O sonho de Deus em Jesus

Quinta feira da Terceira Semana da Páscoa. Páscoa que não é só um dia. Todos os dias são dias de Páscoa. Todos os dias são dias para caminhar à luz do Ressuscitado. Ele se faz epifania (manifestação) nas nossas vidas e na história humana. Em Jesus, Deus se manifesta pleno no Verbo que se encarna. Deus também é epifania na pessoa dos irmãos e irmãs que encontramos e convivemos no caminhar da vida. Como dizia nossa Santa Dulce dos pobres: “Nesse serviço de Deus e dos pobres, chega-se a um ponto em que não se vive mais a própria vida e, sim, a vida deles; nos esquecemos de nós para viver só para Deus e eles”. Epifania também presente nas vidas destes nossos ícones da “Igreja da Caminhada”: Padre Júlio Renato Lancellotti e Frei Carlos Mesters.

Jesus é o sonho de Deus no meio de nós. Deus se manifestando através da vida doada sem limites do Filho. No tempo e na história, Deus vem caminhar conosco na pessoa de seu Filho amado: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado” (Mt 17, 5). Neste tempo pascal, reforçamos em nós a convicção de que a vida e ação de Jesus não terminam na sua morte. A Ressurreição se fez ato no “primeiro dia da semana” e se faz permanentemente na vida daqueles e daquelas que acreditam e fazem a sua adesão à Jesus. Todos os que ouvem o convite de Deus e seguem a Jesus até o fim, começam desde já a participar da sua vitória final, quando ressuscitarão com Ele.

Ontem foi mais um dia de Páscoa e epifania no Pontificado de nosso Papa Francisco. Tomando uma decisão histórica nesta quarta feira (26), o papa autorizou o voto feminino no próximo Sínodo dos Bispos. É a primeira vez na História da Igreja que as mulheres terão o direito ao voto. Desde o início do Sínodo dos Bispos, apenas os homens tinham permissão para votarem as propostas. Com esta decisão do nosso Pontífice, cinco religiosas se juntarão a cinco padres como representantes votantes de ordens religiosas. Além destas, outras 35 mulheres ligadas à igreja, também votarão. Uma Igreja eminentemente masculinizada, abrindo espaço para o protagonismo feminino de mulheres que sempre caminharam com Jesus, mesmo sem serem reconhecidas pelos seus “seguidores”. Ufa! Já não era sem tempo.

Vivendo e aprendendo. Caminhando e se fazendo aprendente, esta é a tarefa principal de todo aquele e aquela que se faz estradeiro com Jesus. Aprendentes com Jesus, pois não somos seres acabados, mas inconclusos, inacabados e incompletos, na procura do crescimento em todos os níveis e sentidos. Caminhar com Jesus no tempo e na história de mãos dadas com os nossos irmãos, para alcançarmos aquilo que Paulo Freire tanto insistia, de construir uma “sociedade menos feia, uma sociedade em que seja possível amar e ser amado (…) não é possível sonhar e realizar o sonho se não se comunga este sonho com as outras pessoas”.

Apesar de estarmos vivendo no nosso “cronos” (tempo da história), o tempo é de Deus (Kairós – momento certo, oportuno). Deus que se manifesta onde e como quer. E este “kairós de Deus” jamais pode ser medido, pois, de acordo com o que diz o apóstolo Pedro em uma de suas cartas: “um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pe 3,8). Ou seja, Deus não mede o tempo como nós. Assim, Ele nos dá a oportunidade de iniciar e consolidar o nosso processo de conversão a cada momento de nossas vidas.

No tempo histórico de nossa história, segundo a liturgia do dia de hoje, Jesus vai se manifestar mais uma vez para os seus: “Eu sou o Pão da vida!” (João 6,35,48). Essa declaração é a primeira das sete vezes em que Jesus vai declarar-se como “Eu Sou!” no evangelho joanino (8,12; 10,1,9; 10,11,14; 11,25; 14,6; 15,1,5). Todavia, ao afirmar-se “Eu sou o Pão da vida”, Jesus se coloca como o doador e sustentador da vida. Não de qualquer tipo de vida, mas a plenitude desta vida. É por este motivo que o evangelista faz questão de frisar que quem vai até Ele, jamais terá fome; e quem crê n’Ele jamais terá sede. Ele é o enviado de Deus que sacia a fome e mata a sede. Todo tipo de fome, e sede, não apenas a ”espiritual”, como algumas lideranças religiosas ainda insistem em querer dizer: fome de pão, de justiça, de igualdade, de fraternidade, de comunhão e participação, de compaixão, de amorosidade, de ternura, de misericórdia, de trabalho, de moradia, de lazer. “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. (Jo 6,51) Buscamos força na Eucaristia que é o Sacramento que manifesta na vida da comunidade esse compromisso com a encarnação e a morte de Jesus.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.