Unidade na transcendência

Terça feira da Quarta Semana da Páscoa. Vamos seguindo o nosso itinerário, alimentados pela força do Ressuscitado que se fez gente como a gente. No tempo pascal, celebramos um dia de cada vez, com a certeza de que o Senhor é conosco. O Deus da vida está presente no Filho que faz questão de permanecer entre nós. Presença garantida em cada um de nós, na medida em que fazemos a nossa adesão à Jesus, de dar continuidade as mesmas ações d’Ele. Como diria Santo Atanásio que celebramos hoje o seu dia: “À festa da Páscoa segue-se a festa de Pentecostes, para a qual nos preparamos, como de festa em festa, para celebrar o Espírito que já está conosco em Cristo Jesus”.

Festa da Páscoa de Jesus. Festa da páscoa de Dom Tomás Balduíno (1922-2014). Exatamente no dia de hoje, celebramos 9 anos da páscoa deste grande bispo. Tomás foi nomeado e ordenado bispo da cidade de Goiás em 1967, onde permaneceu até o ano de 1999 quando, ao completar 75 anos, renunciou. Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com os anos de chumbo da Ditadura Militar (1964-1985), o que não o impediu de ser a voz forte e atuante em defesa da Reforma Agrária, dos indígenas, adequando a sua diocese as normativas do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) e de Medellín (1968).

Tomás, juntamente com outros bispos como o nosso Pedro, foi o criador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e também da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Nestes dois órgãos vinculados a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Tomás Balduíno teve atuação destacada, seja como presidente do CIMI, de 1980 a 1984 e da CPT de 1999 a 2005. Sobre este grande bispo disse Pedro Tierra em um de seus poemas: “Quiz ser uma voz entre vozes, ergueu sua voz dentro do vasto coro dos oprimidos: os índios, os posseiros, os lavradores, os retirantes da seca e da cerca e os que se levantam contra elas, as mulheres, os negros, os migrantes, os peregrinos para forçar claridades, para ensinar amanhecer”.

Tomás, um frade Dominicano amigo dos pobres e grande aliado das causas de Jesus. Fez da sua vida Dom e serviço aos empobrecidos. Grande amigo de Pedro volta e meia aparecia aqui pelas bandas da Prelazia, pilotando o seu teco-teco. Sabíamos quando chegava, pois costumava dar um rasante sobre a casa de Pedro, que nos dizia: “vai alguém lá no aeroporto buscar Tomás!”. Aos 91 anos, no dia 2 de maio de 2014, o bispo da reforma agrária e dos indígenas, faleceu, deixando um legado de luta, esperança e crença no Deus dos pobres. Que venham outros bispos iguais a Tomás, sobretudo com esta nova direção da CNBB.

Liturgicamente seguimos refletindo o capitulo 10 de São João (Jo 10,22-30). Desta vez, Jesus está em Jerusalém, bem no ninho da serpente, na festa da Dedicação do Templo. Mais uma festa judaica tradicional em que historicamente se comemorava anualmente a purificação do Templo por Judas Macabeu no ano 148 dos Selêucidas (que corresponde a 165 a.C.) após a profanação realizada por Antíoco IV Epifânio (1 Mac 4,36-59; 2 Mac 1,2-19; 2 Mac 10,1-8). Esta festa durava tem torno de oito dias. E Jesus se faz presente no templo para acompanhar esta festa. Aproveitando-se deste ensejo, os judeus vão inquiri-lo quanto a sua origem e missão: “Até quando nos deixarás em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente”. (Jo 10,24) Não bastou para eles verem todas as ações desenvolvidas por Jesus até aquele momento. Queriam ter dele mais que uma confissão, e sim uma palavra sua para incriminá-lo definitivamente.

O ultimo versículo do texto de hoje é paradigmático sobre a ação e missão de Jesus no meio deles: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30) Ao assim afirmar, Jesus define sua condição de Messias, apresentando-se como o Filho de Deus. Todavia, as provas de seu messianismo não são palavras apenas, mas fatos concretos: suas ações comprovam que é Deus quem age n’Ele e por Ele. Jesus que faz unidade na transcendência. Deus que é um ser onisciente, como aquele que possui plena e perfeita sabedoria e está ciente de tudo o que ocorre, e que é a própria fonte de todo o conhecimento. O Onisciente de Deus, cujo poder é ilimitado e todo poderoso, presente e atuante em seu Filho no aqui e agora da história. O humano de Jesus alcançando e compreendendo a natureza transcendental, sendo a presença viva de Deus no mundo. Jesus que não é apenas o enviado de Deus, mas é Deus mesmo vivo na nossa história humana. E isto para os judeus já era demais. Por isso, eles decretaram a “pena de morte” para Jesus.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.