Jesus, a luz de Deus

Domingo do Natal do Senhor. Enfim, chegou o grande dia. O Menino-Deus já está entre nós. Jesus, a luz de Deus se faz presente em nossa história, renovando todas as estruturas. O Filho de Deus veio nos visitar e fazer morada em nós. Em Jesus a divindade de Deus se faz humana nos levando à divindade de Deus. Sintonia perfeita de amor entre Pai e Filho engravidando a história humana e nos fazendo novas criaturas. Da periferia vem a salvação. De Belém, na região da Judeia para o centro do mundo, recortando a história no antes e depois. O mistério da encarnação se fazendo no Verbo como vida nova. Da insignificância, Deus faz significância e sentido. De onde não se espera é que nos vem o mistério da vida.

Jesus, a luz do mundo. O sonho de Deus se fazendo realidade visível e palpável à nossa fé. Rezei nesta manhã defronte da manjedoura que ensaiei em minha casa, tentando aproximar do berço nascedouro de Jesus. Aproveitei para contemplar e trazer presente, todos os presépios do mundo, com os pobres vivenciando no dia a dia o nascimento do Deus Menino. Mirei as periferias existenciais humanas, vendo nelas a presença viva de Jesus, pobre com os pobres, nas Marias, Josés, grávidos da presença divinal de Deus. Os invisíveis e rejeitados, sendo portadores do visível mistério de Deus encarnado em suas histórias de vida. Findei a minha oração cantarolando em meu intimo: “Ó luz do Senhor que vem sobre a terra inunda meu ser permanece em nós”.

A liturgia deste dia nos traz a leitura do Evangelho de João. (Jo 1,1-18) É o início da narrativa Joanina, que os exegetas denominam de “Prólogo de São João”. Este evangelista é diferente dos demais Mateus, Marcos e Lucas. Nos seus escritos, João procura fazer uma meditação, no intuito de aprofundar e mostrar para nós, seus leitores, o conteúdo da catequese da comunidade Joanina. Seu empenho visa a despertar alimentar a nossa fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, a fim de que as pessoas tenham a plenitude da vida (Jo 10,10). A vida está em primeiro plano, não de qualquer jeito, mas alcançando a sua plenitude. Fomos criados para desfrutar de todas as realizações que a vida nos oferece. Assim nos plasmou Deus.

Segundo João, Jesus já existia no sonho mais íntimo de Deus: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. (Jo 1,1-3) A Palavra é o Amor pleno de Deus. Quando o Verbo se faz carne na pessoa de Jesus de Nazaré, o amor de Deus engravida a história, fazendo de nós pessoas de amorosidade em Deus. Pela fé, entramos nesta intimidade com Deus, absorvendo este grande mistério de amor. Amor este, não mais visto como sentimentalismo, mas como essência do divino que é Deus em nós. Mistério que vai se desvendando na medida em que caminhamos para o Primado do Absoluto que é Deus.

O Verbo se fez carne no ventre amoroso da Mãe. Não há como falar do Filho sem antes falar da Mãe. Deus toma a iniciativa de escolher Maria para ser a Mãe do Salvador. Uma mulher pobre, excluída e rejeitada como tantas outras mulheres de seu tempo. Engravidada do amor de Deus, ela se torna a protagonista primeira do projeto salvífico de Deus para a humanidade. Através de seu sim corajoso e decidido, ela entra para a história como a mulher dos sonhos de Deus. Ela foi escolhida de modo especial por Deus para cooperar em seu plano de salvação do gênero humano. Mãe dos seres humanos, Mãe dos discípulos, Mãe dos cristãos, Mãe dos redimidos e Mãe de todos aqueles que renascem em Cristo. Maria Mãe da Igreja. Coube ao Papa Pio XII, no dia 29 de junho de 1943, evidenciar Maria, a nova Eva, como Mãe de todos os cristãos na Igreja.

O Verbo encarnado como Palavra viva teve um berço pobre. Jesus pobre se fazendo pobre com os pobres, bem distante da arrogância e prepotência dos palácios de ontem e de hoje, e também de algumas igrejas, padres e bispos adornados com os seus egos. Da periferia e da classe social dos mais pobres, Deus faz ressurgir o seu Reino como projeto em construção. Neste sentido, gosto da ideia que nosso bispo Pedro encontrou para traduzir a vinda do Messias da periferia: “No ventre de Maria Deus se fez homem. Na oficina de José, Deus se fez classe”. A classe dos pobres. De família humilde e pobre, neste ambiente familiar, “Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. (Lc 2,52) O Filho é a Imagem do Pai, e o Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo e mútua amorosidade de comunicação.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.