Segunda feira da Quarta Semana da Páscoa. Festa de São José Operário. José, esposo de Maria que é conhecido como “o homem justo”. Mesmo sem entender inicialmente o processo, ao fazer parte do plano libertador de Deus em Jesus, ele se entrega confiante e se faz instrumento nas mãos do Senhor. Acreditou e se entregou como Maria, fazendo de suas vidas objeto do desejo de Deus: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”. (Lc 1,38) juntamente com a Mãe, cuidou de Jesus na simplicidade da periferia em Nazaré. Jesus, Maria e José, a tríade de Deus adentrando a história humana.
Nosso bispo Pedro resumiu de forma bastante simples a relação de Jesus com o seu meio e a participação decisiva daquela família pobre de Nazaré: “No ventre de Maria Deus se fez homem. Na oficina de José, Deus se fez classe”. É no seio de uma família pobre, que Deus escolheu fazer nascer e crescer o seu Filho. Jesus não nasce num bairro nobre dos jardins e nem no palácio de uma das lideranças religiosas de seu tempo. Ele é pobre e vem de uma família de baixa renda, razão pela qual, em assim acontecendo, Deus tem um lado, uma classe: o lado e a classe dos empobrecidos, marginalizados, excluídos e invisibilizados. É da periferia que vem a salvação/libertação.
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu. Ele me enviou para anunciar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros”. (Is 61,1) Foi assim que o profeta Isaías definiu o programa de vida de Jesus. E esta experiência de se colocar ao lado dos pobres vem do berço, onde Jesus bebeu e aprendeu com a ajuda de sua família pobre, no dia a dia na oficina de José. Os destinatários primeiros da missão de Jesus são os pobres, não porque estes sejam melhores que os demais, mas porque estão mais facilmente abertos à fraternidade e à partilha.
Abril se despediu na esquina do tempo, entregando ao sucessor a responsabilidade de nos levar adiante, rumo às nossas realizações. Um dia especial na vida de todos nós. Hoje comemoramos o “Dia do Trabalhador e da Trabalhadora”. É assim comemorado em pelo menos 80 países pelo mundo. Se bem que a elite burguesa tentou fazer deste dia o “Dia do trabalho”. Entretanto, basta conhecer a origem da criação deste dia para se saber que o buraco é mais embaixo. “O Dia do Trabalhador e da Trabalhadora” surgiu a partir de uma greve dos operários, ocorrida nos Estados Unidos (EUA), no ano de 1886, em plena vigência da Revolução Industrial, iniciada em 1750, reivindicando melhorias nas condições de trabalho e, principalmente, redução da jornada de trabalho (8 horas).
É pelas mãos calejadas dos trabalhadores e trabalhadoras que a vida em sociedade é construída. O trabalho faz parte intrínseca da dignidade do ser humano. No ato da criação, cada pessoa foi pensada, sonhada e desejada por Deus, através de seu divino trabalho criador. Na linguagem freiriana, poderíamos dizer que na “belezura” profunda do ser transcendente de Deus, Ele criou o ser humano conforme a sua própria imagem e semelhança (Gn 1, 1-26) Enquanto o trabalho dignifica o ser humano, a exploração dele faz acontecer a opressão e a desigualdade. Para se perceber esta realidade, o filosofo e economista Karl Marx (1818-1883) já nos alertara em seu tempo: “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”.
“O meu Pai trabalha sempre, e eu também”. (Jo 5, 17) foi assim que Jesus definiu o seu ser trabalhador em sintonia com o Pai. Antes ser uma maldição para a humanidade, o trabalho nos faz realizados, pois somos trabalhadores e co-autores partícipes na criação com Deus. Ao assumir a nossa condição humana em tudo, exceto no pecado (Hb 4, 14), Jesus também foi trabalhador, seja na carpintaria de José, seja na missão de levar aos pobres a Boa Nova com palavras e sinais concretos de libertação. A própria Doutrina Social da Igreja (DSI) fala que Jesus “trabalhou com mãos humanas” (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n. 22)
Trabalhar pelo Reino tornou-se a especialidade de Jesus, que no dia de hoje o texto do Evangelho nos traz como este trabalhador que se faz “Bom Pastor”. Um trabalhador/pastor que é capaz de dar a sua vida pelos seus: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”. (Jo 10,11). Alguém que, por amor, é capaz de dar-se por inteiro. Um trabalhador incansável pelo Reino de Deus. Não busca os seus próprios interesses, mas se coloca a inteira disposição para fazer acontecer no mundo o sonho de Deus: Reino. Jesus no seu trabalho nas causas de Deus com os pobres, não pregou a si mesmo, mas esteve ao lado dos pobres, desvalidos e enxotados desde o seu nascimento. Assim sendo, Ele nos convida a sermos trabalhadores com Ele pelo Reino, como verdadeiros cristãos que seguem a Jesus de Nazaré, mantendo firme o propósito e o desejo de servir e não de sermos servidos.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.