Fidelidade no testemunho

Segunda feira da Sexta Semana da Páscoa. Estamos chegando ao final deste período litúrgico pascal, caminhando para Pentecostes. Na semana que vem já estaremos celebrando a Festa da Ascensão do Senhor. A ascensão de Jesus significando que Ele agora está ao lado do Pai, reassumindo o seu lugar na glória, conforme os relatos de Lucas: “Enquanto os abençoava, afastou-se deles, e foi levado para o céu”. (Lc 24,51) De agora em diante, cabe aos seus seguidores darem continuidade à missão no anúncio de Jesus a todos os povos, provocando a transformação da história a partir dos pobres e oprimidos. Missão esta iluminada pelo Espírito do Pai e de Jesus, a “força que vem do alto”.

Dia 15 de maio. Se ontem celebramos as nossas progenitoras, hoje o dia é reservado às famílias. Comemoramos hoje o Dia Internacional das Famílias ou, simplesmente, o Dia Internacional da Família. Dia este definido e oficializado a partir de uma deliberação da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), celebrando e dedicando esta data às famílias, desde o ano de 1993. Dia especial para lembrarmos-nos do berço de onde fomos planejados e recebemos todo o carinho para sermos quem nós somos hoje. Família não é algo importante apenas, é tudo!

Para os que cremos, a família modelo é a Família de Nazaré: Jesus, Maria e José. A comunidade perfeita. A célula originária humana que fez nascer, crescer e desenvolver o Filho, como Verbo Divino encarnado em nossa realidade histórica humana. Fazer a experiência familiar hoje mirando na Família de Nazaré reforçada pelas palavras do Papa Francisco: “Cada família, como a de Nazaré, está inserida na história de um povo e não pode existir sem as gerações anteriores. E por isso hoje temos aqui os avós e as crianças. As crianças aprendem dos avós, da geração anterior”.

Ainda vivenciando esta semana pascal, continuamos ouvindo/refletindo o “Discurso de Despedida” em forma de oração de Jesus. Ao longo de quatro capítulos (14 a 17), o evangelista São João descreve para nós estas falas de Jesus. Uma mensagem específica de conforto, encorajamento e esperança, anunciando as promessas. São ensinamentos de Jesus direcionados ao seu discipulado sobre a vinda e as realizações do Espírito Santo. Tudo no sentido de preparar os seus para a sua partida e da necessidade deles seguirem testemunhando com fidelidade as causas do Reino.

O cenário não é nada animador, pois Jesus sabe que será perseguido assim como todos aqueles e aquelas que se colocarem a caminho com Ele. Ser seguidor fiel de Jesus é estar preparado para ser também perseguido como Ele foi. Um caminho feito de dificuldades, obstáculos e desafios. Historicamente, a primeira dificuldade enfrentada pelos primeiros cristãos foi o conflito com o judaísmo oficial, provocando a primeira perseguição e a morte dos primeiros mártires. Entre eles, estão Santo Estevão e São Tiago (cf. At 7,54-60; 8,1-4). Foi, inclusive, em função desta terrível perseguição que a Igreja se dispersou pela Samaria e Judeia.

O caminho percorrido pelos cristãos foi sempre marcado por perseguições e morte. O martírio está presente na espinha dorsal do cristianismo. Homens e mulheres que, na sua fidelidade a Jesus, deram suas vidas pelas causas do Reino. A vida das primeiras comunidades foi marcada pelo sangue derramado de gente que não arredou o pé, mas confiou no testemunho dos apóstolos, na centralidade da Eucaristia (partilha do Pão), na posse em comum dos bens, testemunhando a Ressurreição de Jesus, como está descrito no Livro dos Atos dos Apóstolos (At 2, 42-47).

“Vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo. Eu vos disse estas coisas para que a vossa fé não seja abalada”. (Jo 15,27; 16,1) A fé e o testemunho não podem ser abalados e intimidados pelo medo. Foi por este motivo que Jesus prometeu e enviou o Espírito Santo sobre os apóstolos e também sobre cada um de nós que com Ele caminhamos. O paráclito, palavra de origem grega, “parakletos”, que se traduz por “mediador”, “defensor”, “consolador”; aquele que está ao lado; que intercede: “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim”. (Jo 15,26) A força de Deus, a presença de Jesus e as luzes do Espírito Santo, na caminhada dos seguidores. Como vemos, não estamos sós nesta jornada. Fidelidade no testemunho com o coração em brasa, sentindo-nos como os Discípulos de Emaús: “Não ardia o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho?” (Lc 24, 32)

 

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.