As múltiplas faces do amor

Quinta feira da Sétima Semana do Tempo Pascal. A semana caminhando para o seu final, nos conduzindo para Pentecostes, uma das datas mais importantes do Calendário Litúrgico, juntamente com a Páscoa e o Natal. Estamos indo rumo ao Cenáculo, no Monte Sião, em Jerusalém, para recordar a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos, acontecimento que ficou conhecido como Pentecostes. Um marco importante para o cristianismo. Com a vinda do Espírito Santo, os discípulos se encheram de coragem e sabedoria. Era tudo o que eles mais necessitavam para anunciar e testemunhar o Cristo Ressuscitado aos quatro cantos do mundo.

Um dia importante para a história da humanidade. 25 de maio é comemorado o Dia da África. Um Continente milenar, com o maior número de países, etnias, povos e línguas, possuindo uma das maiores diversidades culturais do planeta. Foi nesta data, em 1963, que se criou a Organização de Unidade Africana (OUA), na Etiópia, com o objetivo de defender e emancipar o continente africano. É neste dia também que se recorda a luta pela independência do continente africano, contra o massacre da colonização europeia, que saqueou o Continente, e contra o Apartheid, um regime político de segregação racial que ocorreu entre os anos de 1948 e 1994 na África do Sul.

Já em casa, aos poucos, vou retomando a minha rotina, depois da maratona do bate e volta à capital do estado para uma reunião. São 1.200 km que castiga qualquer um dos mortais que o faz com os nossos ônibus disponíveis por aqui. O cansaço vem mesmo. Ficamos com um zumbido no ouvido, com o barulho do ônibus impregnado na cabeça. Nem foi possível comemorar os 6.6, como queriam alguns amigos, mas isto também faz parte da caminhada.

Minha oração da manhã foi dominada pelo clima introspectivo que tomou conta de Meu espírito nestes dias. Ao contrário das demais pessoas, aniversário é para mim um momento para refletir, avaliar e repensar o meu ser no mundo, e como estou dando respostas aos desafios que aparecem. Sempre tendo como pano de fundo a fé que professo, os princípios e valores que sustento. A idade vem chegando, e com ela a maturidade também, nos levando a relativizar muitos dos outros valores. Neste estágio da minha vida, estou com a serenidade suficiente para experimentar aquilo que Leonardo da Vinci (1452-1519) dizia: “O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã”. Consolo ou não, gosto de assim pensar.

Oração em forma de dialogo amadurecido e libertário com o Criador. Liberdade para estar a sós com Deus, num dialogo franco, aberto e sincero. Falar, sentir e ouvir os sinais dos tempos, que vão se manifestando no coração. Confesso que estou me sentindo um pouco “nietzschiano”, quando ele assim afirma: “Eu sou vários. Há multidões em mim. Na mesa da minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo. Sou a conjugação de muitos que fazem morada em meu ser e cada um deles é importante para definir quem realmente sou.

O amor tem destas coisas. O amor e as suas múltiplas faces. Ser alguém de amorosidade é ser pleno deste amor que vem de Deus, manifesta-se em Jesus e se estende à todos que o seguem. Amor que não é abstrato, pois amor abstrato é mero sentimento. Amor concreto que é serviço, doação, entrega. Não se ama com palavras, mas com atitudes, compromisso e comprometimento. Amor que se vive na integralidade da relação de quem se dá por completo ao outro. Amor guardado para si é narcisismo de alguém que se basta a si mesmo, numa necessidade permanente de admiração, acreditando que as outras pessoas são inferiores, numa demonstração clara de falta de empatia por elas e suas dores.

Nosso Deus é amor. Amorosidade, ternura e compaixão. Jesus é a expressão máxima deste amor de Deus para conosco. Um Deus que nos ama tanto, que envia o seu Filho para ser definitivamente um de nós, um conosco na nossa história. Gente como a gente. Uma relação de amorosidade plena de unicidade e solicitude. Onde está o Pai, está o Filho e vice-versa: “Para que todos sejam um, diz o Senhor, como tu estás em mim e eu em ti, para que o mundo possa crer que me enviaste”. (Jo 17,21) O amor de Deus está em nós. Resta-nos manifestar este mesmo amor, através de nosso testemunho concreto. Na unidade deste mesmo amor, somos o sacramento ou expressão da presença viva e atuante de Jesus, como o dom que o Pai concedeu às pessoas. Deixemo-nos conduzir pela essência do amor de Deus que se dá a todos.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.