O “Discurso de Despedida”

Segunda feira da Quinta Semana da Páscoa. Entramos em mais uma semana do mês de maio. Devagar vamos caminhando rumo às nossas realizações que estão adiante. A esperança vai reacendendo em nós novos horizontes de perspectivas. Acreditar que vamos chegar até elas é o principio básico para alcançá-las com o nosso trabalho e dedicação. À luz da fé, planejamos os nossos dias esperançando com as nossas ações, fazendo e acontecendo. Lutar, resistir, persistir! Como disse o cantor e compositor jamaicano Bob Marley (1945-1981): “Mais vale a lágrima da derrota do que a vergonha de não ter lutado”.

A vida acontece na caminhada que se faz ao longo desta jornada. A dinâmica do existir pressupõe estar disponível para desenvolver esta caminhada. Percorrer o caminho nem sempre traçado, pronto e acabado. Vai se fazendo caminho no caminhar no passo a passo da história, lembrando daquilo que nos fora dito pelo grande sociólogo alemão Karl Marx (1818-1883): “A sua pressa histórica não apressará o momento histórico”. Um dia de cada vez de um passo seguido do outro. Como diz uma das canções de nossas comunidades: “Vem, caminheiro, o caminho é caminhar, vai, peregrino, meu amor testemunhar”.

Caminhar com Jesus, fazendo parte de seu discipulado. A verdadeira fé, adulta e comprometida, nos coloca no grupo de Jesus, quando fazemos a nossa adesão a Ele. A fé não se resume a algo intimista de caráter individualista. Como a cruz possui dois vértices, horizontal e vertical, a nossa relação de fé supõe esta mesma dimensão. Ao mesmo tempo em que nos relacionamos com Deus, devemos estar abertos à relação com os irmãos. Só se ama a Deus aquele que é capaz de amar os irmãos: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e no entanto odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê”. (1 Jo 4,20)

A liturgia desta segunda feira nos coloca mais uma vez no cenário em que Jesus está proferindo o seu “Discurso de Despedida”. Esta é uma peculiaridade do evangelista João, uma vez que somente ele narra este discurso que vai do capitulo 14 ao 17. Jesus falando aos seus discípulos, aos 11, uma vez que Judas Escariotes, o traidor, já havia abandonado o grupo. Um discurso de uma imensa riqueza cristológica, ao final da Última Ceia com os seus. Hoje Jesus discorre sobre o amor e de como deve ser o nosso jeito de amar. Amor este que começa na medida em que acolhemos os seus ensinamentos (mandamentos), colocando-os em prática. Feito isso, o próprio Jesus nos garante: “quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele”. (Jo 14,21)

Amar a Jesus é amar a Deus e também os irmãos. Tarefa esta não muito fácil, sobretudo porque vivemos num mundo cada vez mais avesso à verdade, ao bem querer e profundamente marcado pela desigualdade social. A gente até pensa em desanimar e entrar na onda do “salve-se quem puder”. Todavia, esta não pode ser a lógica daqueles que entram na mesma barca com Jesus. Pelo contrário, somos chamados e desafiados a testemunhar a presença viva em nós de um Deus que nos criou para viver na plenitude da vida. Se contarmos somente com as nossas forças, não daremos conta de realizar esta difícil missão. Jesus também sabia disso, tanto que Ele se encarrega de nos enviar o Espírito Santo: “o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”. (Jo 14,26)

“É preciso que o Espírito Santo seja a vida do teu coração”. Assim nos alerta uma das grandes seguidoras de Jesus de Nazaré, a francesa, Santa Teresinha do Menino Jesus – Teresa de Lisieux, O.C.D. (1873-1897) O segredo do sucesso no seguimento de Jesus é deixar-nos guiar pela ação do Espírito em nós. O Espírito é a memória de Jesus Ressuscitado que continua sempre viva e presente na comunidade. Ele ajuda a comunidade a manter-se fiel e a interpretar a ação de Jesus em qualquer circunstância de tempo e lugar. É este mesmo Espírito que também leva a comunidade a discernir com clareza e se posicionar frente aos acontecimentos, para continuar o processo de libertação, distinguindo o que é vida e o que é morte, e realizando novos atos de Jesus na história.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.