Reflexão litúrgica: Quinta-feira, 01/06/2023
8ª Semana do Tempo Comum, Memória de São Justino, mártir
Na Liturgia desta quinta-feira da VIII Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Eclo 42, 15-26), um hino da criação a partir da palavra de Deus. O Deus de Israel é o Deus que tudo criou, todas as obras refletem sua sabedoria, sua ordem, sua beleza e seu amor. Assim como o sol brilha sobre toda a terra, assim também a glória de Deus reveste o universo.
No Evangelho (Mc 10,46-52), vemos que Jesus saiu de Jericó em direção à Jerusalém, Bartimeu, “cego e mendigo estava sentado à beira do caminho”, isto é, imobilizado pelas suas carências, sem horizontes, não sabe onde ir, totalmente dependente, está à margem da alegria de viver e conviver com dignidade. Mas, nisto, ouve dizer que Jesus estava passando; então, toma consciência de que Jesus está muito perto de sua vida, de suas dores, carências e sofrimentos. Começa a gritar: “Tem misericórdia de mim”. Como diz uma canção muito edificante para nossa alma: “Tenho esperado esse momento, tenho esperado que viesses a mim”.
O texto diz que “muitos o repreendiam para que calasse”. Aqui, vemos que a sociedade que manda o cego calar é a mesma que trama o fim de Jesus, não tolera quem vê a realidade a partir dos oprimidos, não se importa com os gritos dos que passam fome e que estão carentes de cidadania, não toleram a luta e a pressão popular; querem silenciar os profetas, pois vivem na total ignorância, com ódio no coração e cegueira moral. Querem que a miséria permaneça oculta, que não se mostre, que não perturbe. São os ricos na real miséria, cegos de Deus.
“O grito do cego é o mesmo grito do povo pobre e oprimido que incomoda os bem instalados, os que estão tranquilos na sua vidinha cotidiana e não desejam mais um competidor nos seus espaços e privilégios, os que se sentem ameaçados pela ascensão do pobre. A história de Bartimeu pode se repetir ainda em nossos dias quando nos opomos às conquistas dos marginalizados” (Pe. Nilo Luza, Folheto ‘O Domingo’, nº 50, 2015).
Mas, Bartimeu venceu os impedimentos daqueles que o mandavam calar-se. Jesus ouviu o seu grito, parou e mandou chamá-lo. “Deus ouve o clamor dos oprimidos, vê a miséria, conhece os sofrimentos e desce para ajudá-los” (Ex 3,7-10).
Graças a Deus, próximo ao cego, estavam pessoas solidárias (Pastorais Sociais) que, sensíveis à sua condição desumana, o chamam para uma experiência de Deus libertador: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama”. Então, ele rompe com a margem, salta para a vida nova, compreende que cegueira é não ter fé, não ver o Projeto de Deus que quer vida em abundância para todos e não só para uma pequena minoria que domina a imprensa de forma maléfica e impede políticas públicas de inclusão dos menos favorecidos. A iniciativa da fé fez com que recobrasse a visão e, iluminado e liberto, seguisse Jesus. Com isso, nos ensina que, por mais dura que seja a realidade, sempre é possível mudá-la para melhor.
Enfim, o princípio da fé é reconhecer a miséria, invocar a misericórdia e, alcançada a graça, seguir Jesus, multiplicando o bem. “Ele passou a vida fazendo o bem”. Neste sentido, Bartimeu é cada um de nós. Jesus nos ajuda a abandonar o ‘manto’ do egoísmo e da submissão às ideologias dominantes para nos tornarmos pessoas solidárias e comprometidas com um mundo melhor, mais humano e mais digno. Mesmo se já velhos, temos que, todos os dias, nascer de novo.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.