Segunda feira da Oitava Semana do Tempo Comum. A semana iniciando e ainda continuamos embriagados com a presença do Espírito Santo de Deus em nós. Estamos bem acompanhados, pois no dia de hoje, celebramos a Solenidade de Maria Mãe da Igreja. O ser maternal de Maria sempre cuidando de tudo e de todos. Como dizem os Padres da Igreja: “há algo de feminino na Igreja, que é «maternal… a Igreja é feminina porque é igreja, esposa: é feminina e é mãe, dá à luz”. A Igreja que traz na sua essência o jeito feminino de Maria.
Ao afirmarmos que Maria é Mãe da Igreja estamos confirmando o seu papel fundamental na Encarnação do Verbo, gerando em seu ventre materno o Filho de Deus feito carne, oferecendo-o para a Salvação do mundo. Como afirma os escritos paulinos, “Cristo é a cabeça da Igreja”, (Ef 1,22) “nós seus membros”, (1Cor 12,27). Desta forma, se Maria é Mãe de Jesus cabeça da Igreja que é um corpo, não poderá deixar de ser também a mãe dos seus membros. Aliás, este foi um dos argumentos utilizados por Santo Agostinho, citado, inclusive na Constituição Lumen Gentium (53). Maria é mãe de todos nós pela graça de Cristo.
Maria, Mãe, mulher para todas as horas! Aceitou fazer parte do projeto libertador de Deus, oferecendo-se como serva do cuidado das coisas de Deus. Acompanhou passo a passo a trajetória de seu Filho, sendo um instrumento nas mãos de Deus. Levou a sério e com personalidade forte, entregando-se totalmente nas mãos de Deus, permitindo que Este, moldasse a sua trajetória de vida, num contexto em que as mulheres eram tidas como seres inferiores e não gozavam de boa reputação para aquela sociedade à sua época.
“Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38) Numa periferia desconhecida da Palestina, do poderoso Império Romano, uma jovem mulher também desconhecida, recebe em sua humilde casa a visita inesperada e desconcertante de um mensageiro de Deus que lhe faz um convite, esperando dela uma resposta: “O anjo entrou onde ela estava, e disse: Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está contigo!” (Lc 1,28) Uma revelação do amor generoso e gratuito de Deus para com aquela mulher pobre da periferia, pedindo-a que colaborasse na realização de Seu Projeto Salvador para a humanidade. Maria aceita e com o seu “Eis-me aqui!” generoso e total, se coloca decididamente a serviço d’Ele e dos outros.
O cenário apresentado pelo texto que a liturgia do dia nos apresenta hoje é desconcertante: “perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena”. (Jo 19,25) Uma situação trágica para qualquer mãe, ver o seu Filho injustamente pendurado numa cruz. Nenhuma mãe gostaria de passar por experiência semelhante. Jesus que está vivenciando os seus últimos instantes de martírio, mas anda encontra forças para dialogar com aquelas mulheres ali presentes: “Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo. (Jo 19,26-27)
O Filho do Pai sendo amorosidade em pessoa, assim como também é o Pai, mesmo num momento de profunda dor. Suas forças se exaurindo, mas com tempo suficiente ainda para demonstrar compaixão por aqueles que ali estavam sofrendo. Uma cena plena de forte simbologia, pois quando Jesus dá à Mulher o discípulo amado por seu filho, Maria recebe, por herança materna, a filiação de toda humanidade, ora representada na pessoa do discípulo João, tornando-se assim a Mãe amorosa da Igreja, gerada por Cristo com o envio do Espírito Santo.
A Igreja é feminina. A Igreja é mulher. A Igreja é Maria. O rosto maternal de Maria está presente na essência da Igreja. Mesmo dominada pelo patriarcado masculino machista e clerical, o Ser feminino de Deus está presente na Mãe, que é a espinha dorsal da Igreja nascente primitiva. Infelizmente deixamos que a “instituição” se sobrepusesse ao carisma e o jeito feminino da Igreja ser, sem a participação decisiva das “Marias”. Precisamos urgentemente voltar às origens da Igreja nascente e beber desta realidade do ser feminino de Deus presente na Mãe Maria. Como o evangelista São João mesmo nos mostra que é na relação mãe-filho, que a unidade e continuação do povo de Deus, fiel à promessa e herdeiro da sua realização. Maria, a legitima representante de todos os pobres que vivem esperançando.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.