Os de dentro e os de fora

Terça feira da Terceira Semana do Tempo Comum. O mês de janeiro caminhando para o seu ocaso. Uma semana apenas nos separam do mês seguinte. Em alguns países se comemora hoje o “Dia Internacional da Educação”. Data escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU), reconhecendo a importância da educação de qualidade para o desenvolvimento de toda a humanidade, de crianças e adolescentes e, sobretudo, como uma das formas de se combater às desigualdades sociais e de gênero. Todavia, esse combate só será possível com uma educação que promova inclusão e a igualdade. Como nos dizia nosso mestre pedagogo Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

Uma semana que começou diferente na minha vida: sem comunicação via celular. Com esta vida moderna, não ter em mãos o celular, é como se estivéssemos desnudos. Quase todas as informações da nossa vida ali estão. É um tal de bloquear isto e aquilo. Passei a minha segunda feira com esta difícil tarefa. Este aparelhozinho faz a diferença em nossas vidas. A pessoa que, sorrateiramente, tirou a minha fonte de comunicação, não sabe o quanto de dissabores ela me causou. Apossar do alheio sem nenhuma cerimônia ou constrangimento. Ainda que eu tenha adotado para mim esta máxima: o importante é possuir um celular e não deixar ser possuído por ele.

Estar em casa é tudo de bom! Voltar para o nosso cantinho é tudo aquilo que o coração pede, quando nos afastamos. Não precisa ser um palacete sofisticado, mas é o lugar que nos acolhe na intimidade e cumplicidade que é peculiar. Até o ar que respiramos em nossa casa é diferente. O aconchego que ela nos proporciona quando à ela voltamos, nos faz imaginar estar no colo de Deus. Neste sentido, sou obrigado a concordar com Marianna Moreno: “Tudo na minha casa diz quem eu sou e isso é o que mais gosto nela”. Meu cantinho revela quem de fato eu sou e como sou.

Madruguei mais uma vez e desta feita, rezei contemplando as maravilhas do amanhecer no Araguaia. Estava com saudades deste belo panorama. O sol rompendo a aurora do dia, colorindo de vermelho as águas volumosas deste “grande oceano”. Como diz a canção mineira: “Ribeirão ta cheio. Tá de monte a monte”. No nosso caso aqui, o Araguaia se espraiando pela Ilha do Bananal nos seus 19.162 km². A presença viva de Deus se fazendo Teofania. Ou seja, a manifestação visível do próprio Deus. A palavra teofania, cuja origem vem da combinação de duas palavras gregas, “theos”, que significa “Deus”, e “phainein”, significando “mostrar” ou “manifestar”. Deus se manifestando neste fenômeno da natureza as margens do Araguaia.

Uma terça feira especial para a História da Igreja. No dia de hoje ela celebra a festa de São Francisco de Sales (1567-1622), patrono dos jornalistas e escritores. Bispo e doutor da Igreja foi beatificado em 1661 pelo então Papa Alexandre VII. Quatro anos mais tarde, foi canonizou em 1665. Ficou conhecido como o apóstolo do amor e da misericórdia. É atribuída a este grande homem de Deus uma das frases que tenho como projeto de vida: “Não se preocupe com o que pode acontecer amanhã; o mesmo Pai eterno que cuida de você hoje, se encarrega de você amanhã e todos os dias. Ou Ele protegerá você do sofrimento, ou lhe dará a força infalível para suportá-lo”. São Francisco de Sales, rogai por nós!

A temática trazida pela liturgia de hoje é bastante propícia para refletirmos sobre a nossa caminhada de fé neste mundo. De um lado está Jesus, sentado em meio a multidão e, de outro chegam sua mãe e seus irmãos, querendo com Ele falar. A resposta de Jesus surpreende a todos, inclusive a nós: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos”. (Mc 3,33-34) Do lado de fora, a familia de sangue. Do lado de dentro a família daqueles que se fazem com Ele pela adesão e pelo seguimento.

De que lado estamos nós afinal? Do lado de dentro, ou do lado de fora? Em qual das duas situações nos colocamos? Por aquilo que somos e fazemos, onde nos colocamos diante de Jesus? Somos aqueles e aquelas que não saimos de dentro dos templos, orando, meditando, adorando, cumprindo preceitos, normas, ou estamos no meio da multidão realizando as obras de libertação, próprias de Jesus? É bom que saibamos que, enquanto a família segundo a carne está “fora”, a família segundo o compromisso da fé está “dentro”, ao redor de Jesus. Sua verdadeira família é formada por aqueles e aquelas que realizam na própria vida a vontade de Deus, que consiste em dar continuidade a missão d’Ele. Afinal, como Ele mesmo disse: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. (Mc 3,35)

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.