Testemunhas Fieis

Quinta feira da Quarta Semana da Quaresma. Uma manhã de outono com cara de inverno aqui pelas terras da Prelazia de São Félix do Araguaia. São Pedro não economizando na água vinda do céu. Sem barulho e sem vento, chuva mansa a despejar. Se o dia de ontem foi o Dia da Água, hoje comemoramos o Dia Mundial da Meteorologia. Ela que é uma das Ciências que trata do estudo da atmosfera terrestre, cujo foco principal está nos processos da dinâmica atmosférica e na previsão do tempo. Tudo isso no intuito de ajudar a humanidade a se precaver contra a dinâmica físico-química da superfície terrestre.

A água é um bem universal! Sem ela, nenhum ser vivo sobrevive. Lembrando que o direito a água é um dos diretos fundamentais do ser humano, como bem ficou definido na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Paris, no dia 10 de dezembro de 1948, no seu Artigo 3: “Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”. Isto para nos dizer que, sem este bem universal, não alcançaremos tais direitos. Todavia, o cenário brasileiro é ainda caótico neste sentido, uma vez que cerca de 35 milhões de pessoas continuam sem acesso a água potável. Tal situação configura um cenário dantesco, já que uma em cada quatro mulheres não tem acesso à água tratada ou não é abastecida com regularidade no Brasil.

Por falar em água, temos uma fonte de água cristalina jorrando dentro de cada um de nós. Jesus é esta fonte de água viva que brota do Pai. Foi assim que Ele se revelou à mulher samaritana: “aquele que beber a água que eu vou dar, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe darei, vai se tornar dentro dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna.” (Jo 4,14) Esta fonte nunca seca. Jesus que sacia a nossa sede, de água, de justiça, de vida plena, e não nos deixa acomodar diante das mazelas que ameaçam a vida de todos os seres vivos.

“Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16) Ou seja, Deus não quer que as pessoas se percam, e nem sente prazer em condená-las jamais. Ao contrário, Ele manifesta todo o seu amor através da pessoa de Jesus, para salvar e dar a vida a todos e todas. Entretanto, este não foi o entendimento que tiveram as autoridades, lideranças religiosas do tempo de Jesus. Nesta quinta, a liturgia nos mostra tal situação, uma vez que Jesus ainda está colhendo os frutos por ter tido a atitude de curar um doente em pleno dia de sábado.

O texto de hoje é belíssimo. São João, com a sua arte literária e teológica, nos brindando com uma das páginas mais belas do Novo Testamento, quando Jesus descreve a relação de sintonia e amorosidade entre o Pai e o Filho. Pai e Filho falando a mesma linguagem, provando a sincronia de amor que existe entre ambos: “As obras que eu faço dão testemunho de mim, mostrando que o Pai me enviou”. (Jo 5, 36) Segundo a literatura Joanina, Jesus é o enviado de Deus, aquele que revela o Pai à humanidade. Deus, na sua ternura e amorosidade misericordiosa, quer dar a vida plena às pessoas. Em Jesus está a revelação desse amor que realiza a vontade do Pai, dando sua vida em favor de todas as pessoas.

Resta-nos dar testemunho deste amor nas relações que vamos construindo ao longo da vida. Sermos testemunhas com a “Testemunha Fiel”. Testemunhar, não com palavra ditas, anunciadas, proclamadas, mas testemunhar com a própria vida. Deixar que a vida fale por si mesma daquilo que somos. Ser o que se é em todas as circunstâncias. Não ser aquilo que não se é. De nada adianta decorar e vomitar todos os versículos da Bíblia, se eles não estão presentes na nossa prática cotidiana da vida como palavras vivas. Dar testemunho do amor generoso de Deus para com todos os seus filhos e filhas. Jesus dá pleno testemunho do Pai “e também o Pai que o enviou dá testemunho a seu favor (Jo 5,37). Se o seguirmos, de fato, seremos suas testemunhas por onde quer que formos já que: “o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas até os extremos da terra”. (At 1,8)


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.