes como estas. A Mãe Natureza agradece pelo dom da vida, perpetuando a espécie sobre a face da terra. A vida pede passagem, mesmo em clima de tanta destruição do meio ambiente. Como nos dizia Saint Exupery: “A terra ensina-nos mais acerca de nós próprios do que todos os livros. Porque ela nos resiste.”

Natal é vida nova. Natal é a vida que vai acontecendo e renovando. Natal é festa, como estamos em festa hoje pelo dom da vida de nosso líder maior: Para Francisco (86 anos). Nascido Jorge Mario Bergoglio, no dia 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina, ele é o 266º Papa da Igreja Católica. O primeiro Papa latino americano na história da Igreja Católica. Um Papa diferenciado que adotou como lema de seu pontificado a frase: “Miserando atque eligendo” – “Olhou para ele com misericórdia e o escolheu”. A misericórdia é um dos quatro fundamentos de vida do Papa. Além dele, está o sonho, o sorriso e a gratidão. Parabéns, Papa da alegria!

Alegria de estarmos vivos e de pertencer a grande família dos filhos e filhas de Deus. Família que tem uma descendência ancestral: a descendência de Davi e Abraão. Descendência da qual Jesus veio até nós e que o texto escolhido pela liturgia de hoje nos mostra do tronco em que Jesus foi gerado: “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. Assim, as gerações desde Abraão até Davi são catorze; de Davi até o exílio na Babilônia catorze; e do exílio na Babilônia até Cristo, catorze”. (Mt 1, 16-17)

Uma linhagem forte e com raízes profundas na rica história do povo de Israel. Tudo para nos mostrar que Jesus não é um ser qualquer, mas tem uma origem divina encarnada na realidade humana. Não se trata de um ser que vem das nuvens, mas tem uma linhagem definida a partir da história de seu povo desde os primórdios do povo de Israel. O evangelista Mateus, diferentemente de Lucas, faz questão de nos mostrar com a sua narrativa uma genealogia “descendente” que parte de Abraão e chega a “Jesus, que se chama Cristo” através de 41 nomes. Ou seja, Mateus intitula a sua genealogia como a “Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão”. Neste sentido, sua intenção primeira é a de dar ênfase não só a origem hebraica de Jesus (filho de Abraão), mas também elucidar o seu caráter “davídico” e, portanto, o seu caráter messiânico. Jesus é o Messias que veio até nós, por meio de uma origem já bastante conhecida do povo de Israel.

Longe de ser uma narrativa monótona, desconexa e cansativa, a intenção do evangelista não era a de fazer uma pesquisa histórica de arquivo sobre os antepassados de Jesus, mas tão somente trazer presente a história de Israel, com as suas respectivas etapas fundamentais e dentro desta, revelar o sentido da figura de Cristo com a proposta salvífica de Deus para os que creem. A ênfase maior está em saber que em Jesus, se chega ao ápice de toda a história do povo de Israel. Sua árvore genealógica apresenta-o como descendente direto de Davi e Abraão. Como filho de Davi, Jesus é o Rei-Messias que vai instaurar o Reino prometido. Como filho de Abraão, ele estenderá o Reino a todas as pessoas de todos os tempos, através da presença e ação da Igreja que caminha na história como povo de Deus, em sintonia com o Papa aniversariante, é claro! Viva Francisco! Viva o Papa da misericórdia!

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.