Sexta feira da terceira semana do Advento. Tempo de alegre expectativa. Tempo de ouvir a voz dos profetas bíblicos anunciando a vinda do Messias. Dentre estas vozes, uma delas soa forte nos nossos ouvidos: a voz de João Batista e também a voz de Jesus, anunciando a proximidade do Reino. Como nos diria São Paulo: o reino de Deus não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Espírito Santo. (Rom 14,17). Tempo especial para mergulhar de cabeça na mística cristã e sair fortalecidos com a presença de Deus nas nossas vidas. Alegria da criança na pessoa do Menino Deus renovando a vida.
Para os amantes da boa poesia como eu, embora não sendo um deles, no dia de hoje se faz a memória do poeta representante do parnasianismo Olavo Bilac (1865-1918). Data de seu natalício, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, foi também jornalista, contista, cronista. Sua importância é tão singular que foi ele um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando assim a cadeira 15 da instituição, cujo patrono era nada mais nada menos que Gonçalves Dias. Poetas e poetisas nem sempre valorizados e compreendidos, como nos diz Olavo Bilac nesta sua frase: “Há quem me julgue perdido, porque ando a ouvir estrelas. Só quem ama tem ouvido para ouvi-las e entendê-las”.
Ouvir as estrelas e ouvir a floresta. Estamos no dia 16 de dezembro, mas lembrando ainda do dia anterior. No dia de ontem nascia na cidade de Xapuri, no Acre, o meu xará Francisco Alves Mendes Filho (1944-1988). Chico Mendes, como era comumemnte conhecido, foi um importante seringueiro, sindicalista e ativista político brasileiro. Um homem incansável na luta da defesa da floresta Amazônica, dos povos ribeirinhos, seringueiros e indígenas, que ainda hoje, dependem da floresta para viver. Chico foi barbaramente assassinado em 22 de dezembro de 1988, a mando de poderosos latifundiários. De sensibilidade humanista apurada, Chico dizia: “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”. Quantos Chicos ainda serão necessários para salvar a humanidade?
Humanidade de João Batista e humanidade de Jesus. Um vem falando da vida que está para brotar. O outro sendo a própria vida em pessoa, anunciando em si o sonho de Deus para a humanidade. A liturgia deste período que estamos vivendo continua nos falando da figura do profeta João Batista. Desta vez, o texto é retirado do Evangelho Joanino: “João era uma lâmpada que estava acesa e a brilhar, e vós com prazer vos alegrastes por um tempo com a sua luz. Mas eu tenho um testemunho maior que o de João; as obras que o Pai me concedeu realizar”. (Jo 5,35-36) Jesus não é uma promessa. Jesus é a plena realização de Deus em nossas vidas. O prometido que se faz presença viva de Deus em nossa história. O Humano vindo do Divino nos fazendo seres divinizados.
Em Jesus, a história humana inaugura uma nova etapa. As promessas de Deus, anunciadas pelos profetas do Antigo Testamento, ganham vida na vida e vinda de Jesus. Os verdadeiros profetas testemunharam a Antiga Aliança. Somente um destes profetas teve a chance de testemunhar e conviver diretamente com a promessa: João Batista. É sempre bom lembrar que quando o precursor começou o seu anúncio, os judeus estavam esperando o Messias, que iria libertá-los da miséria e da dominação estrangeira. João pedia a adesão do povo para a acolhida do Messias que traria em si a libertação. A era messiânica ganha dimensão de realidade através das ações de Jesus: “As obras que eu faço dão testemunho de mim, mostrando que o Pai me enviou”. (Jo 5, 35)
De um jeito ou de outro, também hoje estamos todos aguardando a nossa libertação. A luta por dias melhores é intensa. A esperança está no horizonte das nossas expectativas. Entretanto, entre nós há profetas e falsos profetas. Como distinguir nos dias atuais o verdadeiro do falso profeta? No tempo de Jesus havia a dúvida em reconhecer se Jesus realizaria ou não a vontade de Deus. Diante da dúvida deles, Jesus apresenta as três dimensões que confirmam sua missão divina: sua ação em favor da vida e da liberdade; o testemunho de João Batista, que o apresenta como salvador; as palavras das Escrituras, que anunciavam o que Ele realizaria. Resta-nos a conclusão de que de nada adianta dizer que temos fé e repetir mecanicamente as palavras da Bíblia; é necessário que as nossas ações sejam de continuação das mesmas ações de Jesus. Neste sentido, as obras que fazemos no dia a dia, dão testemunho de nós? Ou figuramos na lista dos falsos profetas de agora?
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.