Quarta feira da Quinta Semana da Páscoa. Mês de maio, mês de Maria, mês das mães. Quem não se lembra da sua mãe, com açúcar e com afeto? Foi no ventre dela que Deus plantou a sementinha que gerou a nossa vida, plasmando-nos para o seio do Cosmo. No aconchegante útero materno, gestando a vida, Deus nos ama infinitamente e nos chama pelo nome, conforme já nos dissera o profeta Isaías: “Por amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu te chamei pelo teu nome, pus o teu sobrenome, ainda que não me conhecesses”. (Is 45,4)
Nosso Deus é o Deus da vida! Vida plena para os seus! Deus que nos fez a sua imagem e semelhança e se compromete conosco, enviando o seu Filho Unigênito para ser um conosco. O Deus vivo que, “graças a Deus”, não se encontra recluso e confinado a um templo, nem a uma instituição, nem a determinada estrutura de religião, seja ela qual for: o lugar eminente do Ser e agir de Deus é a história e a vida. É Deus vivo presente na pessoa do Filho, que caminha conosco em nossa história de vida.
Deus que se fez presente na vida e no testemunho fiel do Padre Josimo Morais Tavares (1953-1986), que no dia de hoje celebramos o seu martírio. Padre Josimo foi assassinado aos 33 anos, por causa da sua luta intransigente em defesa da terra, dos pequenos agricultores e da Reforma Agrária, em Imperatriz, no Maranhão. Ele era o Coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Araguaia-Tocantins, mais conhecida como “CPT do Bico”. “O padre negro de sandálias surradas”, como era comumente reconhecido pelos lavradores. Seu nome e seu martírio tornaram-se o símbolo da luta pela terra no Brasil. Como ele mesmo dizia: “Se eu me calar, quem os defenderá?”
Padre Josimo trazia em si o “Ser Transcendente” de Jesus identificado com as causas dos pequenos, pobres e marginalizados. Gente da agricultura familiar sem terra, trabalhadores rurais sem vez e sem voz perante os “deuses do mercado”: latifundiários, agropecuaristas, madeireiros, grileiros. De saber que 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas advêm do trabalho da agricultura familiar: “se o campo não planta, a cidade não janta”. O sangue do Padre Josimo derramado, se misturando ao sangue de Jesus. Resistir! Insistir! Persistir sem desistir! Teimosamente como o nosso bispo Pedro, Padre Josimo, presente nas nossas lutas!
Ser com Jesus, ser como Jesus. Esta é a lição que a liturgia desta quarta tenta nos fazer acreditar como proposta de vida. Mais uma vez aparece no texto do evangelista João a expressão saída da boca de Jesus: “Eu Sou”, numa clara referência à tradução do nome pessoal de Deus no Antigo Testamento, no dialogo de Deus com Moisés a partir da sarça ardente: “Eu Sou o que Sou”. (Ex 3,14) Aliás, esta expressão de hoje aparece pelo menos sete vezes ao longo do Evangelho Joanino: “Eu sou o bom Pastor” (Jo 10,11); “Eu sou a Porta” (Jo 10,9); “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8,12); “Eu sou o Pão da vida” (Jo 6,35); “Eu sou o Caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6); “Eu sou a Ressurreição e a vida” (Jo 11,25); “Eu sou a Videira verdadeira” (Jo 15,1)
Pela sétima vez consecutiva Jesus define a si mesmo como “Eu Sou”. Uma expressão conjugada no tempo presente do tempo verbal. Eu “Sou”, e não “Eu era”. O Ser transcendente de Jesus definido como seu Ser de Deus e em Deus. Ser de Deus e nosso ao mesmo tempo. Seu Ser Transcendente Divino que diz respeito à eternidade, a soberania, auto-existência e auto-suficiência, a onisciência e onipresença de Deus em unicidade no meio de nós: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30)
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor”. (Jo 15,1) No Antigo Testamento, os judeus consideravam a videira como a mais nobre das plantas, como aquela que representava tudo quanto é poderoso e frutífero. Israel também se sentia representado por uma videira plantada por Deus na Terra Prometida. Desta forma, eles se achavam salvos enquanto estivessem ligados a Israel. Ao se referir a si como uma “videira verdadeira”, Jesus sente-se cultivado pelo próprio Pai e dá-nos a chance de sermos a folhagem ligada a este tronco que é Ele mesmo. Somente assim poderemos produzir os mesmos frutos de Jesus, uma vez que fazemos parte da mesma videira. Frutos de amor, na doação da vida, regados pela esperança do ressuscitado que se faz árvore da vida em nossas vidas. Frutos da árvore da amorosidade na perspectiva agostiniana: “Se tiveres amor enraizado em ti, nada senão o amor serão os teus frutos”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias