Quarta feira da Quarta Semana da Páscoa. Em pleno tempo pascal, damos uma parada para celebrar a vida de dois dos seguidores de Jesus: São Filipe e São Tiago Menor, Apóstolos. Dois dos seguidores de Jesus privilegiados, pois estiveram lado a lado com o Mestre e foram instruídos por Ele. Entretanto, a fidelidade destes dois homens não se mede pelo fato deles terem sido escolhidos e chamados por Jesus, mas pela maneira como eles corresponderam a este chamado, fazendo de suas vidas serviço às causas do Reino. Gastaram a própria vida para anunciar Jesus, como Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787) assim resumiu como carisma fundante da Congregação Redentorista – C.Ss.R: “Dies Impendere pro Redemptis” (Gastar os dias pela Redenção).
Dois “conterrâneos” de Jesus que fizeram parte dos “Seguidores do Caminho”, como eram denominados os primeiros cristãos, como nos relata o livro dos Atos dos Apóstolos: “Era ele instruído no caminho do Senhor; e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão a respeito de Jesus, conhecendo apenas o batismo de João”. (At 18,25) Anunciadores da Boa Nova, o renascer, um modo de vida na contramão de sua cultura e sociedade, acreditando firmemente na possibilidade de se construir um mundo melhor. Com Jesus adquiriram raízes, eram radicais até a morte, já que muitos deles foram martirizados por causa do seguimento de Jesus.
A “Igreja do Caminho”, esta era a identificação dos primeiros seguidores de Jesus nas comunidades primitivas nos primeiros anos do cristianismo. Caminho de vida, mas que também levava à morte, já que a perseguição não parou em Jesus, se estendendo à todos aqueles que trilhavam os caminhos com Ele. Tanto é verdade que Paulo, antes de sua conversão, na fase de perseguição aos cristãos, pediu autorização as autoridades religiosas, conforme está descrito assim em Atos: “e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém”. (At 9,2)
Homens e mulheres do Caminho. O cristianismo não nasce em berço de outro ou nas dependências dos palácios. A proposta de Deus revelada em Jesus nasce nos rincões da periferia, à margem de tudo e de todos. É de onde não se espera que vem o projeto da vida. Gente simples do povo, pecadores, prostitutas, pagãos, coletores de impostos, são os primeiros a fazerem parte do discipulado de Jesus. Gente lascada das quebradas que ninguém dava nada por elas. Até Jesus mesmo era um destes renegados pelo sistema vigente da época: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré”. (Jo 1,46) Na contra mão do sistema, Deus faz emergir a salvação/libertação.
“O que importa na vida não é o ponto de partida, mas a caminhada. Caminhando e semeando, no fim teremos o que colher”, assim resumiu poeticamente Cora Coralina. Somos todos do mesmo caminho que é Jesus, nosso Mestre e Guia. Ele que no texto da liturgia de hoje define a si como: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. (Jo 10,6). Caminho, verdade e vida, três dimensões intrínsecas que resumem o Ser de Deus em nós na pessoa do Filho. Caminho que se abre em horizonte pleno de realizações múltiplas, permeado pela verdade como sabedoria, gerando vida em sua totalidade aos que trilham o mesmo caminho com Ele. Caminho de erros e acertos, mas, sobretudo de recomeço, quantas vezes forem necessárias.
Caminhar com Jesus não é para qualquer um, mas para aqueles e aquelas que estão dispostos a ser vida na vida d’Ele. Ser com Ele, requer caminhar pelas trilhas da verdade, sem mentira, falsidade, ódio ou rancor. Verdade anunciada por Jesus como essência de seu Ser no meio de nós. “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14) Deus mesmo se fazendo pleno em Jesus. Caminho, verdade e vida, na amorosidade de um Deus que é plena ternura e compaixão sem limites para com os seus. Jesus que se faz como o verdadeiro caminho para a vida. Através da sua presença em nossa história, Deus, doador da vida, se manifesta inteiramente na pessoa e ação de d‘Ele. Assim sendo, quem se põe na dinâmica do caminho com Jesus não caminha para o abismo ou fracasso, pois o horizonte à frente é a vida. Jesus não apresenta apenas uma utopia distante e inatingível, mas nos convida a percorrer um caminho historicamente concreto de esperança na irmandade e fraternidade. Caminho feito com e por amor, como entendeu o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.