Somos chamados por deus e enviados em missão: “ai de mim se não evangelizar” (1Cor 9,16)

Reflexão litúrgica: Quarta-feira, 12/07/2023
14ª Semana do Tempo Comum

 Na Liturgia desta quarta-feira da XIV Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Gn 41,55-57;42,5-7ª.17-24a), José que fora vendido como escravo aos egípcios, pelos irmãos, pela providência divina e pelo seu tino administrativo, se torna vice-rei do Egito e, graças a ele, é contida a situação da fome do povo.

José não havia esquecido os seus, na Palestina, e a providência o leva agora a encontrá-los. Antes de se dar a conhecer aos irmãos invejosos de outrora, quer sondar suas disposições atuais para com ele e para com seu irmão Benjamim (também filho de Raquel). Submete-os, assim, a algumas provas, dolorosas para ele e para eles, mas que deviam convencê-lo de seu arrependimento e do afeto que dedicavam ao velho pai e ao irmão menor.

José vendido por seus irmãos, torna-se seu salvador. É espontânea a comparação com Jesus: também este foi vendido pelos seus e pelos mesmos motivos: inveja, ciúme etc. Semelhante também é a atitude: José, ao ouvir as palavras cheias de remorso dos irmãos, afastou-se deles para chorar; Jesus, enquanto o crucificavam, orou: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). José pode agora manifestar sua verdadeira identidade a seus irmãos, que reencontra arrependidos e mudados. José compreende que foi o único caminho que Deus escolheu para um dia salvar seu povo, de tal sofrimento proveio um grande benefício. Deus tem sempre um plano amoroso a nosso respeito, procura sempre salvar. Cumpre ter fé e confiar, mesmo quando não compreendemos o momento presente.

No Evangelho (Mt 10,1-7), é Jesus quem chama e envia os seus apóstolos para evangelizar. Nós, também somos chamados e enviados por Jesus para anunciar a paz e a vida nova num mundo ferido por muito sofrimento. Neste envio, as instruções são explicitas: mansidão, pobreza, ser portadores de paz, contentar-se com o que há, interessar-se pelos necessitados e anunciar o Reino; se rejeitados, repetir o anúncio; não se deixar levar por um entusiasmo fácil diante do sucesso; a única coisa válida é ser membros do Reino; enfim, estar convencidos de que o Reino não se constrói em um dia.

O que vai garantir o sucesso da missão não será a abundância de poder econômico, nem na força mediática, mega shows, aparência estética, muitas rendas, fumaça, espetáculos etc. Não podemos achar que a força da evangelização está na ‘teologia do pano, na liturgia da fumaça e na pastoral do espetáculo’. Alguém já dizia: “Quanto mais pobre o circo, mais enfeita-se o palhaço”. O próprio modo de viver, na simplicidade, já é suficiente para dar testemunho de Jesus Cristo: “Ordenou-lhes que não levassem coisa alguma para o caminho”. Um mundo melhor possível, sempre será fruto do próprio Deus que toca na interioridade humana. Não adiantaria termos uma inteligência excelente, uma perfeita organização pastoral, empenharmos todos nossos esforços e recursos possíveis se não contássemos com a ajuda e a graça de Deus: “Se Deus não construir a nossa casa em vão trabalham os operários” (Sl 126). A bíblia nos dá essa conscientização e no Documento de Aparecida (246ss) quando fala da formação dos discípulos missionários a Sagrada Escritura ocupa um lugar de destaque na construção de um mundo melhor possível a favor do ser humano, como já dizia o Papa Paulo VI: “O homem poderá construir um mundo sem Deus, mas sem Deus construirá contra o próprio homem” (Populorum Progressio, 42). Um mundo melhor possível será sempre obra do próprio Deus que age na vida de seus filhos e filhas.

Hoje, também, Jesus nos envia em missão para viver a caridade, sentir os desafios de viver em comunidade, não somos nós que escolhemos a direção, a missão não deve ser um peso, mas um gosto, um prazer: “Eis que venho, com prazer faço a vossa vontade!” Por isso não podemos abandoná-la por qualquer motivo, mesmo quando rejeitados: “Se em algum lugar não vos receberem nem vos escutarem, saí dali e sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra eles”. Dos destinatários da missão se requer a acolhida ao missionário como enviado de Deus e a docilidade à Palavra divina por ele proclamada, caso contrário fecha-se para si mesmo o caminho da salvação.

Para concluir esta reflexão, coloco algumas características da missão de Jesus e de seus discípulos: “Eles partiram… pregavam a conversão, expulsavam demônios e curavam doentes”.

1º) Mudança radical – conversão;

2º) Desalienar as pessoas – libertar dos demônios;

3º) Restaurar a vida – curar as pessoas;

4º) Estar consciente que a missão vai provocar choque com os que não querem transformação da realidade.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.