A conversão pelo renascimento

Segunda feira da Segunda Semana da Páscoa. A semana inicia e seguimos nós na perspectiva da Páscoa do Cristo Ressuscitado. Olhar adiante no horizonte da história, mas trazendo na bagagem todo o processo que levou o Filho de Deus à morte, para que Deus fizesse justiça e o descesse da cruz para glória da Ressurreição. Crucificados com Jesus estamos, na espera da feliz hora de com o Cristo ressuscitarmos todos. “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. (Gal 2,20) Acreditar em Jesus Cristo é colocá-lo no centro da vida, a ponto de poder dizer: “Já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim.”

Páscoa do Cristo Ressuscitado. Páscoa de Dom Celso de Queiroz. A semana inicia com a partida de mais um dos nossos profetas. Perdemos um ser humano incrível e ganhamos um intercessor junto de Deus. Faleceu, aos 89 anos, nesta noite de domingo (16) o primeiro bispo emérito da Diocese de Catanduva. Dom Celso foi o Bispo Auxiliar de São Paulo no período de 1975-2000, tendo uma grande atuação como Vigário Episcopal da Região do Ipiranga, onde o conheci nos meus bons tempos de estudante de Teologia. Grande amigo de Dom Paulo Evaristo Arns, com quem formou uma dobradinha de atuação, sobretudo, na defesa dos trabalhadores e dos Direitos Humanos.

Dom Celso de Queiroz (1933-2023) foi nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo pelo saudoso Papa Paulo VI em 15 de outubro de 1975, cuja ordenação acontecera na Catedral Metropolitana de Campinas, pela imposição das mãos de Dom Antonio Maria Alves de Siqueira. Caminhou com os pobres e no meio deles, fazendo a Opção Preferencial pelos Pobres, como foi pedido na Conferencia de Medellín (1968). Costumava dizer que se a Igreja não for dos pobres e para os pobres ela deixa de ser de Jesus de Nazaré. Dom Celso foi também assessor da CNBB, de 1971 a 1975, Subsecretário Geral da CNBB, entre 1972 e 1975, e do Regional Sul 1 da CNBB, em 1975.

Dom Celso renasceu para a vida em Cristo. Renascer para a vida é a grande temática do dia. A liturgia desta Segunda Feira da Páscoa nos convoca a repensar a nossa vida à luz da pessoa do Ressuscitado. Para este fim, o texto sugerido nos vem do Evangelho de João (Jo 3,1-8), cuja narrativa é a da figura de Nicodemos. Um dos chefes dos judeus. Como bom fariseu que era, tinha um profundo conhecimento das Escrituras. Ele vai ao encontro de Jesus na calada da noite. Nicodemos era um dirigente judeu que tinha um grande poder de representatividade. Ele havia ficado impressionado com as palavras e as ações de Jesus, na sua primeira intervenção, em Jerusalém.

Jesus não rejeita a pessoa de Nicodemos pelo fato de saber quem ele era. Ao contrário, estabelece com ele uma relação dialogal, ao qual Jesus propõe: “Em verdade, em verdade, te digo, se alguém não nasce do alto, não pode ver o Reino de Deus”. (Jo 3,3) Renascer na concepção de Jesus é passar por um processo profundo de conversão. Renascer do alto pela ação do Espírito que é oferecido gratuitamente por Deus a pessoa humana. O Espírito torna o ser humano capaz de responder aos anseios de Deus. Ao aludir à Água e ao Espírito, Jesus traz os dois elementos essenciais do batismo, onde ali se realiza o novo nascimento, o renascer para a vida em Deus.

Mesmo com todo o seu conhecimento, Nicodemos fica desconcertado diante da proposta de Jesus. O Mestre Galileu o mostra que ter fé n’Ele, não basta admirar o que Ele diz e faz. Requer uma entrega total de compromisso com Jesus, passando por uma transformação profunda, um novo nascimento, renascer. Isso implica não apegar aos esquemas e estruturas estabelecidas para estar sempre aberto para a novidade de Deus. Quem realmente se converte se deixa guiar pela ação do Espírito de Deus, tornando-se um ser renovado e imprevisível para as demais pessoas. Não se trata de escolha que fazemos, mas já fomos escolhidos: “Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu os destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de vocês permaneça”. (Jo 15,16) Como podemos perceber, a partir de agora a liturgia não se prenderá aos relatos das aparições de Jesus Ressuscitado, mas passaremos a meditar sobre os anúncios anteriores registrados durante a vida pública de Jesus no meio dos seus.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.