Segunda feira da Sexta Semana do Tempo Comum. A semana começa sem que estejamos no ritmo, afinal no final de semana sempre damos aquela relaxada. Assim, devagar as coisas vão se engrenando no ritmo novamente. Liturgicamente estamos praticamente no início do “Tempo Comum”. Ao contrário do ano civil, o Ano Litúrgico não possui uma data fixada de começo e fim. Ele se inicia no I Domingo do Advento e se encerra no sábado da 33ª (ou 34ª) semana do Tempo Comum, semana iniciada com a Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo. “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e Ele será chamado de Emanuel, que significa Deus conosco” (Mt 1,23).
Rezei nesta manhã as margens do Araguaia. Ver todo aquele volume de água descendo, buscando o caminho do desaguar no Rio Tocantins, na altura da região tocantinense conhecida como Bico do Papagaio, no extremo norte do estado, é uma visão de plena esperança. Ter o sol por testemunha, promovendo um cenário de ficção paradisíaca é acreditar na esperança de Deus se fazendo teofania de mistério entre nós. Apesar de esta cena acontecer a cada manhã, a impressão que nos dá é que cada dia é diferente do outro. Assim, resta-nos agradecer o dom da vida e a alegria de um novo amanhecer. Há sempre um novo amor em cada amanhecer. Toda vida renasce com o amanhecer.
Deus entra na história da humanidade, mesmo sendo Ele o Senhor do tempo e da história. A salvação de Deus vêm até nós na pessoa do Filho que se encarnou em nossa realidade humana. Deus, na sua infinita misericórdia, quer salvar a todos e todas. Ao longo da história da caminhada da Igreja, os homens foram criando mecanismos e transformando a experiência de uma “Igreja do Caminho” em uma fé ancorada no medo, no castigo, como se Deus fosse um carrasco sempre pronto e disposto a castigar seres errantes. A infinitude da compaixão e misericórdia de Deus não lhe permite ser este algoz criado pelos membros da Igreja, levando as pessoas a viver a fé em um Deus do medo.
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. (Pr 9,10) Temer a Deus não é viver uma experiência de fé baseada no medo. Deus é pleno de amorosidade e quer que tenhamos a vida na sua totalidade e integralidade. Aprender com Ele que nos ama infinitamente é encontrar a sabedoria que dele nos vêm. Só quem permanece aberto para aprender é capaz de assimilar a sabedoria e encontrar o caminho da realização. A vida está em nossas mãos. Quem compreende isso está completamente livre para escolher o seu caminho. Quando estamos em Deus a vida ganha um novo sentido e passamos a dedicá-la às causas maiores. Como nos diria a poetisa portuguesa Florbela Espanca (1894-1930): “Não és sequer a razão de meu viver, pois que tu és já toda a minha vida”.
A liturgia desta segunda feira nos propõe refletir mais uma vez num dos embates de Jesus com os terríveis fariseus. Em apenas quatro versículos, o evangelista Marcos relata a cena dos fariseus querendo que Jesus lhes apresente um sinal de que Ele era, de fato, o enviado de Deus: “para pô-lo à prova, pediam-lhe um sinal do céu”. (Mc 8,11) Entretanto, Jesus não está disposto a dar-lhes nenhum sinal, visto que eles queriam um Messias triunfalista e não aquele homem vindo do meio dos pobres de Nazaré. O sinal de Jesus é a sua identificação com os mais pobres, fazendo acontecer entre eles a libertação proposta por Deus para os pequenos.
Jesus faz questão de não apresentar nenhuma prova de ser Ele o Messias que veio de Deus e que realiza a vontade do Pai. Ele não necessita de apresentar aos fariseus qualquer tipo de sinal. Aliás, quem se aproxima de Jesus e faz a caminhada com Ele consegue ver a presença do Verbo encarnado nas atividades que Ele realiza entre os pobres. Querer outro tipo de sinal é desacreditar da presença viva de Deus na pessoa do Filho. Os fariseus de ontem e os fariseus de agora. Muitos ainda hoje vivem em busca deste sinal. Estar com Jesus já é por si o sinal de que o Messias é um de nós. Caminhar com Ele é acreditar na caminhada que fazemos juntos com os irmãos nas estradas da vida. Tal situação faz lembrar-se de uma das frases ditas por nosso bispo Pedro: “É fácil levar Jesus no peito; difícil é ter peito, coragem para seguir Jesus”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.