“Há uma dupla fome dentro de mim: a fome de santidade e a fome da beleza”.
“Natália Tulasiewicz*, Ravensbrück, 31 Mar., 8 (1945)”. Assim consta o nome da beata mártir polonesa no índice do martirológio da Santa Igreja.
31 de março celebramos a memória de vários santos e beatos, em que a maioria sofreu martírio em nome de Cristo por vários séculos; no entanto, lembremos hoje da biografia mais recente e não menos importante que enfrentou a fúria nazista para falar da ressurreição de Cristo.
09 de abril de 1906 é o natal de Natália Tulasiewicz na cidade de Rzeszów, Polônia. No seio de uma lar católico cresceu e em 1921 transferiu-se com sua família para a cidade de Poznán, onde configurou a sua vida acadêmica. Musicista, mestra e professora, amante da quarta arte, fez Natalia o tema de sua dissertação de mestrado voltado para a música. Trabalhou em escolas privadas e liderou apostolados leigos. Visitou Assis na Itália em 1938 e sentiu grande emoção na cidade de São Francisco, um de seus santos de devoção.
Em 1939 sobreveio na Polônia invasões de duas forças que, embora inimigas, eram contrárias ao catolicismo: Alemanha nazista a oeste e Rússia Soviética a leste. Os polacos, de um cristianismo tão vivo, viram seus templos católicos serem fechados e transformados em depósitos e postos militar.
Na Polônia tem sido gerado muitos santos e nessa dura guerra surgiram mártires com testemunhos de fé imitáveis. Acreditavam os nazistas que os poloneses não necessitavam de educação superior; portanto, seriam servos ignorantes. Escolas suspensas, seminários fechados, os poloneses lutaram contra tais tiranias agindo na clandestinidade. Um professor nunca deixa de ser professor. Natalia foi membro do professorado que compunha o Estado Subterrâneo Polonês e esteve envolvida com a educação clandestina na Cracóvia. Esta educação consistia em uma rede que atuava no ensino em apartamentos fechados e nos subterrâneos. Lembremos com gozo que um Santo Padre foi gerado num seminário subterrâneo clandestino na Polônia, a saber, Karol Wojtyła.
Ao saber da dor de seus compatriotas no gueto, Natalia alistou-se para ser deportada juntamente com trezentas jovens para prestar serviços forçados na Alemanha. Preocupada com a inexperiência daquelas meninas, Natalia prestou assistência emocional e espiritual. Claro que tais atitudes não passariam despercebidas à Gestapo, polícia secreta nazista, que logo a transferiu para o campo de extermínio Ravensbrück, exclusivo para mulheres. Tal campo foi um dos primeiros a ser construído e um dos últimos a ser liberado.
Torturada, espancada e humilhada em público, Natalia não deixou-se abater. Àquela altura, em março de 1945, a Alemanha já estava enfrentando a invasão dos aliados. Na última semana de março, coincidentemente Semana Santa, Natalia sofreu duramente maus-tratos.
Não obstante, reuniu forças e coragem para sair de sua barraca e na sexta-feira santa proclamou um discurso sobre a Paixão e Ressureição de Cristo. Certamente Natalia uniu seus sofrimentos aos sofrimentos de Nosso Senhor. Dois dias depois, no domingo de páscoa, a mártir é levada para a câmera de gás, onde é assassinada. Em 31 de março de 1945, no domingo de páscoa em que toda a cristandade celebrava a ressurreição de Nosso Senhor, fez Natália a sua páscoa para comtemplar o ressuscitado. Dois dias após a sua execução o campo de extermínio de Ravensbrück foi libertado pelos soviéticos.
Em 1999 João Paulo II, sacerdote fruto de um seminário subterrâneo clandestino polonês, beatificou 108 mártires poloneses deste atroz conflito. Natália Tulasiewicz é uma das duas mulheres leigas a compor esta lista.
Que tenhamos a coragem de falar do sacrifício de Cristo mesmo em situações adversas, pois foi morrendo que Natália Tulasiewicz ganhou a vida eterna.
Beata Natália, rogai por nós.
Meyre Fráguas Correa Pereira, natural de Timóteo-MG, atua profissionalmente na rede pública do estado de Minas Gerais como professora de História no ensino básico. Licenciou-se em História pelo Centro Universitário de Caratinga-UNEC em 2018 e atualmente é discente do curso de Pedagogia. Atua na PASCOM da Paróquia São Domingos de Gusmão na cidade de São Domingos do Prata-MG, onde é residente. É amante da literatura e estuda a língua latina.