Luz e sombras

Sábado do sétimo dia do Natal. Chegamos ao final de mais um ano. Mais um ciclo que se encerra, abrindo o horizonte de uma nova etapa. Tempo de olhar para trás e ver tudo aquilo que construimos e agradecer pelo bem que foi feito; nos penitenciarmos por aquilo que não edificamos sob a ótica de Deus. Tempo de olhar para frente e cruzar a fronteira renascidos da esperança, pois o Senhor caminha conosco também nesta nova etapa que se inicia.

Tempo novo, vida nova. Tempo de avistar o horizonte e nele nos jogarmos de corpo e alma. Somos aquilo que vamos construindo, sem abrirmos mão do protagonismo da esperança. O esperançar de Deus deve estar presente na agenda de nossas ações, regadas pelo amor incondicional de Deus para conosco. O Deus que muito ama, é o amor que ultrapassa todas as fronteiras de nossas maquinacões, renovando tudo e a todos, desde que, por ele nos deixemos embriagar.

Findamos uma etapa e estamos diante de novos desafios. O velho ficou para trás e o novo se descortina como perspectiva de novos horizontes de realizações. Como seres “aprendentes”, temos que estar dispostos a aprender com o ontem, passado que se foi, para não cometer os erros que tivemos. Luzes e sombras como instrumentos que teremos às mãos, de escolhas factíveis que faremos, orientadas pelos princípios e valores que traremos em nossas mentes e corações. De esperança em esperança, como gostava de nos dizer Dom Paulo Evaristo Arns.

A luz brilha nas trevas de nossa escuridão. Esta luz é jesus, como a liturgia católica nos faz ver no dia de hoje. Estamos mais uma vez diante da riqueza que é o “Prólogo de São João”, que o texto do Evangelho nos propõe refletir: Jesus, Palavra de Deus que é a luz que ilumina a consciência de todas as pessoas. Luz das luzes. Palavra Divina de Deus que veio iluminar todas as trevas. Luz que é mistério irrompendo na escuridão de nossa ignorância, nos permitindo caminhar sem o medo da escuridão. Luz que é Palavra e que é vida em nossas vidas. Luz do amor divinal de Deus, iluminando-nos no aqui e agora de nossa história.

Jesus, a Luz de Deus se fazendo vida em nossas vidas. Palavra encarnada se fazendo humana do mistério divino em nossa história. Jesus, o Filho que é a Imagem do Pai. O Pai que se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo de mútua comunicação e amorosidade profunda. Jesus, a luz de Deus que é a Palavra da Sabedoria de Deus vislumbrada nas maravilhas do mundo e no desenrolar da história humana.

Jesus, presença viva de Deus em nós. Já não estamos mais condenados a caminhar nas trevas de nossa escuridão. Todavia, a opção é nossa: continuarmos a viver submersos nas nossas ações de escuridão, ou sair à luz do dia, mostrando quem somos, o que queremos e como vamos edificar um mundo, onde a luz esteja no lugar mais alto, iluminando todas as nossas ações.

“Minha luz é Jesus, e Jesus me conduz, pelos caminhos da paz.” Assim cantávamos com as crianças na catequese anos atrás. Jesus é esta luz que quer estar no centro das nossas vidas. Mesmo que alguns não a percebam ou não a queiram para si, ela vai estar sempre alí. Luz, como Palavra viva, sendo vida nas vidas. Luz a guiar os nossos passos rumo às realizações de cada dia. Que neste ano que ora inicia possamos ser luzes a brilhar no nosso interior, irradiando luzes à todos aqueles e aquelas que conosco convivem, edificando com e por eles caminhos de luzes. Sejamos luzeiros irradiando a luz que é Jesus!


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.