Terceiro Domingo da Páscoa. Continuamos celebrando as alegrias da Páscoa. Momentos em que também nos ressurgimos para a vida nova como proposta para nossa existência feliz. Ser luz para nós mesmos e para os outros. Conosco vai caminhando Jesus ressuscitado, abrindo nossos olhos, ouvidos e coração para acolher a sua mensagem libertadora. Acolher a Palavra é entender o mistério que ela nos traz à luz da fé. Fé que não se explica, mas se vive. Quem acolhe a Palavra se torna mensageiro dela, anunciando o “Querigma” (anúncio das verdades da fé) da libertação de Deus na pessoa do Filho Ressuscitado.
Como cristãos seguidores e seguidoras do Ressuscitado, somos convidados a partilhar a vida nova que vem de Deus, através da ressurreição de Cristo Jesus. Vida partilhada, vida doada. Testemunhar o Ressuscitado no caminhar da história. Fazer da vida serviço às causas do Reino, partilhando o Pão na mesa da Eucaristia e nas esquinas da vida. Ser instrumento nas mãos de Deus, através do compromisso de fé na libertação integral de todas as formas de opressão. Do mesmo modo que caminhou com os seus primeiros seguidores, Jesus também continua caminhando conosco, alimentando nossos sonhos de justiça e utopias pelo Reino.
Domingo feliz da Ressurreição do Senhor. Domingo que também comemoramos uma data importante: 23 de abril, “Dia Mundial do Livro”. Esta data foi escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para celebrar o livro, como forma de incentivar a leitura entre nós, além de homenagear autores, dentre eles, Machado de Assis, Clarice Lispector e William Shakespeare. Quem tem o hábito da leitura sabe o quanto significa para as nossas vidas um bom livro. Como alguém já disse, quem não lê, é obrigado a acreditar naquilo que os outros lhes dizem como verdade absoluta.
Fiz o meu percurso literário no Seminário ainda no colegial. Graças a nossa Professora Zilda, fiz a minha incursão pelo mundo da literatura, de onde nunca mais consegui sair. A paixão foi tanta que, nos primeiros anos, “devorei’ todos os livros da biblioteca dos seminaristas e fui parar na biblioteca da clausura dos padres. Apesar de gostar de ler, foi no livro da vida que mais aprendi a ser quem sou e como sou. No livro da vida dos povos indígenas, então, encontrei a sabedoria cultural ancestral. Foi ali, no meio deles, que vivenciei aquilo que fora dito pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860): “Os eruditos são aqueles que leram nos livros; mas os pensadores, os gênios, os iluminadores do mundo e os promotores do gênero humano são aqueles que leram diretamente no livro do mundo”. No meu caso, no mundo indígena.
Caminhar pela vida é fazer a experiência do existir com sentido e significância maior. A vida se faz caminhada, sempre! O caminhar está implícito no jeito humano de ser. Caminhamos para fora do útero aconchegante de nossas mães, para dar continuidade na caminhada pelas estradas da vida. Caminhamos em frente, até o nosso encontro pessoal com Deus, com Jesus que se faz caminhante com os seus. Jesus estradeiro. Jesus que vai ao encontro de todos aqueles que caminham, como hoje está descrito para nós no texto que a liturgia nos oferece como dádiva de Deus (Lc 24,13-35). Os “Discípulos de Emaús”, que fazem a experiência de ter consigo a presença do Ressuscitado que vai ao encontro deles. Se põe na mesma caminhada com eles como presença viva de um Deus que liberta e salva. Texto cheio de nuanças que somente aparece no Evangelho de Lucas, como uma obra prima da literatura bíblica.
No mesmo dia da Ressurreição (o primeiro da semana). É compreensível que aqueles pobres homens caminhassem desolados, tristes e batidos, afinal, o Mestre deles havia sido pendurado numa cruz como um grande malfeitor. Mesmo estando junto, eles não o reconhecem. O clima de medo, incerteza e desesperança cegou-lhes a visão, mas não o sentimento que carregavam no coração. Embora sentido o seu coração abrasar, somente na partilha do pão (Eucaristia) é que eles o reconhecem como o Filho de Deus. Mesmo cansados, depois de terem caminhado por onze quilômetros, eles se põem em missão de anunciar o Ressuscitado: “Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos com os outros. E estes confirmaram: Realmente, o Senhor ressuscitou”. (Lc 24,33-34) Que escrevamos o livro da nossa vida na perspectiva do Ressuscitado que vai abrindo caminhos de luz na nossa história de vida.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.