Quarta feira da Sexta Semana do Tempo Comum. No dia de hoje, celebramos a memória viva do Martírio de um padre colombiano: Camilo Torres Restrepo (1929-1966). Foi assassinado no dia 15 de fevereiro de 1966, em San Vivente de Chucuri, na Colômbia. Ele fazia parte do Exército de Libertação Nacional (ELN). Seu corpo foi desaparecido pelo Exército colombiano e seus restos mortais são reivindicados ainda hoje pelos seus familiares e também pela Igreja. Um de seus livros publicados em 1981 (Cristianismo e Revolução) tem a apresentação de nosso bispo Pedro, ao qual recomendo a leitura, ainda mais nestes tempos, onde os mais conservadores vêem “comunismo” em tudo o que diz respeito aos mais pobres.
“Como gostaria ter uma Igreja pobre e para os pobres”, disse o Papa Francisco recentemente no Vaticano durante um encontro com os jornalistas. Uma Igreja voltada para as suas origens primordiais, onde os seus seguidores primeiros deram sequência à missão de Jesus, de estar ao lado dos mais necessitados: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque Ele me ungiu. Ele me enviou para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros”. (Is 61,1) Não uma Igreja clerical e sacramentalista, que encontrou no século IV a porta de entrada para o poder e, alguns setores dela, não buscou o caminho de volta.
Nesta manhã São Pedro não me permitiu rezar, como gostaria, às margens do Araguaia. Suas volumosas e assustadoras nuvens cobriram rapidamente o céu do Araguaia, prenunciando um temporal a vista. A manhã se fez noite escura, prolongando a madrugada no lugar do sol. Deixei me levar pelo silêncio do meu quintal, contentando em apreciar o vento que soprava da Ilha do Bananal. Nenhum passarinho nos galhos. O silêncio monástico tomou conta do ambiente, se fazendo clima propício à oração. Oração gratuita e espontânea, como acreditava o escritor francês Antoine de Saint Exupéry (1900-1944) que dizia: “A grandeza da oração reside principalmente no fato de não ter resposta, do que resulta que essa troca não inclui qualquer espécie de comércio”.
Continuamos nestes dias com a nossa leitura atenta orante do Evangelho de Marcos. Provavelmente, este evangelista escreveu o seu Evangelho em Roma, por volta dos anos 64 d.C. e 70 d.C., talvez após a morte do Apóstolo Paulo, possivelmente no ano de 64 d.C. O propósito primeiro da sua escrita era o de responder à pergunta: “Quem é Jesus?”. Todavia não o faz descrevendo doutrinas teóricas ou discursivas do Mestre Galileu. Sua preocupação era a de relatar a prática libertadora ou atividade de Jesus, permitindo assim que o leitor chegue por si mesmo à conclusão de que esse Jesus é o Messias, o Filho de Deus (1,1; 8,29; 14,61; 15,39). Através da sua prática, Jesus realiza o projeto messiânico segundo a vontade do Pai, entrando em conflito direto com uma concepção de Messias ligada aos esquemas de dominação de sua época.
O texto proposto pela liturgia para o dia de hoje não foge a este propósito. Desta vez, Jesus está em Betsaida. Uma das cidades da Galileia, no lado oeste do mar de Tiberíades, na “terra de Genesaré”. Esta era a cidade onde nascera Pedro, André e Filipe, e era frequentemente visitada por Jesus (Mc 6,45; Jo 1,44; 12,21). Esta foi também a cidade próxima onde Jesus alimentara cerca de cinco mil pessoas, conforme o relato do evangelista São Lucas (Lc 9,10). É nesta cidade no lado leste do lago, três quilômetros acima do rio Jordão, que Jesus realiza mais um de seus sinais, ao restaurar a vista de um pobre cego. (Mc 8,22),
Jesus não era apenas mero curandeiro ou fazedor de milagres. Os sinais que realizava em favor dos pequenos e marginalizados era no sentido de oferecer a eles a oportunidade recomeçarem a vida. Mais uma chance de voltar para as suas vidas com a certeza de que não estavam mortos e de que nada, nem ninguém lhes poderia negar o amor misericordioso e compassivo de Deus. Ao mesmo tempo que realizava os sinais de cura, Ele combatia o esquema interno classista e opressor, sustentado por uma ideologia religiosa das lideranças locais, provocando o confronto da atividade de Jesus com a sociedade judaica do seu tempo. Os discípulos acompanham toda esta ação de Jesus, mas ainda não percebem que Ele é o Messias. Só compreenderão isso claramente a partir da cena seguinte, onde Jesus começa a revelar seu próprio destino (Mc 8,27-10,52). Nesta postura dos discípulos está um pouco de cada um de nós que ainda não entendemos quem é este Jesus afinal.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.