Quinta feira da Sexta Semana do Tempo Comum. Dia especial para todos nós aqui da Prelazia de São Félix do Araguaia. No dia 16 de fevereiro de 1928, a Europa viu nascer um de seus grandes homens: Pedro Casaldáliga. Uma das províncias de Barcelona, na Espanha nos deu um pastor, místico, poeta e profeta do Araguaia.
Pedro, como simplesmente gostava de ser chamado, chegou por estas bandas de cá em 1968. Três anos depois, era ordenado o bispo desta Igreja, para a graça dos enfrentantes, posseiros, indígenas, ribeirinhos e desespero dos latifundiários e militares de plantão. Construiu a sua história de luta em defesa dos empobrecidos desta região do Mato Grosso, se tornando a voz dos sem voz e sem vez. Levou a sério a sua vida de pobre entre e com os pobres.
Deixou-nos um legado prestimoso das boas causas. Um bispo diferente para uma Igreja diferente. Foram anos de enfrentamento de uma realidade nua e crua, tendo a vida ameaçada diuturnamente, mas sem jamais perder a teimosia, a esperança e a profecia. “Minhas causas valem mais que a minha vida”, afirmava ele perante as forças da morte. Pedro vive nos nossos sonhos do Reino, resistentemente nas utopias de nosso ser quem somos nós.
Tendo Pedro em mente, rezei e construí os meus rabiscos de hoje dentro do ônibus, rumo à Cuiabá. Entre um sacolejo e outro, fui driblando o corretor na tela do celular. Os 190 km iniciais em estrada de chão não me demoveram da ideia de manter o meu propósito de postar as minhas reflexões diárias. Aqui estou, tentando ser fiel às mesmas causas de Jesus que também eram as de Pedro.
Quem somos nós? Quem sou eu? Quem é você? O que dizem as pessoas a respeito do ser que somos nós? O que as pessoas dizem, reflete aquilo que somos nós? São as perguntas que cotidianamente devemos nos fazer, como fez Jesus diante de seus discípulos: queria Ele saber aquilo que as pessoas pensavam e diziam d’Ele. É o que a liturgia desta quinta feira nos apresenta através do texto do Evangelho de Marcos. Jesus fazendo um balanço de sua ação e missão no meio do povo mais simples: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27)
Jesus querendo saber como as pessoas estavam vendo sua ação e missão messiânica. Pelo visto, pela resposta dada pelos discípulos, claro está que nem todos sabiam discernir quem era Jesus, se João Batista, Elias ou alguns dos profetas do Antigo Testemunho. A convivência com o Messias não tornava claro para as pessoas o objetivo primeiro da presença viva do Verbo encarnado no meio delas.
Jesus vai mais além e, desta vez, quer saber o que pensam e sentem os seus discípulos a respeito d’Ele: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29) Evidentemente Pedro, mais afoito que os demais, traz a resposta talvez mais esperada: “Tu és o Messias”. (Mc 8,29) Mesmo não tendo ainda a dimensão exata desta sua afirmação pois, como se sabe, ele foi um daqueles que negou Jesus num dos momentos cruciais de sua. Mas nem este fato o fez menos seguidor de Jesus que os demais.
Somos também perguntados por Jesus para darmos a nossa resposta de quem é Ele para nós. Assim como aos seus discípulos, para responder a tal pergunta, precisamos fazer uma revisão da nossa vida. Através de Pedro, os discípulos conseguem definir quem é esse Jesus para eles. A proximidade com o Mestre Galileu os faz entender que Ele é um dos nossos, que veio conosco estar. Falta-nos esta proximidade com o Senhor. Só estando junto d’Ele saberemos que Ele é o Deus-Conosco, caminhando nas estradas de nossa vida afinal: “Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; só tu tens palavras de vida eterna! (Jo 6,63c.68c)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.