A paz desejada

Quinta feira da Oitava da Páscoa. Seguimos o nosso roteiro litúrgico de celebrar a Páscoa de Jesus como se fosse um só dia. Vamos nesta toada até o Segundo Domingo da Páscoa (16) ou o Domingo da Misericórdia. Nas nossas comunidades o Círio Pascal segue aceso, representando a Luz do Ressuscitado. Círio que tem origem na palavra latina “cereus” que significa cera. Desde os primórdios do cristianismo, o Círio está presente nas celebrações, simbolizando a presença viva do Cristo Ressuscitado como a Luz do mundo: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8,12) A luz escura da morte deu lugar a vida em Deus.

Jesus passou pela morte, mas está vivo. O mistério de Deus se faz vida na vida d’Ele. Na Oitava da Páscoa, somos desafiados a manter viva a nossa fé na pessoa do Ressuscitado. Tempo de oração, meditação da Palavra e participação ativa na caminhada com os irmãos. Contemplar Jesus ressuscitado na pessoa dos crucificados da história. Contemplar o Deus invisível aos olhos humanos, mas tendo a visibilidade daqueles que ainda hoje seguem sendo crucificados. A fé nos faz ver um Deus ausente, presente nos invisibilizados. Amar a Deus e aos crucificados como amamos a nós mesmos. Difícil tarefa, mas não impossível quando se trata do estar em Deus, mas com a força do Ressuscitado.

Ressuscitar com Cristo é “buscar as coisas do alto” (Col 3,1), como São Paulo já nos alertara. Mas nem tudo são luzes e nem dias de paz e ressurreição como gostaríamos. No dia em que comemoramos o “Dia do Jovem”, vemos o quanto eles estão sendo ameaçados, inclusive dentro das escolas. Que pessoas mais loucas são estas que atacam as escolas de forma assim tão violenta e cruel? Apesar de celebrarmos o Dia Nacional da Juventude (12 de agosto), o dia de hoje é reservado para pensarmos nos nossos jovens. Enquanto a população mundial deles é constituída pela cifra de 16%, com cerca de 1,8 bilhões de jovens, no Brasil eles (15 a 29 anos) somam 23% de nossa população, perfazendo um total de 47 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“É preciso paz pra poder sorrir”. É preciso paz para se viver. Não se busca a paz promovendo as armas de guerra e nem “dando cursos de tiro” para crianças. A paz é uma construção e conquista de todos nós que desejamos dias melhores para viver. Não como a “Pax Romana”, que foi aquele período da história romana marcada por uma “aparente paz e prosperidade”, durante a transição do período republicano para o período imperial, que trouxe a estabilidade ao Império Romano e garantiu a autoridade de Roma sobre suas províncias – República (509 – 27 a.C) e Império (27 a.C – 476 d.C). Paz do faz de conta. Paz apenas para alguns “cidadãos de bem”.

A paz que buscamos é a paz que é fruto da justiça. A segurança é fruto da paz e “a paz é fruto da justiça”, conforme já anunciava o profeta Isaías, há pelo menos, sete séculos antes de Cristo (Is 32,17). A nossa paz é Jesus que anuncia a mesma paz que vem de Deus, como o texto do Evangelho de Lucas nos faz refletir no dia de hoje na liturgia. O contexto é ainda do cenário da Ressurreição, em que Jesus aparece para seus discípulos e discípulas, animando-os e os preparando para a difícil tarefa de levar adiante a missão: “Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!” (Lc 24,36). Paz como condição fundamental para serenar os espíritos e criar a coragem necessária para ir à luta. “A paz do coração é o paraíso dos homens”, já nos dizia o filósofo grego Platão.

O tempo é de paz. O tempo é de Ressurreição. É bom que se diga que a Ressurreição de Jesus não é fruto da imaginação do evangelista, dos discípulos ou de quem se põe na caminhada com Jesus. Ela também não é obra do acaso, ou algo puramente espiritual. A Ressurreição é a vitória triunfante da vida sobre a morte. Fato que atinge o próprio corpo dos filhos de Deus. Daí a identidade do Ressuscitado com o Jesus terrestre. Somos seres de ressurreição quando, através da nossa ação humana que desenvolvemos ao longo da vida, os corpos oprimidos, doentes, torturados, famintos e sedentos, não é apenas obra de misericórdia, mas é sinal concreto do fato central da fé cristã: a ressurreição do próprio Jesus agindo em nós e por nós. Fazer a experiência do Ressuscitado é deixar que a nossa vida seja preenchida pela força de Deus revelada na pessoa do Filho.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.