“Pois Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a lória para sempre! Amém (Rm 11,36)”

Reflexão litúrgica: quarta-feira, 08/02/2023
5ª Semana do Tempo Comum

 Na Liturgia desta quarta-feira, 5ª Semana do Tempo Comum, veremos na 1a Leitura (Gn 2,4b-9.15-17), uma catequese sobre a origem do mundo e da vida. O autor bíblico relata que Deus criou o ser humano para viver num diálogo de amor, isto é, para a felicidade e para a vida plena. Mas o ser humano quis ser independente de Deus e determinar, por experiência própria, o que é o bem ou o mal. Rompendo com o projeto de Deus, o ser humano sente-se ‘nu’, despojado dos dons de Deus, incapaz de ser feliz.

Para o escritor, é Deus quem fixa a moral do ser humano, quem indica o caminho da imortalidade e da vida plena. Escolhendo errado, o ser humano, desde o início da história, destrói a harmonia no mundo (jardim) e é a origem do mal. O ser humano é o autor do mal no mundo.

Outros elementos e seus significados:

Jardim, plantas, água abundante: é o ideal de felicidade para os que vivem no deserto;

Árvore da vida: é a terra e tudo o que o ser humano usufrui dela, símbolo da imortalidade;

Árvore do conhecimento do bem e do mal: representa a autossuficiência do ser humano.

No Evangelho (Mc 7,14-23), vemos a atitude de Jesus diante da Lei. Os grupos religiosos (principalmente os Fariseus) eram os ‘fiscais’ das virtudes e vícios alheios, eram profundamente exigentes na observância externa das leis e se escandalizavam porque os apóstolos não faziam, antes de comer, os ritos de purificação, prescritos por preceitos humanos.

Jesus comunica que a relação com Deus não é só uma série de ritos prontos e determinados, mas uma base sólida de fé interior, opção pela boa vivência, respeito ao ser humano, mais que regras formais, gestos e ritos externos. Jesus não aprova esse espírito mesquinho só de aparência e chama esses grupos de hipócritas, pois deixam o mandamento de Deus e se apegam a coisas secundárias. Para Jesus, não basta apenas a observância externa da Lei e das tradições humanas, mas, antes de tudo, uma autêntica conversão do coração. Deus olha o interior das pessoas e não as práticas exteriores e formais.

O que contamina o homem? Jesus ensina a “ecologia do coração”

“Escutai, todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulhos, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro e são elas que tornam impuro o homem”.

Penso essa liturgia quer nos comunicar um ensinamento de ordem não só individual, mas também social e coletivo, como bem disse o pregador do Papa, o Pe. Raniero Cantalamessa: “A distorção que Jesus denunciava de dar mais importância à limpeza exterior que à pureza do coração se reproduz hoje em escala mundial. Há muitíssima preocupação pela contaminação exterior e física da atmosfera, da água, pelo buraco de ozônio; e, pelo contrário, silêncio quase absoluto sobre a contaminação interior e moral. Nós nos indignamos ao ver imagens de pássaros marinhos que saem de águas contaminadas por manchas de petróleo, cobertos de óleo, incapazes de voar, mas não fazemos o mesmo por nossas crianças, precocemente viciadas e apagadas por causa do manto de malícia que já se estende sobre cada aspecto da vida.

Que fique bem claro: não se trata de opor entre si os dois tipos de contaminação. A luta contra a contaminação física e o cuidado da higiene é um sinal de progresso e de civilização ao que não se pode renunciar a nenhum preço. Jesus não disse, naquela ocasião, que não era preciso lavar as mãos ou os utensílios e tudo o demais; disse que isso, por si só, não basta; não vai à raiz do mal.

Jesus lança então o programa de uma ecologia do coração. Tomemos alguma das coisas ‘contaminadoras’ enumeradas por Jesus, a calúnia com o vício a ela emparentado de dizer maldades à custa do próximo. Queremos fazer de verdade um trabalho de saneamento do coração? Empreendamos uma luta sem tréguas contra nosso costume de fofocar, de fazer críticas, de participar em murmurações contra pessoas ausentes, de lançar juízos rapidamente. Isto é um veneno dificílimo de neutralizar, uma vez difundido” (Pregador do Papa: Jesus ensina “a ecologia do coração”, 01/09/06, Zenit).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.